"I Know Places" (Capítulo Extra)

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- E agora? O que você quer fazer?

Me sobrepus na mesa e esperei a resposta mais fiel.

- Vocês poderiam ir para casa um do outro, passar uma tarde, se conhecerem melhor, o que acham?

Disse Michael.

- Por mim tudo bem.

Ótimo.

Ele deu aquele sorriso de lado de sempre e se levantou.

Calmamente. Abraçou Michael e se despediu. Meu advogado na época apenas deu um pequeno tapinha nas minhas costas e saiu. Quando saímos porta afora, não saímos pela entrada normal. Foi pela garagem, atrás do prédio. Quando chegamos em sua novíssima casa, ele me levou para o balcão da cozinha. Tirou dois copos do armário e os deixou em cada ponto extremo da mesa.

- Me fala mais sobre você... Do que você gosta. Aceita beber algo? Álcool, principalmente.

- Aceito.

Ele se abaixo e pegou uma garrafa pequena e larga, depositou o líquido nos copos e se sentou à minha frente. Busquei-o para mais perto de mim e deixei meus dedos passarem ao redor do corpo e falei.

- O que você quer saber?

- O que você gosta de comer? Tipo, nem parece que você come.

- Eu como, Harry. Felizmente eu gosto de massas.

Ele deu um gole, me tentando a fazer o mesmo, mas meus dedos ainda preferiam tocar no gélido balcão a que o copo.

- Por que você ainda não bebeu?

- Não sei.

Mentira, eu sabia.

- Hmmm, gosta de Londres?

- Sim! Acho legal o clima, os prédios. E a arquitetura? Nossa, ainda me surpreendo muito quando chove bastante por aqui

- Legal, não?

Não dei resposta. Respirei fundo. E decidi que ainda não estava na hora de mergulhar minha garganta no álcool. Muito menos enquanto essas perguntas continuarem.

Isso é estranho.

- O quê?

- O contrato. A super estrela do pop. A indústria da música. Você tem uma boa carreira...

O interrompi com o barulho fervoroso do álcool descendo minha garganta. Quando devolvi o copo a mesa, ele fez o que já esperava: riu.

- Vai com calma. Temos tempo ainda.

- Você é o sonho de toda a população mundial.

Me levantei do balcão e continuei a falar.

- Claro que não.

- Ainda não terminei de falar, Harry.

Ele rubrou. E foi aí, que percebi, o que realmente queria.

- Você tem essas coisas. Estilo? Eu não sei. As pessoas me dizem que você é bonito demais. Isso deve valer algo.

- Você também não é lá essas coisas. Apenas uma cantora. Mas de coração.

- Se acha engraçado? Literalmente, você não é.

- Não foge do assunto. O contrato.

- Sou apenas uma cantora. Tenho medo de ser esquecida.

- E aqui está uma revelação!

Me arrependi de ter falado aquilo. Eu podia olhar para ele. Ver algo além da pessoa que todos veem. Depois disso, mostrei que era apenas eu ali. Me dirigi ao lavabo e tirei toda a minha maquiagem. Todo o batom. Todo vestígio da reunião. Me sentia como se estivesse na casa de algum familiar. Era como se meus parentes ficassem todos em uma mesma sala comigo. Sem minha mãe para perguntar sobre como cada um estava. Sem meu pai para falar algo engraçado. Apenas eu. Em um lugar apertado demais.

31 de 1989Onde histórias criam vida. Descubra agora