XI - DÚVIDAS

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            Um grande lago refletia o céu azul com suas volumosas nuvens brancas. Nas margens floresciam flores azuis, onde abelhas coletava seu néctar. Mas adiante se encontravam arbusto floridos, rochas cinzentas de encontro a uma floresta com árvores variadas, de um imenso verde até o encontro de gigantes montanhas com o cume coberto de neve. Aquele lugar era o paraíso para as almas perdidos, para ditas cujas, ameaçadas, sem rumo, sem um descanso. Lânafh — O mundo criado no plano austral por Luciano Antunes.

Um sujeito surgia entre as árvores de Sana — as extintas árvores revividas nesse lugar —, com os cabelos cobertos pelas flores amarelas. O homem azul pisava no chão gramado com os seus pés descalços, suas vestes brancas se iluminavam no ambiente ensolarado. Ele parecia frustrado, sua face se refletia no espelho d'água do lago. Sentou-se em uma rocha nas margens e abaixou a cabeça.

— Quando eu criei esse lugar nunca imaginei encontrar uma face triste.

O homem azul levantou a cabeça ao reconhecer aquela voz de sotaque forte e inconfundível.

— Antunes... — Ele falou, quando ao seu lado no reflexo da água surgiu o semblante do gato preto.

— Jovem Lú Ecss, creio que não obteve sucesso em sua busca.

Lú franziu o cenho e olhou diretamente para o Luciano Antunes.

— Eu a procurei por todas as partes, mas... Ela parece que não está aqui. Tem certeza que esse mundo salva as almas? E se ela não foi para um outro lugar?

O gato sentou-se e levou a sua visão para a água.

— Já resgatei muitas almas, principalmente almas confusas, perdidas, de criaturas místicas que possam ser vítimas do meu filho, como aconteceu com você. Mas claro, diferente de você, as almas mortas se direcionam sozinhas para cá, seguindo um curso natural que eu implementei. Mas como te expliquei uma vez, nem todo ser místico possa haver alma.

— Mas... Samy havia se tornado humana, toda criatura do plano físico possui alma!

Luciano parou por uns segundo, tentando elaborar melhor as suas palavras e não deixar o feiticeiro azul tão confuso.

— Talvez seja difícil para você aceitar. Não foi o amor de Samy por você que a transformou em humana, isso nunca fez sentido. Foi o meu filho. Ele a manipulou desde o início e pelo visto, ele conseguiu evoluir o seu poder a ponto de transformar um ser místico como Samy em humana. Mas... com o passar do tempo, isso custou a vida dela. Como uma troca, a vida dela foi levada quando deu a luz. Talvez um deus pudesse fazer isso permanentemente, mas não um semideus. Nem eu mesmo conseguiria.

Lú tentava absorver aquela informação. Ele estava há tanto tempo em busca pela alma de Samy que nunca parou para pensar que Haiko estaria envolvido na transformação da sereia. Ele a havia usado o tempo todo, a manipulado, a fazendo acreditar estar apaixonada por ele. Lú sentia que tudo o que tinha vivido com ela teria sido uma farsa. Mas de qualquer maneira, os seus sentimentos por ela eram verdadeiros.

— Então... Ela morreu realmente, não existe...

— Samy pode ser uma criatura mística sem alma, mas isso não quer dizer que ao morrer ela deixe de existir. Eu nunca pensei que criaturas místicas pudesse morrer, mas Isth criou a evolução espiritual. Por mais que Samy não tenha alma, ela sempre irá renascer, a cada renascimento sua alma inexistente poderá evoluir até ela se encarnar.

— Você quer dizer que a Samy está viva?

— Provavelmente. Mas não mais como uma criatura do plano espiritual, mas sim algum ser do plano físico. E não digo de um ser pensante, é um processo demorado para se ter um espirito evoluído a esse tempo. Ela pode ser qualquer tipo de criatura: Uma borboleta, uma ave, um felino ou a mais selvagens das feras.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora