Da mesa de jantar (Parte 1)

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O filme na televisão que está sendo exibido na - única, exclusiva e excepcional - televisão é incrível. É sobre uma guerra. Bom, isso ganha metade dos créditos por ele ser bom. Taylor – minha única, exclusiva e excepcional companheira sobre noite de filmes - está de óculos lendo as legendas – em francês, como uma boa americana, que obviamente já fala a maior língua do mundo, atualmente - calmamente e sem fazer um ruído sequer. Dividimos uma coberta. Intimidade mútua ainda não acontece, mas por total precaução, cruzo os braços e restrinjo tudo a simples múrmuros quando o filme me surpreende. E mesmo ele sendo bom, não ocorreu muitas vezes.

Ela tira os óculos e sempre massageia os olhos. É como se eles ardessem e esse ciclo melhorasse o incômodo. Ainda assim, não trocamos uma palavra. O filme chega ao clímax em um curto período de tempo, no qual estou imerso em meus pensamentos sobre a cena que me é exibida agora. Suspiro incomodado, esperando algum movimento, fala ou expressão dela para puxar assunto. Um raio cai no mar e um estrondo é ouvido. As gotas de água caem mais forte contra a janela. A temperatura da casa parece cair mais e mais. E agora, Taylor desce da cama e caminha até a janela, fechando a cortina.

- Você não acha que está ficando mais frio, quando deveria estar ficando mais aquecida a casa?

Ela empurra os óculos em um movimento familiar e cruza os braços.

- Eu também achei. - Diz, entre uma respiração funda. - Assim que terminar eu vejo.

Antes de Taylor posicionar sua perna na cama, outro raio é possível ouvir. Algum vento que entrou por uma, das milhares de janelas começa a congelar. Seus olhos encontram os meus rapidamente.

- Precisamos ver isso agora. - Indica Taylor, logo disparando para a porta. Saio logo atrás dela. Deixo minha mão apoia na porta enquanto ela está no meu.

- Me espere na sala. Temos que descer para o porão e ver o aquecedor.

-Mas Taylor, a....

As luzes se apagam, e de início, me assusto. Estico os braços para tentar tocar em algo e me localizar pela sala, até achar Taylor, e essa, eu conheço muito bem. O toque. Entende?

- Desculpa. - Digo, afastando-me do toque.

- Sem problemas, aqui, - Uma luz surge e acaba iluminando nosso local. - Segure meu celular, irei buscar algumas lanternas no depósito.

Taylor volta depois de 7 minutos com uma lanterna. Duas, pois seu celular que está comigo também está com sua luz brilhante ligada apontando para ela. Ela encosta no nicho mais extremo, o que fica perto da janela infinita e dá uma minuciosa olhada.

- Harry. - Diz, balançando a lanterna do celular, me fazendo a olhar. - Me passa o controle da televisão.

Olho para a mesa de centro e não vejo nada.

- Não tem controle nenhum aqui.

A observo e ela logo me acerta com a luz, que magicamente reflete sobre um aparelho pequeno preto brilhante.

- Achou?

Rio e caminho até ela, a entregando o aparelho.

- E agora, o que você vai fazer? Nem televisão tem aqui...

Agora, Taylor olha para o teto e quando vejo, uma gorda vem descendo calmamente, ou em outros termos, naquela velocidade ridícula de coisas mecânicas que fazem barulho de ferragens. Quando a corda já bem perto de Taylor, ela a puxa.

- Harry, vem aqui. - Me aproximo dela, com a lanterna entre o braço, ainda capenga. - Você é forte, puxe essa corda.

Seguro a corda e antes de puxar, olho para Taylor, a desafiando.

31 de 1989Onde histórias criam vida. Descubra agora