Complexo de autoafirmação

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Dinah: Está esperando a Camila aparecer aqui e descobrir que mentiu? Vaza! – Funcionário falar assim com o chefe, isso é incomum.

Lauren: Queria lembrar meu arrependimento de te dar liberdade, se não tivesse dado, não estaria falando dessa forma comigo. – Todas riram, exceto eu, a vítima.

Normani: Vai logo ver o que a Camila quer, aproveita que ainda consegue mandar nela. – Talvez não por muito tempo, mas ainda consigo.

Depois de andar quase pela fábrica inteira, finalmente cheguei no prédio administrativo, difícil agora é fazer uma pose de santa e fingir que não estou planejando nada. Observei o ambiente e tentei localizar a moça que me aguardava, mais provável que esteja em minha sala. E lá vamos nós! Bingo! Bem na minha sala, junto à Ally.

Camila: Finalmente, achei que não viria. – Me aproximei já questionando.

Lauren: O que você quer? – Ela sorriu e me entregou um panfleto. Nele estava um endereço, para ser mais precisa, era um “cartão anúncio,” estava mostrando uma floricultura e tudo. – Por que isso?

Camila: Ah... É a floricultura, lá é bem bonito, as flores também. Vem comigo, depois daqui eu vou passar lá para ver se compro umas flores, seria legal se você fosse e decidisse sobre o buquê do seu casamento. – Buquê do meu casamento, certo. Quanta preocupação com isso, chega até ser cômico. 

Lauren: Camz... Poxa, amei o convite, claro! Eu só queria ressaltar que você não precisa se preocupar com a cerimônia do meu casamento, não quero que mais alguém se estresse. – Talvez eu tenha sido um pouco grossa, nada além do necessário.

Camila: Claro, eu sinto muito por isso. Não quero me intrometer na sua vida pessoal, apenas achei interessante falar sobre. – Ela abaixou a cabeça. Bom, isso foi um sinal, realmente fui grotesca.

Lauren: Eu entendo a sua preocupação como amiga, ou melhor, como uma pessoa próxima à mim. – Será que fui grossa de novo? Agora já era. – Eu só... Só não tenho tanta certeza sobre esse casamento. – Ela balançou a cabeça, já sabendo do que se tratava.

Camila: Seu foco precisa ser outro, Laur... Vai acabar machucando quem te ama, isso não é nada bom. Enfim... Não vou me intrometer na sua vida, já está claro para mim que você não me considera sua amiga. – Essa é a realidade, não amiga, um pouco mais do que isso.

Lauren: Eu aceito ir para a floricultura com você, aceito um buquê de flores também. – Dei uma risada tímida.

Camila: Ergh... Flores são clichês demais, vou te dar um porta-retrato, na legenda vai estar escrito: Trouxa. – É importante relembrar que posso demitir ela a qualquer momento.

Lauren: Vai lembrar disso quando ver o seu contracheque. – Ela engoliu em seco. Tão bom chantagear meus funcionários... Satisfação aspira.

Camila: Sinto saudades de trabalhar para o seu pai, ele não fazia tanta chantagem assim. – A expressão de desgosto em seu rosto, fora uma das mais fofas. – Teremos tantos conflitos, não sinto uma relação saudável entre nós duas. Isso é preocupante. – Eu ter conflito com Camila? Que blasfêmia! Nunca ouvi tanta besteira em apenas 20 segundos. Jamais faria algo para prejudicar minha colega de trabalho, sou claramente uma pessoa de caráter, cuja a ética está acima de todos os valores e...

Lauren: Concordo. Vou fazer o possível para não te prejudicar, mas caso aconteça, saiba que me esforcei para que isso não acontecesse.

Camila: Aham, claro, nunca duvidei do seu esforço para com a minha pessoa. Claramente a sua empatia excede o seu ego e a sua arrogância, nunca critiquei. – Começamos o show de ironia.

Lauren: Sim, sempre optei pelo melhor para você. Já me viu te tratar com falta de respeito? Jamais! – Ouvi alguns passos se aproximar.

Ally: As duas princesinhas vão parar? Esse show de falsidade está contaminando o ar, já estou começando a ouvir Taylor Swift e daqui uns dias farei músicas difamando vocês. – Camila riu.

Lauren: Não achei engraçado, por que riu? – Olhei para Camila.

Camila: Só estava querendo mostrar meu clareamento, não achei engraçado, pelo contrário... Que petulância, falar mal da artista da sua chefe, vai se lembrar disso quando receber o seu contracheque.

Lauren: Parece que ter contato comigo, te fez uma pessoa bem preparada, Camz... Sabe até argumentar contra haters.

Camila: Não gosto da Taylor, só queria amenizar a situação. – Abri e boca e forcei minha minha mandíbula para o lado esquerdo.

Lauren: Foi explícito, não era necessário essa observação banal. – Nos entreolhamos.

Ally: Parecem duas velhas conversando. Isso é um complexo de autoafirmação das duas? Podem continuar com as palavras bonitas que não são pronunciadas no cotidiano, acabei de pegar um caderno para anotar o significado de todas.

Camila/Lauren: Cala a boca! – Puff... Eu não preciso me autoafirmar para ninguém, todos sabem o meu cargo e minha responsabilidade.

Ally: As duas tem até sincronia, podem ser irmãs que foram separadas na maternidade. Parecem até na forma de esnobar.

Camila: Esnobar? Há uma pequena falta de nexo, pequena não, a falta de coerência foi abundante.

Ally: Não é necessário tanta formalidade, não comigo, fale normalmente. – Aquela implicância básica com formalidade.

Lauren: Ambiente profissional, formalidade total. – Encarei Ally.

Camila: Formalidade total é o meu pau! Cansei, não vou ficar com essa formalidade toda com vocês, e não, não estava querendo me autoafirmar. – Ally aplaudiu a atitude de Camila, eu fiz de conta que não ouvi essas palavras deselegantes. – Vai ferir o ego da babaca aqui, então deixemos que ela continue falando como uma velha de 76 anos. 

Lauren: Teu cu! Quer saber? Vocês não merecem a minha formalidade e profissionalismo, quero que se fodam. – Mais aplausos, agora vindo não apenas de Ally, Camila também entrou na onda.

Ally: Agora vocês podem sair da sala e me deixar trabalhar, porque as duas estão me atrapalhando. – Por isso sempre dizem para manter a relação amigável, longe da profissional, ela nunca me diria isso há um tempo atrás.

Camila: Claro, eu já estava de saída. Aposto com toda certeza que Lauren também, então... Até mais! – Fui puxada pelo braço até a saída. – Você vai para a floricultura e não tente mudar de ideia. – Retirei com delicadeza meu braço de suas mãos.

Lauren: Eu já te dei um sinal verde, vou com você sim. – Ela me soltou um sorriso malicioso.

Camila: Sinal verde? Isso me parece um código para preliminares. Adorei, pode continuar. – Dei um tapa em minha própria testa, ridicularizando aquela situação.

Lauren: Não consegue, né? Precisa ser idiota pelo menos uma vez no dia, se não, não seria Camila Cabello. – Ela continuou com a risada.

Camila: Não há alguém melhor do que você pare me afirmar isso. – Ela olhou para trás e analisou. – Ally tirou você da sua própria sala? Realmente, não se deve misturar relações amigáveis com profissionais. – Obrigada por me relembrar o óbvio.

Eu odeio a minha chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora