Fifteen

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Pode ser que ler aquele "capítulo" do diário de Ainê tenha me derrubado mais um pouco. Li mais alguns outros que falavam de sua rotina e o de alguns dias atrás, que certamente ela havia escrito na manhã seguinte.
Saber toda a história de seus pais, como deve ter sido difícil para sua mãe ter que lidar com a morte do marido e, logo, o nascimento de um filho. Nunca imaginaria que aquela menina, cabelos negros e olhos verdes, cheia de energia, alegria, que muitas vezes animava minha mãe pelas tristezas que eu lhe causava, guardava tanta mágoa. Acredito que ela tenta camuflar a falta do pai com um sorriso no rosto, e agora está tendo que viver uma realidade praticamente igual, mas que talvez faça sentido para ela.

POV ESMERALDINA
Bem, como eu poderia explicar minha família? Não tive uma infância/adolescência agradável, a situação de minha família era absurdamente precária, a terceira filha entre 4 irmãos, muitas vezes precisava guardar o dinheiro do lanche para poder voltar até minha casa por meio do transporte público.
A única de minha família que consegui ingressar em uma faculdade, logo de cara, aos 17 anos, fim do ensino médio.
Medicina é o sonho de muita gente, era o meu também, mas em uma realidade totalmente distante. Eu dependia de concursos e vestibulares, mas não tive como me preparar para isso. Na época não existiam cursinhos preparatórios, aulas extras ou ajuda de professores para tal prova, era cada um por si, e nessa, consegui ingressar na faculdade de direito.
Hoje sinto que no fim das contas era isso o que eu queria, não me vejo mais como uma doutora Esmeraldina dentro de um consultório médico, mas sim como doutora Esmeraldina em uma audiência por um processo da vara da família.
Aos 28 anos, com uma renda estável, eu e José nos casamos e logo decidimos nos mudar para os Estados Unidos. Você deve estar pensando como fui egoísta em abandonar meus pais, mas lhe garanto que até hoje, grande parte de suas rendas mensais são de minhas transferências bancárias. Meus irmãos têm profissões variadas, professora, militar e lojista.
Não tenho absolutamente nada para reclamar de minha vida, a não ser o fato de que me perdi durante a criação de Philippe, meu tão desejado primogênito.

Philippe nasceu aqui, nos Estados Unidos, foi muito desejado e sempre saudável. Dois anos depois nasceu Thaís, nossa menina, nossa caçulinha. Ambos sempre foram companheiros, brincavam e davam boas risadas, faziam fotos e exerciam muito bem seus trabalhos como modelos mirins, mas como o tempo, nosso primogênito, o filho mais carinhoso foi se tornando frio, passou a sair escondido e vivia em más companhias. Já não tenho mais controle, e sinceramente não sei onde errei.

Nunca fui o tipo de mãe conservadora, que proíbe de seus filhos saírem ou serem mais livres, mas sempre quis sabem onde iam, com quem, que horas voltavam, e com o tempo Philippe passou a não me dar tais informações, como já tinha mais de 16 anos, simplesmente pegava um de nossos carros e saía, me fazendo perder o controle de meu próprio filho.

Hoje em dia ele sai sem avisar, as vezes volta logo e as vezes somente no dia seguinte, coração de mãe nunca aguenta, Deus sabe quantas vezes dormi em prantos, ou então nem dormi, e infelizmente estou me acostumando com essa situação, pois sinto que está tarde demais para tentar mudá-lo.

Acredito que um dos meus maiores medos, seja, como advogada, ter que administrar um caso envolvendo meu filho, e certamente, não seria um caso afim de inocentá-lo.

POV AINÊ
Primeiro dia de curso, estou absurdamente empolgada! Conhecer gente nova, métodos de ensino novos, experiências, não cabe em mim tamanha alegria. 
Ontem durante a noite fui arrumando minhas coisas, coloquei meus materiais dentro de uma mochila, arrumei tudo de forma prática e não lotei de coisas para não me enrolar na hora de copiar a matéria, já deixei pendurada na porta do guarda-roupa uma calça jeans cintura alta e uma camiseta mais justa para colocar por dentro da calça.

Acordei a mil nesta manhã, exatamente as 6:45, tomei um banho rápido, desci para tomar um café da manhã, dessa vez feito pela empregada - sim, Esmeraldina contratou uma nova ajudante - e subi para me arrumar. Coloquei a roupa, fiz uma maquiagem bem básica, só para esconder algumas espinhas que insistem em aparecer e então desci.

A Estranha Perfeita - PhilnêOnde histórias criam vida. Descubra agora