XXI - A ALMA INFERNAL

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Kelmo estreitou os olhos ao analisar o fio de uma espada em suas mãos. Ela caminhava por um estoque de armas afiadas de um ferreiro. Estava escuro, era um galpão apertado e empoeirado. Possuíam armas enfileiradas nas paredes, algumas em mesas de madeira e até mesmo no chão sem nenhum apoio.

— Você é o pior ferreiro que conheci em quesito de organização — ela falou, guardando uma espada na mesa.

O homem alto, musculoso e de roupas largas rangeu os dentes. Talvez segurasse a sua lábia por receio de perde mais um cliente. Ele procurou por mais espadas por seu galpão, oferecendo-as à ex-caçadora.

— Acho que todas vão ser do mesmo nível — ela desdenhou, escolhendo uma espada no final.

— Você acha mesmo isso necessário? — Miro questionou, apoiado em uma parede com os braços cruzados.

Kelmo olhou para ele, mirando os seus aterrorizantes olhos de serpentes. Era uma pergunta idiota de alguém que deveria saber que aquele mundo era perigoso e traiçoeiro.

— Você quer mesmo que eu lhe responda? Em vez de fazer perguntas idiotas deveria ao menos estar aqui escolhendo uma faca ou qualquer outra coisa.

Miro suspirou. Após sair de Sidelena ele se sentiu um tanto arrependido. Eles estavam correndo risco da seita descobrir da fuga. Eles seriam mortos. Não haveria castigo pior. Até o momento a viagem estava sendo tranquila, mas não significaria que seria assim até o final.

— Ainda não sei se foi uma boa ideia saímos de casa, abandonarmos tudo, nossa plantação, nosso amimais, nossa cama!

— Você concordou. Não quer encontrar a sua filha?

— Não acredito que essa menina realmente exista.

— Eu não acredito que Salua mentiria. Se está arrependido apenas retorne. Eu irei continuar.

Kelmo era áspera e realmente ela estava decidida ir em busca de Órion, mesmo sabendo que a chance de ao menos encontrar Coimbra era mínima. Talvez conseguisse alcançar Náidius, caso ele ainda estiver vivo.

— Eu vou ficar com essa — Kelmo disse, avisando ao ferreiro. — Preciso de uma bainha de cintura e reforçada.

— Para uma mulher, não acha que exige demais? — ele falou, ríspido, de certa forma incomodado as imposições de Kelmo.

— Para um ferreiro não acha que deveria fazer melhor o seu trabalho?

O homem ficou em silêncio, preferiu limpar a espada de sua nova cliente e pôr na bainha que ela escolheu.

— Essa cidade ao menos tem uma estação de trem? Não imagino que ela tenha desenvolvido tão pouco a esse ponto.

Kelmo se encontrava um tanto nostálgica ao estar em sua cidade natal, Sunira. Mas não era o que ela esperava. Após tantos anos, a vila onde nasceu havia se tornado uma cidade grande, entretanto, uma grande cidade de miseráveis. Havia mais gente nas ruas pedindo esmolas que no conforto do lar. Era um lugar devastado.

Kelmo e Miro deixaram o ferreiro e caminhavam pelas ruas ladrilhadas por paralelepípedos. A ex-caçadora exibia a sua espada embainhada na cintura, a qual chamava a atenção das pessoas.

— Qual era a sua casa? — Miro perguntou, olhando o centro da cidade movimentado, com uma feira livre e comerciantes lhe abordando o tempo inteiro.

Kelmo observava a torre do sino, parecia ser a estrutura mais velha da cidade, porém, nem mesmo aquilo existia em sua época.

— Era uma casa de madeira, úmida e com muitos ratos — ela se lembrava. — Não deve existir mais. Tinha um riacho no fundo. A minha mãe levava Kainã e eu para lavar roupa e nos dar banho.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora