XXVI - PIRATAS?

4 1 0
                                    


O céu estava azul, assim como o mar. As nuvens brancas no horizonte pareciam querer tocar as águas, enquanto algumas colinas se elevavam até a superfície em forma de ilhotas que formavam uma meia lua na visão daquele ponto da praia. Havia muitos coqueiros com seus troncos finos e muitas vezes tortos e caídos ao redor. As ondas faziam um barulho ao transgredir e regredir como se lavasse a areia sob os pés.

Náidius sentia a água molhar os seus pés, era prazeroso, tanto a sensação como o cheiro da maresia que as ondas lhe traziam. Ele queria olhar para o lado esquerdo, para o mar e o horizonte, entretanto, ao seu lado estava Rose. O jovem queria evitar de olhar diretamente nos olhos da elfa, a presença dela lhe deixava nervoso. Por outro lado, ele também queria admirar a paisagem, pois, nunca de fato pode presenciar tão de perto uma praia e a imensidão do mar — desconsiderando o porto em Itakiã.

Os pés de Rose afundavam na areia molhada. Ela segurava na barra do vestido e saltitava ao movimento das ondas, como uma dança alegórica. Ela girava o corpo fazendo as madeixas douradas acompanharem o seu movimento. Náidius sorriu, timidamente.

O corpo magro e franzino da elfa se encaixava perfeitamente no vestido bordado. A face fina e as orelhas pontudas se perdiam no emaranhado das mechas longas e esvoaçantes. Os braços nus exibiam certa sutiliza, tomando um brilho no sol ardente como se fosse uma segunda estrela.

— Dance comigo! Tire os seus sapatos! — ela convidou, segurando na mão dele.

Náidius estava trajado com as roupas de linho de Inarê, de uma cor clara como a areia que ele pisava. As roupas muito folgadas e compridas para ele — já que o elfo era alto e com ombros mais largos — sambavam no vento.

— Eu não sei dançar — Náidius respondeu a elfa, sincero.

— Não dance por não conhecer um passo ou um movimento especial, dance por estar feliz, se movimente com o ritmo da natureza. Venha!

Náidius sorriu. Se agachou e retirou suas botas. Com os caçados em uma mão e os pés na areia molhada, ele deixou Rose lhe guiar nos passos desajeitados pelas ondas do mar. A água molhava a barra de sua calça limpa, ele já não se importava. Mesmo tímido, imitava os movimentos da elfa, girando o seu corpo e saltitando a cada avanço da maré.

Rose ria enquanto os respingos da água molhavam o seu rosto. Náidius acompanhava aquela alegria transparecida em sua face, como se a curva em seus lábios fosse o seu primeiro sorriso em dias. Logo começaram a correr, não muito rápidos e nem muito apressados, apenas saboreando a paisagem, a sensação do vento na face, os pés afundando na areia e o sol queimando a pele.

Alguns rochedos se aproximavam, lajedos irregulares, seguido por uma parede em semicírculo, cerca de dois metros e meio de altura com cumes pontiagudos em algumas partes e um pouco mais planas nas partes mais baixas. Um granito já um tanto erodido pelo choque das ondas.

Ao longe, estava o cais de madeira antigo, com suas tábuas tortas e bastante deteriorado. Rose e Náidius agacharam o corpo, entrando na meia lua formado pelo rochedo, cautelosamente. Escalaram até o topo, pisando nos sucos erodidos do rochedo, e ergueram a cabeça, assim, avistando um navio.

— Eu não disse! — Rose exclamou, sorridente. — Um navio! Sempre tem algum atracado.

Náidius estreitou os olhos na tentativa de enxergar melhor. Eles estavam muito distantes e tudo o que ele via era uma embarcação de madeira com velas brancas abaixadas presas aos seus mastros. Havia algumas pessoas, talvez umas dez reunidas na praia.

— Podemos confiar nessa gente? — Náidius perguntou com certo ceticismo.

Rose olhou para ele sem saber muito o que responder.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora