V - A PROFECIA

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As chamas azuis desapareciam de pouco a pouco. Náidius vislumbrava as labaredas crepitantes dissiparem, dando lugar à penumbra. Ele ainda estava deitado no chão com a face machucada e o estômago dolorido pelo chute. Ainda estava extasiado pelo o que havia presenciado, afinal, era a primeira vez que havia visto uma maga Cosmos, entretanto, se sentia uma fracassado ao ser salvo por ela.

A jovem maga se aproximava dele após apagar todo o fogo. Os quatro homens haviam fugido e desapareceram em correria pela estação escura, seguindo os trilhos sem rumo. Náidius tentou se mexer, mas o seu corpo estava inerte.

— Você está bem? — Ela perguntou ao se agachar diante do rapaz, porém, um tanto próximo, até demais.

Náidius se sentia desconfortável com aquela intimidade, mas aos poucos conseguia reagir e se mover. Se manteve sentado enquanto sentia a cabeça pesada e latejando na têmpora esquerda.

— Não deveria ter se intrometido. Eu não precisava de ajuda. — Ele reclamou, desprezando a jovem enquanto massageava o olho esquerdo com a mão.

A maga ergueu as sobrancelhas e tentou conter um riso, pois, sabia que se não houvesse intervindo, supostamente ele estaria morto.

— Ah sim! Você tinha tudo sob controle. — Ela debochou em sarcasmo.

Náidius a ignorou e manteve a sua atenção na têmpora que doía e tentava pensar em uma forma de voltar para a sua casa, já que havia se desentendido com Miro.

— Você sempre se mete em confusões do tipo? Como... Ficar devendo dinheiro a traficantes de arniteia?

Náidius arregalou os olhos e a encarou, admirado.

— Como sabe? Está me espionando?

Ela suspirou, pensando na longa explicação que iria dar.

— Eu sei tudo sobre você. Ou quase. — Ela se pôs de pé e ergueu uma mão para o jovem. — Eu me chamo Sônia Cosmos, estou a mando da Seita de Seguidores de Karen.

Náidius revirou os olhos e percebeu que a mão da jovem estirada era para ajudá-lo a se levantar. Ele ignorou a ajuda e tentou se levantar sozinho, embora sentia náuseas estonteantes. De pé, ele ficou de frente com a maga que tinha uma estatura bem baixa em relação a ele, na qual, lhe deixava ainda mais frustrado em saber que havia sido salvo por uma maga que media até os seus ombros. Ele rangeu os dentes.

— O que quer comigo? Não tenho nada a oferecer.

— Náidius não é? Não tenho interesse em você, mas sim em seu primo Órion.

Náidius repousava uma mão na barriga ainda sentindo dor, mas disfarçava e tentava olhar a maga nos olhos. Desconfiava das palavras dela, ainda mais envolvendo a seita naquelas afirmações.

— Então, sabe até o meu nome? Pelo visto investigou a fundo a minha vida. Se o seu interesse é em meu primo deveria então estar com ele! — Ele alterou o tom na voz no final, já duvidando daquele estranho interesse.

— Eu encontrei você primeiro. Talvez...

— Talvez nada! Se vire com os seus problemas. Eu preciso encontrar o meu pai.

Náidius deu as costas e arriscou alguns passos vagarosamente.

— O seu pai? O feiticeiro? Eu acho que ele está bem longe daqui.

Náidius se virou, sentindo a ironia naquelas palavras. Ele se irritou e mirou um olhar fulminante para a maga, entretanto, ela apenas sorria e não se intimidava. Parecia se divertir com as provocações. Se aquela mulher realmente sabia tudo sobre si, deveria saber que ele falava sobre Miro, seu pai de consideração e não aquele feiticeiro desprezível que infelizmente ele tinha o sangue.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora