XIX - ARCABUZ

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As chamas azuis crepitavam, colorindo a face de Náidius a cor daquela luz. Ele encarava Sônia enfurecido, com tanto ódio que ele nunca pode imaginar. Por que a maga estava ali? Ela estaria lhe seguindo?

— Qual é o seu problema? — Sônia falou, colocando as mãos na cintura.

— O meu problema? O que você está fazendo aqui? Por acaso está me vigiando? Você é algum tipo de maluca?

— Se eu não fizesse isso você certamente estaria morto! Acha mesmo que eu deixaria você viajar com um assassino? — Ela estreitou os olhos, encarando-o.

— Eu sei me virar sozinho. Eu já disse que não preciso de sua ajuda.

Sônia o ignorou e caminhou até Kari, pois sabia que a jovem garota precisava de ajuda. Quando estava distante o suficiente, ela estralou os dedos, liberando Náidius do seu poder ao dissipar as chamas.

A maga se agachou diante de Kari e viu que a garota não estava nada bem. Ela agonizava, parecia estar desacordada. Sônia sabia que o seu poder curativo não seria suficiente e muito menos tão eficaz para combater o veneno de uma serpente, mas não poderia deixar aquela menina morrer.

Olhou para a picada, para a pele roxa e a ferida inflamada. Estava feio. A maga juntou as duas mãos por cima e invocou o seu poder. Uma chama de cor turquesa surgiu em suas mãos, consumindo-as por inteiro. Náidius se aproximou a tempo para ver aquilo, mas não a interrompeu, deixou-a fazer o seu trabalho. Ele aguardava ansioso.

Kari parecia não reagir àquele encanto, ela estava pálida, ainda desacordada e o seu corpo coberto pelo suor. Sônia olhava para ela preocupada, a qual deixava Náidius mais aflito.

Sônia por sua vez, fez algo que deixou Náidius intrigado. Ela subitamente deixou o seu poder desaparecer e do seu cinto puxou um canivete que tinha uma bainha própria. Antes que o jovem pudesse ver, ela espetou o local da picada da serpente e levou seus lábios até lá, sugando sangue e veneno.

— O que está fazendo? — Náidius se exaltou.

Sônia cuspiu o sangue da boca e olhou para ele, com os lábios manchados pela seiva vermelha.

— Tentei sugar um pouco do veneno, mas a essa altura já deve ter se espalhado por boa parte do corpo. Espero que o meu feito prolongue um pouco mais a vida dela.

— O quê?!

Náidius não conseguia deixar eminente a sua preocupação, já Sônia parecia um tanto fria, embora ao mesmo tempo suas feições demonstravam raiva, talvez por não conseguir fazer todo aquele ritual de cura corretamente como outros magos Cosmos conseguiam fazer.

— E o seu poder? — Náidius a questionou. — Esse fogo que colocou no ferimento dela? Não adiantou de nada? Não serviu de nada?

Sônia mordeu o lábio inferior, um tanto ressentida por se sentir tão imprestável naquela situação.

— Eu sou uma maga de batalha e não de cura! — ela respondeu, chateada. — O que eu faço no máximo é cicatrizar arranhões e cortes. Você precisa encontrar alguém que possa ajudá-la.

Náidius pôs as mãos na cabeça, quase arrancando seus cabelos e olhava para a fresta. Não conseguiria levá-la nos braços através da fenda no paredão, mas então, lembrou-se da capacidade de Sônia de caminhar pelas linhas do ar.

— Temos um curandeiro viajando conosco — ele falou, fitando a maga. — Você precisa carregá-la pelo céu. Ele é um elfo, fale com ele. Eu vou chegar depois.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora