Deixe ir, Deixe ir; O carro de fuga

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Joe me cuidou por um dia inteiro E quando falo cuidou, foi cuidou mesmo. Se arriscou na cozinha e disse que faria tudo. Sumiu por algumas horas e voltou falado que havia lavado suas – o que mais tarde se transformaria em nossas - roupas. Não tive - e ainda não criei - coragem para perguntar onde Taylor está. Pois não quero saber a resposta para essa pergunta e acho que meus sonhos podem me atormentar por alguns dias mais.

Abro a geladeira e apanho um pedaço de bolo de chocolate. Com a mão. Espero que Joe não veja essa cena.

Bom, está frio.

...

- Posso fazer o jantar se quiser, Jay.

Ela arrisca tirar as mãos da louça, mas desiste.

- Que nada. Pode deixar comigo.

- Estou apenas sem cabeça. Ainda posso cozinhar se quiser. - Sugiro indo para a geladeira.

- É apenas um ferimento. Estarei fora desse país antes de você tirar esse curativo.

Ponho os ingredientes necessários no balcão e encosto minha cintura nele.

- Como assim? Preciso de um enfermeiro em tempo integral.

- Não consigo - e na verdade - não posso - na verdade - ficar aqui.

- Hm. Então eu terei que cuidar do caso Taylor só?

Ela apanha o guardanapo e cobre sua mão, a secando em seguida.

- Você disse que ia cuidar do jantar. Cuide. - Resmunga.

Seguro as cenouras e corro para a pia, o obedecendo.

...

Seja lá o que estou comendo, está delicioso. Tem queijo, cenouras, filé e uma garrafa de vinho. Comemos em silêncio. Alguns barulhos vindos de Jay - em sua maioria, a mastigação - e nada mais.

- Gostei.

- De quê? - Pergunta, botando o punho fechado com o garfo em frente a boca.

- Do jantar.

Ela murmura. Eu pigarreio.

- Estou tentando puxar assunto.

...

Eu não dormi. Meus conflitos internos, pensamentos e tudo o que aconteceu me permeou de tal maneira que não pude. Mudei a poltrona de lugar e a coloquei em frente a janela infinita. Depois me levantei à procura de uma coberta. E assim estou. O nascer do Sol agora parece nascer mais longe que anteriormente. Queria ir a praia. Mas me lembro de Taylor e logo descarto a ideia. O motivo é aceitável: estou no meio do nada com duas pessoas que estão comigo por um teto. Eles não sabem o que sinto. O que é bem normal. As bordas da janela infinita me zombam por existir.

...

(Narrado por Joe, algumas horas depois [...] )

Meu celular vibra em algum lugar longe na cama. Me mexo mais um pouco e tento retornar ao sono, mas não prego os olhos. Eles se mantem aberto e decidem fitar a janela. Alguém bate à porta. Digo que pode entrar.

- Joe! Dormiu bem?

Me obrigo a abrir os olhos e os esfregar, para deixar o restante sono ir. Só podia ser Harry. E é. Ele pigarreia e tenta falar mais alto que anteriormente.

31 de 1989Onde histórias criam vida. Descubra agora