VII - BORBOLETAS

18 4 2
                                    


Kelmo jazia ajoelhada no chão vislumbrando a parede por onde um portal havia sido aberto e abduzido o jovem Órion. Ela tremia os lábios, mas não era contendo um choro e sim de ódio que consumia a sua alma naquele instante. Um pouco de ódio de si mesma e o mesmo sentimento por toda aquela desgraça. Ela lançou um olhar desaprovador para Náidius e mais que nunca ela o detestava.

Sônia ainda não conseguia absorver o que havia acontecido. Ela olhava atônita para a mesma parede e não fazia ideia do que fazer ou o que falar. Náidius se encontrava na mesma situação, porém, estava sério, não demonstrava emoção alguma. Ele apoiou a ponta da espada próximo aos pés e suspirou.

Kelmo se levantou e cerrou os punhos. Ele estava enraivecido e com um enorme sentimento de culpa.

— Você tem ideia do que fez? — Kelmo questionou Náidius.

Náidius olhou para ela, mas se manteve calado.

— Se tivesse me dado a espada eu poderia ter evitado. Você não sabe lutar. — Ela continuou, furiosa.

Náidius sorriu, achando graça daquela repreensão.

— Vai mesmo me culpar pelo o que aconteceu? Você não tem o direito disso, a espada é minha!

— Mas eu a comprei!

Náidius se aproximou, pisando forte no chão. Sônia percebendo mais uma discussão tentou intervim.

— Gente, por favor. Esse não é o momento. — A maga falou, preocupada.

Kelmo assentiu. Começou a caminhar de um lado para o outro, pensando em qualquer coisa, em uma maneira de poder resgatar Órion. Mas para onde aquelas criaturas haviam levado o garoto mago? Danjú? Era o que ela poderia supor, já que as ossadas de Assa estariam lá, embora, ainda não fizesse sentido algum essa reconstituição de alguém que pairava morto há tantas centenas de anos.

— Eu vou me embora!

Náidius aleatoriamente anunciou a sua deixa sem mais sem menos. Ele saiu andando e arrastando a extremidade da espada no chão, fazendo um risco no assoalho de madeira. Kelmo não se importou, apenas focou a sua preocupação em seu sobrinho. Sônia por sinal sentia na pele aquela intriga entre mãe e filho, isso afinal de contas, não poderia ter um final bom. Porém, a maga focou na ex-caçadora um olhar inóspito, o mais propício era evitar certo atrito com ela.

— E aí? — Kelmo perguntou, um tanto angustiada. — Já sabe algum meio de resgatar o meu sobrinho?

Sônia se pôs pensativa. Aquela era uma pergunta que ela não sabia como responder. Havia enviado uma carta aos bruxos em Danjú e sabia que levaria alguns dias para chegar e mais dias para receber uma resposta — a qual seria bastante inviável, já que ela não estava em nenhuma localidade fixa.

— Bem... — Ela suspirou, sentindo certa fraqueza em sua voz, perdendo totalmente a notoriedade com a Kelmo.

— Você não sabe o que fazer, não é mesmo? — Kelmo adivinhou, com certo asco no tom de sua voz.

A ex-caçadora deu de ombros e virou a face rumo a saída do quarto. Franziu o cenho.

— É o de se esperar de alguém que nem mesmo tem a confiança do próprio lugar onde trabalha.

Kelmo saiu, deixando-a sozinha. Sônia entendeu o que ela queria dizer. Mesmo há dois anos trabalhando junto com os bruxos, a seita ainda não confiava nela a posse de um simples cristal de teleporte, algo que facilitaria demais nas suas missões e principalmente um retorno urgente para Coimbra como pedia aquela situação.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora