XIV - A FLECHA

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             Os olhos vermelhos de Órion brilhavam. Mesmo sendo capaz de enxergar no escuro, por meio daquela densa névoa negra ele só conseguia ver o corpo moribundo do feiticeiro Meicy, que mais parecia uma múmia. Realmente ele estaria vivo?

As cincos espadas cravavam o seu corpo no chão em volta de um círculo onde havia sido desenhando o pentagrama. Ele estava selado ali e não poderia se libertar por nada. Foi realmente um fim e um castigo trágico. Órion só queria entender o porquê de estar naquele lugar.

Não fazia ideia do tempo, mas sabia que já estava há muitos dias ali. Se era dia ou noite, ele não sabia. Poderia calcular que uma vez ao dia ele recebia comida daquelas "coisas" que o sequestraram. Mas por quanto tempo ele permaneceria por ali?

Ele não conseguia usar sua magia. De toda forma, aquele lugar parecia lhe controlar. O único feito realmente seria os seus olhos, que automaticamente se adaptavam na escuridão. Fora isso, mal conseguia produzir uma única chama na ponta dos dedos.

Ele observava o feiticeiro. Como um sujeito tão poderoso terminou daquela forma? Entretanto, ele repensou em seu questionamento. O seu destino talvez não fosse tão diferente, apesar que, ele sentia que não foi sequestrado apenas para ser companhia do feiticeiro. Não lhe restava muita coisa a se fazer a não ser aguardar.

...

Haiko abriu os olhos e levantou o tronco subitamente. Ele despertou ofegante, quase como se um pesadelo houvesse lhe atormentado. Ele estava sentado sobre lençóis limpos e metade do seu corpo estava coberto por uma manta de algodão. Ele estava atordoado, novamente suas lembranças lhe afligiu, dessa vez durante um sonho.

Ele olhou ao redor, não se lembrando daquele lugar. Era noite, tinha uma fogueira recém acesa próxima e de improviso, um pequeno caldeirão cozinhava algum ensopado de cheiro prazeroso.

Ele observou um cavalo que comia a grama ao redor das gigantes árvores da floresta. Ouvia o barulho da água de um rio passando pelos blocos rolados em seu leito e pássaros agitados se encolhiam para dormir, batendo asas na densa folhagem acima de sua cabeça. Ele havia se lembrado.

O elfo estranho surgiu naquele momento, saindo na penumbra por trás de alguns troncos em frente a clareira. Ele estava com algum tipo de garrafa de cerâmica com inscrições simbólicas talhadas. Observando bem, Haiko percebia que ele portava uma aljava nas costas contendo algumas flechas e um arco.

— Vejo que acordou! — ele falou, sorrindo.

A sua voz era rouca e suave. Ele se aproximava amistoso, segurando sua garrafa de cerâmica, certamente contendo água. E realmente era um belo elfo, bem característico como Haiko se lembrava. Nunca imaginou que eles ainda pudessem existir.

O elfo ajoelhou-se próximo da fogueira e com uma concha mexia o seu ensopado que borbulhava em um tom amarelado. O cheiro era exalante, meio adocicado. O sujeito salpicou algum tipo de erva seca e triturada para complementar o seu tempero. Em suas coisas de viagem, ele retirava uma pequena sopeira.

— Espero que goste de ensopado de cogumelos! — ele falou, com o mesmo sorriso. — Esses fungos dourados nascem aos montes nessa região.

O elfo entregou a sopeira cheia à Haiko.

— Coma um pouco. Esses cogumelos possuem propriedades mágicas! Saciam a fome por longos períodos — ele continuou, empolgado.

— E alivia qualquer tipo de dor — Haiko complementou, recebendo a sopeira.

— Então também é um entendedor das propriedades da natureza?

— Não muito. — Haiko ponderou um pouco, sentindo o cheiro da sopa invadir suas narinas. — O meu pai trabalhava muito com esses fungos.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora