Legend - O Mago Infernal (Livro 3)

XXVIII - UMA VIDA ESTRANHA

A jovem loira com um longo vestido azul de cetim caminhava por um corredor do fabuloso castelo de Erágolis em Mengie. Havia se tornado rainha consorte desde que Austin tomou a coroa e casou-se com ela. Ela sabia que aceitar aquele pedido de casamento lhe tornaria infeliz. O atual rei era um homem honesto, mas de personalidade desagradável e machista. Ela sempre ponderou o porquê de ter se permitido viver aquela vida.

Os seus longos cabelos loiros balançavam no movimento do seu corpo, enquanto sua franja pinicava os seus olhos verdes esmeraldas. Uma dama de companhia a seguia, segurava um buquê de flores coloridas do jardim, quase correndo ao tentar acompanhar os seus passos apressados. Por onde passava todos a reverenciavam, sejam cavaleiros, soldados ou criados.

Gabbe se lamentava, sentia pena de si mesma. Após a morte de Karlo se sentiu tão sem chão e deslocada que não sabia qual destino seguir, principalmente ao descobrir a sua gravidez. O que seria viver naquelas terras com uma criança sem pai? Austin não lhe daria o reconhecimento necessário por lutar por Tandária, afinal, o seu único objetivo era estranhamente tê-la com esposa. Para piorar, Karlo havia deixado mais dois filhos desolados, ela se comprometeu em acolhê-los como seus.

Ela estava cansada. A àquela altura já estava na sua terceira gravidez, entretanto, escondia de Austin sua gestação. Não sabia como contar a ele, apesar de tudo o que ele desejava era ter filhos e mais filhos.

Gabbe chegou ao cemitério que ficava ao fundo lateral do castelo. Ela passou pelo pátio vazio até chegar lá. Havia algumas lápides, incluindo de Karlo e sua mãe. Enquanto caminhava pela passarela de pedras com sua dama de companhia, a mulher notou um homem ruivo abaixo de uma árvore, um tanto cabisbaixo.

- Jober? - ela perguntou, notando o homem magro que usava um longo casaco felpudo preto.

Gabber notava as olheiras do amigo, as rugas profundas que marcavam a sua testa e o canto dos olhos. Só havia se passado dez anos após os últimos eventos que marcaram naquele castelo, entretanto, ainda joviais, as marcas eram mais das condições emocionais que o abalou que do próprio tempo.

- Não sabia que estava em Erágolis - Gabbe falou.

- Acabei de chegar - ele respondeu enquanto olhava para uma nuvem branca no céu.

- Bem... Austin está viajando.

- Eu sei. Ele havia me informado que iria sair em expedição marítima. - Ele olhou para ela um tanto preocupado. - Eu vim ver você. Somos amigos, certo? Eu me importo contigo.

Gabbe deu de ombros. Olhou para as lápides por um tempo, observando o musgo que se formava e a relva que cobria.

- Eu sinto que você não está bem de um tempo pra cá - ele continuou.

- Só agora percebeu? Não me venha com essa conversa que eu tenho uma vida que muitas garotas desejariam. Eu odeio isso aqui!

- Gabbe! Você não foi obrigada a se casar com Austin! Me perdoe se eu a incentivei, mas... Não queria te ver mais triste.

- Ele é um homem horroroso. Eu só sirvo para... ser uma figura representativa de uma rainha e lhe dar herdeiros.

Gabbe deu as costas, ressentida por sua péssima decisão. Jober suspirou, sentindo-se culpado em parte pela desgraça da amiga.

- Eu o empurrei para você no começo, mas só por causa da sua obsessão por Karlo. Eu só queria o seu bem.

Gabbe tentava controlar as suas lágrimas, mas até mesmo a sua voz ressoava trêmula e chorosa.