XIII - A FACE DE ISTH

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 O céu estava sem nuvens e ventava pouco. Apesar do calor, nas ruas de Sunira estava um pouco fresco. Era uma cidade pequena, apesar de ser uma das mais antigas de toda Sagnows. Ela não prosperou muito após as guerras nos últimos milênios e pelo visto, a maioria dos cidadãos eram pobres mercadores e camponeses.

Embora isso, as as estruturas antigas estavam bem preservadas, assim como os pequenos prédios cinzentos, as ruas ladrilhadas por pedras e as antigas árvores de longos troncos que chegavam a ser maiores que os prédios mais altos. A praça principal era onde o comércio funcionava. Havia muitos mercadores, tantos que, talvez, houvesse poucos compradores para tantas mercadorias. Mas àquela hora as ruas estavam bem vazias.

— Dizem que essa cidade já foi muito próspera no passado. — Kari falou, observando pela janela a praça central bem abaixo.

Náidius e ela estavam o alto de uma torre onde tinha um sino. Talvez aquele sino não fosse tocado há muito tempo, estava velho e descamado. Eles estavam lá há algum tempo.

— A minha mãe nasceu aqui. — Nádius falou. — Ela me dizia que não era uma vida fácil. A mãe dela era costureira e o pai... havia ido embora.

— Lembra um pouco a minha vida. Eu também sou filha de costureira. O meu pai foi embora antes mesmo de eu nascer. Quando retornou, matou a minha mãe.

Náidius franziu o cenho.

— Mas por qual motivo?

Kari olhava para fora, observando o silêncio que se perpetuava naquela noite vazia de luar. Parecia um tanto pensativa, talvez perdida em seus devaneios, naquela lembrança que lhe nada era afetuosa. Lhe doía, o seu coração se amargurava ao ainda ouvir os gritos de desespero de sua mãe, quando ela pediu para fugir.

— Talvez por causa de mim. — Ela respondeu. — Eu não tinha o que ele queria. O azar dele foi deixar os filhos viverem. Ele vai pagar caro por sua piedade.

Náidius permaneceu em silêncio. A história de Diego e Kari lembravam a de sua mãe. Kelmo sempre falou abertamente o que o pai lhe fez, e ela só descobriu que sua mãe foi morta por ele tempos depois. Talvez fosse um costume horrível de Sagnows que estaria voltando. Não se sabe.

— Por que está se abrindo comigo dessa forma? — Náidius perguntou, ainda pensativo. — Mal nos conhecemos.

Náidius apoiava as costas na parede enquanto esticava uma das pernas. Observava Kari, a jovem abraçava os joelhos e olhava freneticamente através da janela. Ela parecia tão solitária quanto o próprio Diego. Ambos eram solitários e ambos carregavam aquele peso da perda da mãe. Náidius não conseguia se colocar no lugar dela. Era diferente se comparasse com a mãe dele. Mas de qualquer forma, aquela garota sentia dor.

— Por interesse ou não, Diego quer você com ele. Por favor, confie nele. Parece até brincadeira pedir para confiar em um assassino... — Ela olhou para Náidius. — Diego está sofrendo. Ele não só perdeu uma mãe, também perdeu um irmão e recentemente a esposa. Ele não demonstra, mas eu sinto isso nele.

— Eu não sei...

Náidius não conseguia confiar. Aquele homem era um assassino, um matador de aluguel, cruel e impiedoso. Ele matava a sangue frio, era quase como se não se importasse com a vida.

— Você não vai conseguir chegar até Coimbra sozinho. Somente aquele mapa não é suficiente. Você precisa de Diego e precisa confiar nele.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora