XXXIII - ENTRE GRADES

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Dedos trotavam na superfície de madeira da mesa emitindo um som oco. A sala do capitão era apertada e pouco ventilada, apesar de uma escotilha aberta. O homem barbudo, de cabelos negros e oleosos bebericava uma xícara de chá. Os dedos continuavam a trotar insistentemente na mesa enquanto ele levava a altura do seu único olho bom uma moeda coimbrana.

Náidius estava sentado do outro lado da mesa, encarando o tapa olho do capitão. Estava desconfortável em estar ali, sentia-se um fora da lei dentro do navio de um bando de contrabandistas. Diego e Inarê estavam em pé ao lado dele, enquanto um outro sujeito segurava uma arma de fogo diante da porta, de guarda.

— Isso é muito valioso. E raro — o homem de voz rouca falou. — De quem roubou isso?

— Não roubamos, eu já disse! — Náidius exclamou, impaciente com a acusação. — Uma maga nos deu!

— Uma maga? — O capitão sorriu, não acreditando naquela afirmação.

— Senhor, acredite. O meu amigo está falando a verdade — Inarê falou com a voz serena.

O elfo estava desconfortável com a atenção do capitão para ele. Apesar de saber que pessoas como ele eram bem-vindas na embarcação, ele ainda tinha certo receio, já que por onde andou por toda a vida era enxotado como um rato.

O capitão cruzou os braços.

— Eu acredito em você, meu caro. Elfos são pessoas nobres.Tenho alguns como marinheiros e são os meus escudeiros mais leais. No entanto, quanto a esses dois, principalmente esse sujeito de cabelo branco... ouvir falar de você. É famoso não é? Há cartazes de procurado por toda Itakiã e Angelins. Me dê um bom motivo...

— Para me capturar e me entregar as autoridades? — Diego sorriu sarcasticamente sem descruzar os braços. — Que moral um pirata tem para ditar tamanha ameaça? Não acha isso meio hipócrita?

O capitão se pôs de pé batendo com as mãos na mesa oca, tão subitamente que Nádius sentiu os seus braços tremerem sob o móvel. A xícara de chá saltou fazendo um som peculiar, deixando o líquido amarelado escorrer até o chão. Diego nem piscou os olhos, não havia se intimidado com o homem bufando de ódio que o encarava mortalmente.

— Não ouse a me desafiar nos meus domínios! — O capitão alertou, com uma voz estridente. — Sujeitos como você são ração de tubarão.

— Senhor... — Inarê interveio, clamando. — Peço perdão pelo meu amigo. Prometo que isso não irá se repetir.

O homem ergueu uma sobrancelha, ainda não convencido, entretanto, observou uma das moedas que reluzia a luz ambiente. Era inacreditável ele ter em mãos um tesouro como aquele. Ele se sentou e suspirou pesadamente.

— Espero que tenhamos uma viagem tranquila — ele falou, entrelaçando os dedos acima dos lábios. A seriedade lhe perpetuava. Indagava-se se estaria tomando a decisão certa em permitir aqueles jovens estranhos em sua embarcação. Mas era necessário saber a fonte exata daquelas moedas coimbranas. — Entregue suas armas à Zaran — ele ordenou.

— As nossas armas? — Náidius falou, contrariado com aquela ideia.

O pirata não respondeu, apenas o encarava com um olhar impiedoso. Inarê não contestou, entregou seu arco e sua aljava ao homem de dentes dourados e semblante assustador. Diego preferiu não relutar. Ele só queria chegar até Ufazar o mais breve. Entregou a sua espada embainhada com um certo rancor. Zaran lhe sorriu como se lhe zombasse. Náidius resmungou ao ver seus companheiros fazendo aquela desfeita. Não era o que ele esperava, principalmente de Diego. Sentia-se desprotegido sem a sua arma, a entregou lentamente, sentindo um certo vazio dentro de si ao se desproteger.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora