Uma chuva fina caía em uma manhã gelada, para a alegria dos camponeses que dependia daquela graça para regar as plantações. O barulho das engrenagens de uma charrete era ouvido de longe. O trotar calmo de um cavalo quebrava o silêncio de um dia ainda cinzento e nebuloso.
Náidius saiu cedo da casa, procurava uma árvore para se abrigar do chuvisco. Sentia a necessidade de fumar, os seus pulmões ansiavam por aquilo. Os fios oleosos do seu cabelo caíam em seus olhos lhe pinicando pelo incômodo. Ele encostou no cercado, puxando a gola alta da camisa um pouco mais para cima, tentando conter os pelos eriçados do frio.
O jovem prepara o seu cigarro, embrulhava um pedaço o tabaco em um pedaço de palha, fazendo um rolinho. Estava atento aos detalhes. Um pé pisava numa rocha ao lado de uma árvore, era um apoio perfeito. Sentia algumas gotas geladas caírem em sua cabeça despencando das folhas da árvore.
Enquanto focava a sua atenção para o campo de plantações coberto pela neblina, escutava a charrete se aproximando mais. Continuava a ignorar aquele som. Deveria ser algum viajante passando pela estrada.
O odor do estrume do gado se misturava com o cheiro do tabaco queimado. Aquele lugar lhe fazia se lembrar de casa. Não estaria ele com saudades. Esperava que não. Preferia que fosse um sentimento nostálgico, algo da infância quando ajudava Miro a adubar as plantações.
O barulho da charrete se tornou mais eminente. Dessa vez Náidius desconfiou que a carruagem estaria entrando no terreno. Ele olhou para a direção e realmente avistou um sujeito. Diego. O jovem soltou uma lufada de fumaça da boca e assistiu aquela aproximação, entusiasmado.
Diego saiu de fininho apenas para encontrar algum lugar que pudesse concertar a roda da charrete de Kari. Ele retornou e havia feito aquilo justamente para a irmã.
Náidius não conseguia mais olhar para Diego como quando o conheceu. A sua primeira vista, ele era apenas um assassino frio, alguém ameaçador ou, apenas queria passar aquela imagem para as pessoas. Ele era orgulhoso, nunca admitiria o real motivo para aquele feito.
O matador arriou da charrete, olhou para Náidius, alheiro, desviando o olhar em seguida. Não disse nada, nem sequer saudou ou quis explicar o que havia feito. Ele entrou na casa em silêncio apenas.
Náidius estava estupefato. No fundo, ele admirava aquele homem e o invejava. Queria ser como ele. Forte e habilidoso. Ele nunca teve coragem de pedir, mas também era muito orgulhoso para isso. Adoraria que Diego lhe treinasse.
...
O grupo ainda permaneceu naquela vila por mais um dia. Por ideia de Inarê, o elfo sugeriu que eles retribuíssem a hospitalidade com trabalhos no campo. Os homens trabalharam duro nas plantações, usando enxadas e outras ferramentas. Sônia se preocupou em encontrar lenha e manter a lareira acesa. Kari descansava, estava se recuperando rapidamente.
No final do dia resolveram partir. Com a charrete de Kari consertada, o grupo chegaria mais rápido em Itakiã. Era esperado não se depararem com mais nenhum infortúnio, como assaltantes de beira de estrada ou uma chuva forte. Chegariam a cidade no dia seguinte.
...
Sônia disputava um espaço com Náidius e Kari na charrete. Diego a guiava. A maga abraçava com todo o cuidado um vaso de cerâmica com a semente de sana plantada. A planta estava se desenvolvendo rápido, já se projetava para fora da terra úmida e escura, revelando a germinação. O broto verde estava visível, ela ansiava para que alguns dias pudesse conhecer as primeiras folhas.
— Nossa! É linda! — Kari observava as gravuras da árvore de sana na caderneta da mãe de Sônia.
Como uma estudiosa e amante da botânica, Iwana, a mãe de Sônia, desejou por muitos anos germinar uma planta extinta, a sana. Ela havia feito ilustrações de folhas, sementes, das flores e até mesmo da árvore com tamanha delicadeza e detalhes. Kari vislumbrava o desenho de um fruto azul, lembrava a forma de um tomate, bem redondo e suculento.
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Legend - O Mago Infernal (Livro 3)
FantasyÓrion Kilmato ao perceber uma grande evolução de seus poderes é sequestrado por estranhas criaturas demoníacas e confinado na misteriosa prisão mágica, Danjú. Convém a Náidius, o seu primo, resgatá-lo, e para isso, vai contar com ajuda da maga Sônia...