XXXII - A RUÍNA

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A notícia se espalhou com o vento. Era difícil poder acreditar naquilo. Os corredores do instituto estavam mais movimentados que o de costume. Grupo de pessoas murmuravam em todos os cantos e fofocavam sobre o mesmo assunto. Não era somente um escândalo ou um descumprimento de regras, era uma falha terrível, a decaída de um superior, o mais importante dos anciões.

Salomon havia sido exposto. Falhou novamente com o mesmo feiticeiro, deixando-o o fugir e sacrificando em vão os melhores e mais experientes caçadores. A derrocada contra Lú Ecss foi um prato cheio para Kainã denunciar o seu mestre ao conselho, revelando a paternidade de Gabbe e toda a sua intromissão em assuntos mundanos. Poderia ocorrer um rebaixamento a um simples caçador ou a depender da decisão dos membros mais próximos de Itano, passaria um bom tempo suspenso das atividades da seita. Entretanto, o desconforto de Lirah revelou o pior. Uma gravidez.

Lirah era um arma, estava confiada ao ancião. Salomon gerou um mestiço, um mago infernal que ainda desenvolvia no ventre da jovem Kilmato. Não houve permissão para tal ato. Criaturas como magos infernais eram seres perigosos com um imenso histórico de crimes contra a humanidade e por ter se aliado à Luciano Antunes. Deveriam ser extintos, só houve excesso para Lirah e agora, até ela corria risco de vida.

Salomon já havia passado por um julgamento. Ele estava na pior nas situações. Aguardava a pena em uma cela especial para membros da seita. A sua vida eterna já havia sido retirada. O que apenas lhe restava era saber a sua punição.

Enquanto jazia deitado em sua cama, numa prisão apertada, completamente abatido com noites sem dormir e sem se alimentar direito. Não sentia fome. Não estava com medo do que poderia lhe esperar nem ao menos ansioso. A sua infelicidade beirava aos remorsos e a preocupação por Lirah. A maga estava pagando o preço pelo seu egoísmo.

Lirah escondeu a gravidez até onde deu, mas estava sendo envenenada com inúmeras porções abortivas para poder eliminar de vez o feto. O seu maior receio era o da maga ser sacrificada. Sem ele por perto, sem o respeito que ele impôs e conquistou por decidas, Lirah não sobreviveria. Ela só estava ali ainda tendo uma vida digna — por mais que fosse uma "arma" — graças a ele. Salomon aceitou a sua derrocada, mas jamais poderia viver sabendo que a vida de alguém tão inocente e angelical fosse destruída.

Ele ouviu uma risada provida do corredor. Passos lentos ressoavam e uma sombra crescia e medida que alguém se aproximava. Salomon sentou-se na cama e franziu o cenho. Não estava esperando por visitas tão cedo. Esperava por Lirah, queria ao menos pedir perdão, mas duvidava que a permitiriam lhe ver.

— Olha só que vergonhoso! — Kainã parou virado para as grandes, olhando através delas para a face magra e tatuada que o encarava. — O homem de respeito!

— O que você quer? — Salomon perguntou. — Conseguiu o que queria! Não está satisfeito?

Kainã guardava as mãos nos bolsos e sorria cinicamente.

— Você sabe que ser somente um ancião não era o meu objetivo. Foi uma pena você ter se aproveitado da pobre maga infernal, seria mais fácil ter aceitado o nosso acordo. Está sendo trabalhoso negociar a vida dela em minha posse.

Salomon em um pulo saltou para as grades, segurando-as com as duas mãos. Ele rugiu salivando para o caçador.

— Não se atreva a encostar um dedo nela!

— Não se preocupe, eu não pretendo ter filhos com ela. Isso seria um crime, afinal, quem ousaria a deixar um ser poderoso e devastador procriar outro ser perigoso e devastador? Ah sim! Claro! O nosso grandioso ancião de treinamento e caça. — Kainá coçou o queixo. — Quer saber? Eu gostei disso de ter a posse dela, mas tirando a parte de procriar. Lirah é muito bonita, não é mesmo? Eu te entendo bem, fui eu que a desvirginei!

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora