"Em uma tempestade, com o meu melhor vestido" (Final Alternativo - N° 2)

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A cama esta vazia.

Totalmente vazia.

A não ser pela minha massa despejada de maneira desproporcional pela cama vazia demais.

Ela segurou minha mão, na noite anterior.

Ela me tocou.

Me beijou com sua mão.

Tocou sua testa aveludada na minha. Ela pensou em dizer "Sim" - e ter ficado.

Mas agora estou só.

Estou com minha cabeça prestes a explodir.

(Ela me beijou)

Desço da cama e tiro minha camisa, a jogando no local que acabo de desocupar.

Depois, corro para o banheiro, expelindo meu intestino antes mesmo de chegar a privada.

...

Estou sentado no chão, com o rosto sujo. Minha saliva tem gosto de álcool estragado. Tusso a cada segundo, buscando ar e formas de cessar e impedir que algo mais saia de mim. Nada resolve. Me levanto, com bastante dificuldade e seguro a borda da pia com força. Olho para o espelho, que segundos após, escorre sangue, e deixa seus pedaços partilhados cair do chão.

...

Limpei o banheiro e agora estou indo para o quarto.

Pegarei tudo dela.

Tudo e farei a mesma coisa qu fiz anos atrás: Fingir que ela não existiu para mim.

Ela também não deve sentir minha casa, se tivesse, teria acordado ao meu lado. Após, conversaríamos e tomaríamos café. Tocaríamos alguma música e veríamos o pôr-do-sol. Nosso perfeito final feli. Mas não.

Eu vomitei em meu banheiro - como um crianção de quase dois metros.

Já aconteceu a mesma coisa. Na minha festa de seis anos, lembro de ter acordado e vomitado ao lado da cama. Após expelir tudo, eu apenas me cobri com minha manta, voltando ao sono.

E é assim que funciona.

Minha mão ainda sangra, mas não tem problema, a camiseta estanca o sangue.

...

Armo minha cadeira e sento, com cuidado para não derrubar todo o vinho ou sujar o novo curativo.

Mesmo assim, ao sentar, lanço a taça, que ao colidir com a pilha - que tem como base a minha cama - de lençóis derrama todo o líquido branco, o manchando.

Suspiro mais um pouco e observo o ar.

Boto a mão no bolso e puxo o maço de cigarros - ainda embalado, porém amassado - e meu isqueiro.

Rasgo o lacre da embalagem e o despejo na pilha, mas o vento o leva para longe, parando perto do gramofone dourado.

Com o cigarro entre-lábios, o acendo.

Trago sem medo de engasgar ou ficar com o cheiro da fumaça em minhas roupas.

Esbaforo, deixando o ar antes aspirado sair.

Fico brincando com o isqueiro. Acendo, depois apago.

Até jogá-lo na pilha, que logo se consome e espalha.

Consigo sentir a chama quente em meus olhos.

É como um martírio desumanizado.

Agora, finalmente, acabou.

31 de 1989Onde histórias criam vida. Descubra agora