XIX - A FUGA

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Náidius marchava em uma trilha pedregosa e esburacada, onde o solo seco e duro fazia calos em seus pés. O Sol estava a se pôr logo atrás projetando uma sombra gigante em sua frente, de um caminho alaranjado e longo. A vista nas laterais eram de cercados e grama rala, sem nenhum animal por trás das cercas, algumas árvores fechavam uma floresta e sem nenhum foco de vida humana por ali. A frente colinas se erguiam, totalmente nuas de vegetação, a não ser as mesmas gramas ralas e rochedos de tons amarelos e vermelhos, bastante desgastados, formando ao seu sopé uma terra avermelhada e fina.

Sônia andava atrás de Náidius, lentamente, um pouco mais distante dele. Eles haviam discutido por um bom tempo, mas a maga teimou em ir embora. Aquele jovem não conseguia compreender que o mundo fora dos portões de Sidelena era tão violento e traiçoeiro. E nada se comparava a mero bandidos que ela assustou certa noite. Mas Náidius era orgulhoso. Ele não estava fazendo isso apenas porque realmente desejava salvar Órion — até porque, entrar em Coimbra já se tornaria algo impossível, imagina chegar até Danjú? —, o que ele queria realmente era uma aventura, era sair de casa e tomar um caminho que não fosse o mesmo destino da família.

A maga entendia bem o que era aquele desejo. Ela entendia muito bem o que era sonhar em ser livre, o que era não ter escolha e viver o que sua família lhe propusera. Talvez por isso ela se candidatou a ajudar à Seita, mesmo contra a vontade do seu pai, e talvez... a mesma vontade de ser livre foi o que matou a sua mãe. De uma forma ou outra, foram aquelas políticas medíocres que ceifaram aquela vida.

— Já está escurecendo. — Náidius comentou, despertando Sônia de seus devaneios.

Sônia percebeu, embora as nuvens jaziam em um misto de laranja, rosa e lilás, ao redor o crepúsculo dominava.

— Que fique claro! — Náidius voltou a resmungar. — Quando eu sair de Sidelena, não mais permitirei que me acompanhe.

Sônia suspirou. Preferiu ficar em silêncio do que continuar com aquela conversa chata. Náidius era tão rabugento que mais parecia o seu avô com seus 367 anos. Enquanto escurecia, ela pensava em uma forma de passar a noite, já que não chegariam ao portão Leste por tão cedo.

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Náidius estava tão perdido naquela parte de Sidelena que até mesmo se perguntava o porquê de nunca ter conhecido todo o lugar em seus quase dezoito anos. Horrivelmente ele precisaria da ajuda da maga para chegar até o portão Leste. E sorte dele, ela não conseguir carregar tanto peso ao caminhar pelas linhas do ar. Ela necessita de estar com o corpo leve. Seria ridículo ser carregado por ela pelos céus.

Sônia havia escolhido um local para acampar. Não estava tão distante da trilha que seguiam, mas era assombrador a noite. Ao redor era cercado daqueles rochedos desgastados, muitas árvores cresciam por cima deles, onde suas raízes abriam fraturas, colaborando com as intempéries que assolavam o ambiente. A escuridão da noite dava àquele semblante formas assustadoras. Os galhos retorcidos e uma coruja inquietante desempenhavam uma cena de horror.

No momento Náidius estava sozinho. A fogueira crepitava, carbonizando os gravetos e cascas de árvores que encontraram nas redondezas. Sônia havia se preocupado em ir arranjar comida, já que pelas linhas do ar, ela seria mais rápida e facilmente encontraria algum mercador, mesmo que a noite.

O jovem erguia a lâmina de sua espada para o alto. Observado o brilho lustroso, o qual, refletia as chamas da fogueira. O cabo peculiar, curvado como se fosse o cabo de um guarda-chuva, se encaixava perfeitamente em sua mão, era quase como se fosse feito para ele próprio. Mas ele se lembra de quando mais novo, se meteu em uma encrenca por essa arma, mas no final, sua mãe a comprou. A sua mãe...

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora