Minhas sinceras desculpas

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Camila: Tá legal, tá legal... Eu já sei. Vou pedir demissão. – Soltei um sorriso amarelo para Dinah.

Dinah: Você poderia levar mais a sério isso tudo. – Nos entreolhamos. Respirei fundo e meditei por alguns segundos. – Olha, talvez estejamos sendo precipitadas. Vai por mim, Lauren não é tão criança assim. Pra começar... Vocês se tornaram amigas, não é mesmo? Não há um porquê desse medo. – Cocei a ponta do nariz, um gesto de dúvida, eu diria.

Camila: Tudo bem. Quer saber? Eu nem ligo mais, só de ter trabalhado o tempo que eu trabalhei na Sparksmaster já é um diferencial. – Posso falar isso, porém, todos sabem o meu desespero interno.

Dinah: Veja pelo lado bom... Na verdade, não tem lado bom. Empatia, não acho justo diminuir a sua dor, mas eu queria fazer um comentário idiota, tenho permissão? – Pensei que estávamos tentando levar tudo a sério. Encarei Dinah por alguns segundos, refletindo se valeria à pena ouvir um comentário idiota.

Camila: Não sei se estou disposta, mas... Manda a ver. – Cerrei os olhos e aguardei a resposta.

Dinah: Pelo menos a Lauren é apaixonada por você. – Meu detector de comentários idiotas explodiu.

Camila: Eu devo comentar sobre? Eu vou ficar em silêncio, quem sabe assim eu não precise expor o meu pensamento, que diga-se de passagem, será bem ofensivo. – Dinah soltou um leve sorriso.

Dinah: Conversou com ela ontem? – Ela parou para observar o refeitório da fábrica, parecia procurar Lauren.

Camila: Então, ontem ela estava bem agoniada. Houve uma insistência da minha parte para que ela fosse descansar. – Olhei para o lado, depois para Dinah. Queria focar em algo fixo. Lá estavam elas, minhas mãos.

Dinah: Se você olhar para trás agora, tente não se assustar, fica esperta. – Ela diminuiu o tom da voz. Mantive meu olhar fixo sobre a mão. Ouvi passos se aproximarem da mesa, pelo som que emanava, era possível definir quem era a pessoa.

Lauren: Bom dia! – Com o olhar ainda fixado em minhas mãos, retribuí o cumprimento de Lauren.

Camila: Bom dia. – Mal se ouvia minha voz. Não tive a menor coragem de olhar a mulher que acabara de sentar à mesa.

Dinah: Bom dia! Laur... Tudo bem? – Dinah não olhava diretamente à ela, estava limpando as unhas em sua blusa. Ah... pronto! Ninguém vai olhar a Lauren. Passaremos o dia inteiro evitando contato visual com ela, e por quê? Por receio.

Lauren: Bom dia! Estou bem sim, e vocês? – Me distraí com uma série de pensamentos. Eu devo contar para Lauren, devo sim. Uma pequena análise de como vou contar à ela é o mínimo que tenho de fazer. Respirei fundo, meu foco inteiro foi para meus pensamentos. Preciso ser sincera... Vou explicar o motivo por ter omitido a verdade à ela. Ela vai se casar com Veronica, isso já é uma boa justificativa. Se eu tivesse de contar tudo, deveria contar inclusive a parte dos pais de Veronica.

Lauren: Mila...? Está bem pensativa. – Me vi totalmente presente naquele momento, meu foco veio e se manteve perante Lauren.

Camila: Eu quero falar com você, o mais rápido possível. – Dinah arregalou os olhos, uma expressão de horror total.

Lauren: Pode falar, estou à sua disposição. – Dinah balançou a cabeça, não parecia aprovar minha atitude.

Dinah: Normani acabou de me mandar mensagem. Surgiu um pequeno problema na fábrica de salgadinhos. Bom, estou indo para lá. Bom café da manhã para vocês duas. – Dinah saiu em silêncio. Olhei ao redor para certificar que se havia mais alguém no refeitório. Nada, apenas Lauren e eu.

Camila: Eu quero te pedir desculpas. – Lauren estava cortando um pequeno pedaço de pão, ela cessou o ato no mesmo momento e dedicou toda sua atenção para mim. – Olha, Lauren, eu sei que está passando por um momento difícil, eu não deveria ter escondido de você. E-eu... Eu... Eu sabia de tudo sobre o seu pai. – Lauren mastigava lentamente a comida em sua boca, estava com os olhos sobre mim e parecia analisar tudo o que eu acabei de dizer. Me pus a falar novamente. – Eu achei que o seu pai tinha aberto o jogo. No dia em que confrontei ele, ele me explicou tudo. Eu exigi que ele te contasse, mas...

Lauren: É... Ele não contou. – A mulher me interrompeu. Eu perdi o fio da meada. Minhas mãos começaram a tremer, meus olhos piscavam freneticamente. Ela percebeu o meu nervosismo e permaneceu em silêncio, me dando uma deixa para prosseguir.

Camila: Você vai se casar com Veronica em breve. Não te contei nada, pois o pai dela está envolvido no escândalo de corrupção. Eu não podia arruinar o seu sonho de se casar com ela... Eu sei o quanto você à ama.

Lauren: Você sabe sobre a minha constante indecisão. Você sabe que estou em dúvida, sabe que inclusive você é um dos motivos. – Arregalei os olhos. Meu corpo inteiro sofreu com um arrepio. – Eu não sei mais o que sinto por Veronica. Vou me casar sim, mas não tinha o direito de me esconder isso.

Camila: Eu sei que não, Lauren. Mas é o seu pai, ele deveria ter te contado. Ele é o seu pai, é também o meu chefe.

Lauren: Eu também sou. Está demitida. – Apática. Não tive nenhuma reação, apenas observei a mulher. Talvez a dúvida que pairava no ar, era: Ela está certa disso?

Camila: Eu... Acho que não há como te confrontar. Já fiz o que eu pude para permanecer aqui, não posso insistir mais nisso. – Respirei fundo. Lauren olhava para um ponto fixo ao chão, não ousou me olhar, parecia ter se arrependido do que havia acabado de fazer. Seu semblante era de decepção, como se tivesse ouvido a pior notícia de sua vida.

Lauren: Eu sou uma idiota. Não precisa me dizer nada, não é justo com você, mas tem uma série de motivos. Não é apenas por isso, Camila. Eu estou confusa com relação aos meus sentimentos. Estar próxima a você está me afetando, afetando no meu relacionamento. Sabe o que é pior? Eu traí quem eu jurei amar, quem eu jurei cuidar. Eu estou dividida. – Meus olhos se encheram de água, minhas mãos tremiam, minha respiração era rápida e falhava. – Perdoe -me, eu só preciso de um tempo longe de você. – A voz dela estava falha. – Eu sinto muito! – Seus olhos se encheram de água, a garota mal conseguia falar. – Eu consegui estragar tudo.

Camila: Você não tem que se desculpar. – Disse entre soluços. Permaneci calada observando Lauren. Eu não sinto o mesmo por ela, mas tenho consciência do que fiz. Deveria ter me afastando no primeiro momento, eu notei a diferença nas atitudes dela. – Eu vou fazer o possível para que não se machuque, muito menos as pessoas a quem você ama. – Ela se debruçou na mesa e soltou todo o choro entalado. Eu apenas observei por um longo tempo.

Lauren POV

Como ainda consegue ser tão nobre? Eu acabei de tirar o mais importante que ela tem, tirei o que ela sempre lutou para ter. Eu sou uma idiota, egoísta. Ainda assim... Camila consegue ser a melhor pessoa para mim, não só para mim, mas para Veronica e até mesmo meu pai. Não sentia a menor coragem de estar perto dela. Eu realmente não mereço nem a amizade dela.

Ouvi a mulher se levantar, ouvi seus passos até se misturarem com o barulho ambiente. Eu havia de escolher, escolhi Veronica e perdi uma pessoa querida. Camila não era uma pessoa qualquer, era a melhor pessoa que eu havia conhecido. Ver ela ir embora foi a coisa mais agonizante que já sentira. Mantive meu rosto abaixado e chorei com toda vontade. Ao menos isso eu ainda tenho direito, chorar pelos meus erros... já que concertá-los não está ao meu alcance.

Eu odeio a minha chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora