"Aceito, se vem de você"

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CamilaPOV

Camila: Às seis horas, esteja no estacionamento. Seis em ponto! Se você atrasar, vou voar no seu pescoço. – Fui surpreendida pela atitude da mulher, ela mordeu os lábios e me encarou. – Não entendi o que você quis expressar com isso, mas tudo bem.

Lauren: “Voar no meu pescoço.” Interessante... – Entortei a boca e franzi a testa. Até onde a mente dessa garota pode ir?  

Camila: Não era para ser com teor sexual, você sempre interpreta da pior forma possível. – Me silenciei ao lembrar que minutos atrás, fiz uma leve piada com cunho sexual, espero que ela não se recorde.

Lauren: Olha quem fala... – A DESGRAÇADA LEMBROU! Enchi minhas bochechas de ar, segurei por alguns segundos e soltei tudo de uma vez. - ... Vamos trabalhar, não é? Vou retornar à minha sala. – É, vamos trabalhar, como diria a minha mãe. “Trabalhe para ser rica, porque além de feia, você não vai querer ser pobre.” Sábias palavras de uma mulher independente, empoderada e mãe de uma excelente filha, não é mesmo? Claro que me refiro à minha irmã, porque todos sabem que não sou essa coisa toda.

Camila: Bom, vou indo nessa. Não se esqueça de estar às 18 no estacionamento, sem atrasos. – Acenei para me despedir, logo em seguida me retirei do recinto. Andei pelo local e vi Ulisses se aproximar, não é tão comum ele andar pela fábrica, ele deve estar realmente ocupado, faz sentindo me pedir para levar as flores à garota.

Cheguei o mais próximo possível, pretendia tentar me comunicar com ele, talvez não seja uma boa hora para um diálogo, ele realmente aparenta estar ocupado. Não tem problema, mais tarde tento dar uma palinha com ele. Andei por alguns segundos até finalmente chegar onde queria, PCM. Sentei em minha mesa e olhei o relógio. Uma boa hora para começar a adiantar toda a programação.

Organizei todas as manutenções nas planilhas, gerei o máximo que consegui e deixei separadas para programar aos técnicos, o de sempre, nada novo. Para minha alegria, euforia e outros sentimentos, já são quase 17:45 horas. O que isso significa? Significa que são 17:45, óbvio. Hur dur! Hora de organizar minhas coisas.

Peguei minha mochila, coloquei todas as minhas coisas e desci até a saída. Espero encontrar Lauren no estacionamento, esse foi o nosso combinado. Passei pela saída e fui para o estacionamento no subterrâneo. Admirável! Ela estava me aguardando, não da para acreditar que ela é pontual.

Lauren: Dezoito e cinco, pensei que fosse mais pontual. Como conseguiu entrar na SparksMaster? – Ah... Não vou retrucar, sou melhor do que isso.

Camila: O “x" da questão, é: Eu te chamei para sair, não você. Posso atrasar o quanto eu quiser. – Viram? Sem retruco. Me orgulho por ser uma mulher paciente, maleável.

Lauren: Okay, esse foi o pior argumento que já recebi. Como pretendo manter um ambiente pacífico, sem conflitos, parcimônia total, vou engolir.

Camila: Legal, trégua, eu aceito o seu pedido. – Ela aguardou até que eu destrancasse meu carro, poderia ser educada e abrir a porta para que ela entrasse, porém não é do meu feitio, afinal ela tem mãos.

Lauren: Não vai abrir a porta? Pensei que fosse mais educada. – Cerrei os dentes e semicerrei os olhos.

Camila: Claro, a gente pode fazer o seguinte: Eu abro para você, você para mim, topa? – Ela revirou os olhos.

Lauren: Não. – Curta e grossa, nada novo, pelo que conheço da personalidade e educação dela.

Camila: Então mova os seus músculos e abra a porta para você, faça jus à essa mulher independente e empoderada que és. – Ela não rebateu, apenas abriu a porta e entrou.

Lauren: Onde é a floricultura? – Peguei minha mochila, estava à procura do cartão, até recordar que entreguei o cartão para ela.

Camila: Te entreguei um cartão com o endereço, tinha até mesmo o número, ao menos olhou onde era? Que falta de interesse.

Lauren: Você me levaria logo depois, não perdi meu tempo e disposição com isso. – Uma atitude mais rude que eu já presenciei, ela colocou os pés sobre o painel do carro.

Camila: Perdeu o senso, só pode. Tira o pé daí, por obséquio. – Ela revirou os olhos e entortou o pescoço para esquerda. Fechei minha cara, ela bufou ao ver que não ligaria o carro enquanto ela estivesse com os pés alí.

Lauren: Tá bem! Preferiria ir no meu carro. Te colocava para dirigir e colocaria o pé onde eu quisesse. – Uma Mercedes? Sabe que não acho essa ideia ruim...

Camila: Argh... Okay, quer ir no seu? Vamos nele então. – Fiz o meu charme diário, agora tenho que mantê-lo. Farei de conta que estou detestando a ideia, porque todos sabemos que sou uma mulher difícil.

Lauren: Ele está no estacionamento lá em cima, dirige até lá, não quero subir lá andando. – Ah... Sério?

Camila: Achou? – Ela olhou, esperando que eu terminasse de falar.

Lauren: Achar o quê? – Nos entreolhamos.

Camila: A vergonha na cara que te falta, achou? Porque você é uma cretina, né... – Ela se retirou do carro e pôs se a andar. Parece que deixei alguém irritada, sem problemas, não ligo. Liguei o carro e acelerei até alcançar Lauren. – Entra! – Fui ignorada. – Lauren, sem brincadeiras, entra! – Ela deu de ombros. – Lauren! – Gritei. Ela nem sequer olhou para mim. -Se entrar, te compro flores. – Ela parou por alguns segundos.

Lauren: Quero as mais caras, não aceito nada barato. – Bati minha cabeça contra o volante, consequentemente acionando a buzina. Ergui a cabeça novamente e fixei meu olhar sobre a mulher.

Camila: Eu só acho engraçado... – Respirei fundo. – Que a jovem mulher à minha frente, para não falar algo pior, não gosta de flores. – Ela sorriu.

Lauren: Tem razão, mas de você eu aceito, principalmente quando sei que serão as mais caras. – Enchi minhas bochechas de ar e soltei em seguida.

Camila: Certo, certo... Agora faz o pequeno e mínimo favor de entrar. – Ela abriu um sorriso sutil.

Lauren: Depois de receber um beijo, quem sabe... – Mordi o lábio com força, meu desejo é dar um tiro nessa linda mulher, porém como sou uma mulher controlada.

Camila: Te dou 3 segundos para entrar, pelo contrário, você vai ficar para trás, sem carona, sem rosas e sem a minha presença. Entra agora! – Parece que a convenci, e da maneira mais civilizada possível, é, não fui tão má.

Lauren: Nenhum beijo? – Apoiei meu cotovelo sobre a janela do carro, escorei meu rosto sobre meu punho.

Camila: Vem cá, Verônica sabe que você da em cima dos seus lindos funcionários? Me empresta o seu celular? Pra eu constatá-la e deixar claro a ordinária que você é.

Lauren: Funcionários? Se estou falando com você. Não, não vou te dar o celular, é apenas uma brincadeirinha, idiota.

Camila: Já entrou no carro? Não, né? Então entra! – Retirei meu cotovelo, e posicionei minhas mãos ao volante.

Lauren: Eu ainda tenho a reputação de mal educada, incrível... Você é bem mais do que eu. – Forcei uma tossida, para caçoar o comentário.

Camila: Já pagou todo o seu papelão esdrúxulo, agora vamos. – Finalmente a mulher entrou. Ergui minhas mãos aos céus, em forma de agradecimento. – O tempo que perdi te convencendo a entrar na porcaria do carro, daria para irmos e voltarmos mil vezes.

Lauren: Você e suas hipérboles, sempre excêntrica. Vamos logo com isso!

Eu odeio a minha chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora