XII - SUNIRA

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Haiko abriu a porta da velha cabana de seu pai sem bater. Desesperado, ele entrou. Antunes sentado diante de sua mesa de madeira o observou. O elfo estava coberto de sangue por todas as partes do corpo e roupa, entretanto, aquele sangue não era seu.

— O que houve? — Antunes perguntou, calmamente.

— A guerra! Estão matando os elfos! Os humanos estão destruindo tudo! Você precisa fazer alguma coisa. Precisa impedi-los!

Luciano olhou bem para ele.

— Você sabe que tentei evitar...

— Você conversou com os líderes. Não temos tempo pra isso. Você precisa fazer alguma coisa!

Luciano se pôs de pé.

— Eu já tive essa conversa contigo... Nun... — Haiko o interrompeu.

— Nunca machucar ninguém? — Haiko completou ironicamente. — Eu já me cansei disso. Eles estão destruindo tudo! Você e a minha mãe não se importam com este mundo. Não fazem nada!

— Se a humanidade está se destruindo é por culpa dela própria! Você não pode se intrometer!

Foi a primeira vez que Haiko ouviu o seu pai levantar a voz. Ele ficou calado por um tempo, já havia percebido que o feiticeiro não iria mover um dedo para salvar a comunidade élfica.

— Foi um grande erro vim até aqui. Só perdi meu tempo.

Haiko saiu dali.

— Haiko! — Antunes o chamou, mas o jovem já havia disparado em correr em uma super velocidade.

Haiko chegou ao campo de batalha, porém, já era tarde. Não havia mais nenhum guerreiro em pé. Apenas armas espalhadas por todo aquele território pedregoso, desértico. Uma pilha de corpos espalhados, destroçados, cobertos de flechas, sem alguns membros, com as entranhas servindo de alimento a animais selvagens. Eram humanos, eram elfos. Todos estavam mortos.

Haiko caiu de joelhos no chão. Atônito. O cheiro da morte lhe deixava pesaroso. Derrotado afinal. O povo élfico, o povo que lhe acolheu, o povo que era o seu povo havia sido dizimado por vez. Sobrou algum elfo? Ele não sabe, talvez ele fosse o único.

Os humanos haviam conseguido. Mais uma vez a arrogância e a ganância causaram a destruição. Era sempre assim. Eles destruíram tudo por onde passavam: A natureza em si, outras espécies, as próprias casas, si próprios. Ninguém impedia. O seu pai, Luciano Antunes, apenas consentia naqueles atos atroz. A sua mãe, a própria deusa que criou tudo, ignorava os seus pedidos, ignorava ele próprio. Não era justo criar um mundo onde se reinava o caos e a destruição. Por que uma deusa com tamanho poder não era capaz de mudar tudo?

Começou a chover. Raios riscavam o céu em relâmpagos ofuscantes. Haiko olhava para o céu, para os pingos gelados que caiam em sua face, molhando uma mecha de cabelo que grudava na sua pele.

— Maldita... — Ele falou, após um trovão ensurdecedor. — Sua...

Ele não conseguia completar sua frase. Era difícil pronunciar ofensas contra Isth, ofensas contra sua mãe que sequer nem conhecia. Mas estava tudo errado. A culpa era dela e somente dela.

Ele se levantou e fechou os punhos. Olhando para o céu continuamente, como se conseguisse falar com a própria Isth, ele cerrou os dentes. Em tom de ameaça ele gritou alto e firme, mais alto que o barulho da chuva que caía torrencialmente.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora