III - O JOVEM MAGO

16 5 0
                                    


Kainã abriu um largo sorriso de ponta à orelha. Observou o jovem em pé, ao lado da escadaria, vestido com farrapos, mas com porte elegante de mago. As labaredas em suas mãos brilhavam em uma luminosidade incandescente. Ele era poderoso, talvez um tanto mais que a sua mãe, Lirah.

O ancião caiu em gargalhada enquanto soltava Kelmo e Náidius. A ex-caçadora caiu de joelhos no chão, ofegante e com as mãos no pescoço. Ela tentava recuperar o fôlego desesperadamente. Náidius da mesma maneira respirava fortemente, porém, mantinha-se de pé e apoiava as costas na parede. As suas penas estavam bambas e suas mãos tão trêmulas que ele deixou sua espada cair.

Kainã caminhou, passando pela Kelmo derrotada no chão, pisando no piso rachado e mal encerado, ou melhor, talvez não fosse encerado há muitos anos, incluindo certas partes que estavam em terra. O ancião foi ao encontro de Órion que ainda segurava suas chamas. O mago observando aquela aproximação recuou um passo.

— Por favor... Não seja medroso. — Kainã falou, sorrindo. — Não seja como esses seus... parentes.

Órion observava aquela falsidade em seu pai. O homem não estava satisfeito com ele, isso era fato. Tudo o que o ancião queria era utilizá-lo como uma arma como fez com sua mãe.

— Eu não tenho os seus olhos, por que me quer? — Órion questionou, receoso.

Kainã desmanchou o sorriso na face e olhou para trás, para Kelmo, ainda caída no chão tentando se recuperar. Ele fez uma expressão azeda, tomando repulsa da irmã por ter feito a cabeça do sobrinho.

— Então ela realmente te contou tudo. — Ele sussurrou, porém, o garoto o ouviu.

— E como o meu avô você também assassina as mães de seus filhos. — Órion continuou, com um semblante triste ao se lembrar do destino cruel de sua mãe.

— Lirah se suicidou, eu não a matei. — Ele se defendeu, sentindo o tom de acusação vinda do rapaz.

Órion ficou pensativo, se manteve em silêncio e abaixou suas mãos, deixando as chamas se apagarem por completo. Kainã continuava a fitá-lo, aguardando palavra provinda do jovem, porém, ele permanecia calado. O ancião aproximou mais alguns passos, tendo a certeza que havia conquistado a confiança do mago.

— Órion, eu quero que venha comigo. — Ele convidou. — Vamos para o Instituto em Hidda e sair de vez desse inferno asqueroso. Se tornará um caçador, o mais forte deles! Poderá usar armas e o seu poder de fogo. — Ele falava empolgado como se previsse o futuro do mago. — E será o meu filho, contendo o meu sangue, infelizmente sem os meus olhos.

Órion estreitou os seus olhos, ele não conseguia confiar naquele homem. Parecia mais que ele quisesse usá-lo como uma arma, assim como fez com a sua mãe.

— Por que somente agora?

— Porque... — Kainã pensava nas palavras certas para falar. — Bem... O Instituto está carente de novos seguidores, não houve muitos alistamentos nos últimos tempos e... — Kainã gaguejava, nada que dizia parecia convincente.

— Por acaso está arrependido, Kainã? — Kelmo perguntou, se levantando lentamente.

Kainã olhou para ela ferozmente e já perdendo a paciência.

— Eu não tenho nenhum arrependimento em minha vida! Eu faria tudo novamente!

— Inclusive matar a minha mãe? — Órion interferiu, fazendo com que o ancião perdesse a cabeça por vez.

— Olha aqui seu moleque eu não matei a sua mãe! Ela que foi uma fraca desprezível e ordinária! Agora não me venha com essa... Você vai comigo para Hidda! Isso é uma ordem minha como ancião!

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora