PRÓLOGO

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 Era uma casinha simples, feita de madeira e barro, se localizava no meio da floresta de Ufazar, região selvagem e pouco habitada por humanos. As árvores cercavam a humilde habitação em um clima úmido, apesar de aquela estrutura parecer tão frágil para o tipo de ambiente.

Da janela alta, uma criança colocou a cabeça. Sentou-se no parapeito depois de obter grande esforço para subir. Olhava para as árvores de folhagem verde e para a estreita trilha por onde o seu pai costumava passar em busca de água. Ele sorria. Apesar de seu pai ser um homem incrivelmente poderoso, ele buscava sempre uma vida mais simples.

Aquele garoto aparentava possuir pouco mais de dez anos de idade, tinha longos cabelos brancos prateados, uma pele albina de tão alva e orelhas pontudas. Um elfo, porém, um ser não mortal.

Um gato preto subiu ao seu lado no parapeito da janela. O felino o encarava fixamente com os olhos arregalados, como se vislumbrasse uma assombração.

— Terê, — o garoto falou — você é o único ser, fora o meu pai, que consegue me ver, mas me assusta quando me olha assim.

— Gatos são os únicos animais que enxergam o plano espiritual. — Falou um homem de sotaque forte de dentro da casa.

O garoto o fitou, virando um pouco o corpo. O homem estava sentado à beira de uma mesa de madeira pequena. Com uma pena mergulhada em tinta ele escrevia em umas folhas soltas de papeis amarelados. Ele tinha a pele negra e sedosa, olhos amarelos e penetrantes. Os cabelos eram dreads compridos, preso em coque e possuindo algumas mechas soltas. Vestia uma túnica nas cores verde e azul, porém, desbotada e desgasta. Ele segurava um rubi que cabia na palma de sua mão. Estava atento ao seu trabalho.

— Pai! Quando eu vou poder conhecer a minha mãe? Ela é a única que pode me tornar visível para todo mundo, e...Tocável. — O garoto falou, triste.

— Haiko, meu filho... — O homem ficou pensativo, procurando as melhores palavras para falar. — Você é filho de uma deusa, você nasceu no plano espiritual.

— Mas eu quero viver nesse mundo, ser um garoto normal. Eu quero brincar com os outros, eu quero... Que as pessoas me vejam e me notem quando eu ajudá-las. Eu quero ser como o senhor. — Ele olhou para o seu pai, tristemente.

O homem parou de escrever e encarou no garoto.

— Você sabe que existe outro meio para resolver o seu problema...

— Mas não é adequado. — Ele completou. — Eu me tornaria um monstro se fizesse isso. E eu... Não quero machucar ninguém.

O homem sorriu de certo ponto, orgulhoso.

— Não se preocupe. Estou estudando e farei o necessário para tê-lo comigo fisicamente. Seja paciente. Temos toda a eternidade para isso. Por hora, eu tenho uma surpresa para você.

— Uma surpresa?

O homem assentiu positivamente com a cabeça.

— Venha comigo!

O homem juntou todos os papeis na mesa e organizou. Segurou o bloco com as duas mão, respirou fundo e automaticamente todo aquele papel se transformou em um grosso livro de capa preta e dura. Ele guardou o livro em uma bolsa feita de pele de carneiro e juntamente o rubi.

Ele se colocou de pé. O garoto correu e segurou em sua mão. Eles foram tomados por uma névoa branca que rapidamente os encobriu, fazendo-os teleportarem.

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Era uma cidade a frente de seu tempo. Eram grandes torres rochosas, estátuas de mármore representando guerreiros e anjos de Isth. No centro da praça principal estava um monumento representado o atual líder, Assa Kilmato, um mago infernal. As ruas eram bastante arborizadas, pavimentadas com ladrilhos de pedra e jardins floridos por todas as partes.

Haiko e seu pai apareceram no salão de um palácio. Era quente ali dentro, talvez não pelas inúmeras tochas nas paredes e uma lareira com fogo a crepitar, mas talvez pela presença dos magos infernais naquela ala. Figuras de cabelos longos, barba cheia, todos ruivos, cores vivas nos cabelos, quase um alaranjado fluorescente. O homem no centro vestia roupas negras e grossas, barba espessa e longas madeixas.

O homem se aproximou juntamente com sua esposa e um rapaz ao lado, que deveria ser seu filho. Não estavam surpresos com aquela aparição no centro de seu palácio.

— Meu amigo! Luciano Antunes... Estávamos esperando por sua presença. — O homem falou cordial e com um sorriso.

Eles apertaram as mãos. Haiko percebeu os olhares de todos naquele salão se voltarem para ele, e o que era assustador, já que para outros olhos ele nem existia.

— Eu quero apresentar alguém. — Luciano falou. — Esse é o...

— Pai, não adianta! — Haiko o interrompeu — Eles não podem me ver.

— Podemos sim, garoto. — O Homem ruivo falou, sorridente. — O seu pai nos ensinou.

Haiko deu um passo em frente e olhou ao redor. Estava maravilhado com toda aquela gente lhe enxergando. Eram guardas, serviçais, alguns sendo apenas pessoas comuns e outros magos infernais, mas todos lhe viam e sorriam para ele.

— Filho. — Luciano chamou pelo garoto. — Esse é Assa Kilmato, líder do clã dos magos infernais. Passei um tempo ensinando a eles alguns truques e o principal foi esse, enxergar as criaturas do plano espiritual. Eu fiz isso por você, eu sei que ainda não é o bastante, mas... Até eu poder trazê-lo ao plano físico.

Haiko o abraçou, emocionado. Luciano agachou-se para acomodar o abraço do filho.

— Obrigado, pai! — Haiko disse, emocionado. Tentando segurar as lágrimas. — Eu te amo.

— É uma honra aprender os ensinamentos de nosso querido feiticeiro. — Assa falou. — E poder levar esse conhecimento a todo mundo. Somos eternamente gratos.

Assa se curvou diante daqueles dois.

— Por favor, não precisa disso. — Luciano se levantou, retirando de sua bolsa o pesado livro e o rubi. — Essa pedra foi energizada com o meu poder, é o meu presente para o seu povo. Ela é capaz de energizar outros cristais e fornecer um pouco de poder para realizar, como você diz... alguns truques. — Ele sorriu. — O livro possui poemas para a realização de ritos. Use-os com sabedoria.

Assa sorriu ao receber os presentes. Luciano olhou para o seu filho.

— Está vendo Haiko? Pessoas como nós nascemos com um grande poder, mas não convém guardamos todo esse poder apenas para a gente. Os Kilmato's são poderosos, mas também generosos e sempre estão ajudando as comunidades vizinhas com as dificuldades nas plantações. Os meus presentes vão auxiliá-los a espalhar mais bondade para o mundo.

— Usar o poder...

— Para o bem. — Eles falaram em uníssono e sorriram.

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Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora