Legend - O Mago Infernal (Livro 3)

XXXI - A AFRONTA

Gabbe se direcionava a um berço de madeira. O berço era sustentado por hastes, na qual, havia a funcionalidade de fazê-lo balançar. A mesma haste formava a base no chão e também fazia pender do alto um suporte com um cortinado de tecido branco, macio e sedoso. Os babados nas extremidades a fazia lembrar dos tecidos luxuosos da realeza no seu tempo de rainha.

O berço havia sido um presente de seu pai, Salomon. No entanto, ela apenas o encontrou no quarto assim que recebeu alta da enfermaria após dar à luz. Fazia bastante tempo que não se viam, as vezes até parece que ele tentava evitá-la.

Gabbe segurava em seus braços a sua filha recém-nascida. Era um bebê com alguns fios dourados na cabeça, bochechas rosadas e pele tão alva como uma nevasca.

Millo entrou no quarto assim que Gabbe o permitiu entrar ao bater na porta. O bruxo sorriu ao conhecer o bebê.

— É uma linda criança. Já tem nome?

Gabbe caminhava lentamente girando o corpo, enquanto o bebê a olhava fixamente agarrando com os pequenos dedos o polegar de sua mãe. Gabbe sorria, encantada com a sua cria.

— Elora — Gabbe falou. — Em homenagem a minha mãe.

— Muito bonito, isso.

Millo se sentou na cama enquanto Gabbe ninava a criança, balançando o seu vestido comprido de seda.

— Alguma notícia de Salomon? — ela perguntou.

— Está em reunião com alguns membros do conselho. Ele me pediu que eu lhe fizesse companhia até o término para assim visitá-la. — Millo sorriu. — Acho incrível esse carinho que ele possui contigo. Ele não é um homem de demonstrar afeto, nem mesmo com o filho.

Gabbe ficou em silêncio. Mesmo com Salomon se mantendo tão distantes, as pessoas próximas desconfiavam da relação entre os dois, no entanto, de forma amorosa. Enquanto mantivessem aquele segredo, para não arriscar a pele do ancião, todos iriam imaginar uma situação inexistente.

— Não queria te apressar muito, mas, preciso de sua resposta — Millo falou, despertando Gabbe de seu devaneio. O bruxo franziu o cenho, percebendo que a mulher parecia não se recordar mais da decisão que precisaria fazer. — Sobre ficar com a sua filha ou deixá-la com a família em Mengie.

— Eu vou ficar com ela — Gabbe falou. — Eu quero que você seja o padrinho dela e... inspire ela a ser uma bruxa.

Millo sorriu, um tanto envergonhado.

— Nossa, eu... me sinto lisonjeado. Nem sei o que dizer.

Gabbe sorriu de volta.

— Acho que sem você aqui eu estaria sem chão nesse lugar. Só aceite e influencie a minha filha, por favor. É a única forma de me sentir em paz nesse lugar.

— Bem, bruxos também se arriscam em campo e... essa é uma decisão que ela precisará fazer, e... — Ele percebia um olhar triste de Gabbe como se fosse contrariar o pedido dela. — Mas é claro, farei o possível para guiá-la para o meu caminho.

Eles sorriram e após um breve silêncio enquanto Gabbe descansava o bebê no berço novamente, Millo se lembrou.

— A propósito, eu queria lhe convidar para a cerimônia de formatura da minha filha, Salua. Acontece amanhã ao pôr-do-sol.

— Nossa... Muito obrigada!

Millo se levantou.

— Bem, eu preciso ir agora. Eu volto mais tarde.