Dança da chuva

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Taylor me abraça quase me sufocando. Sua cabeça colada a minha em meio a chuva em um dia de julho. Não consigo acreditar que isso está realmente acontecendo pois simplesmente, não lembro de nada.

Saímos pela praia. Taylor me mostrou outro caminho, mas ainda não havíamos retornado para a casa. Recolocando-nos no lugar, ambicionávamos uma coisa tão pequena: escrever na areia. Pegamos alguns gravetos e brincávamos de ser Joana D'arc: nenhuma guerra podia parecer grande demais para nós dois. Antes de terminarmos tudo, sentimos a fina chuva que decidiu arrastar-se para perto de nós.

No primeiro instante, sofremos um baque por não sabemos o que fazer: deveríamos correr ou simplesmente ficar e esperar a chuva fazer o que sabe fazer de melhor. Tenho certeza que é molhar, mas vou prestar mais atenção na próxima vez. Ela pulava e a areia presa em seus pés, a que engatava justo na hora que seu corpo lembrava de algo chamada gravidade, soltava e logo era dissipada pela chuva.

Meu cabelo apenas grudava em meu rosto: era como se cada gota somasse a essa mistura terrível e empacasse na absorção do momento. A areia parecia tão gosmenta sobre nossos pés. Taylor avançou para o oceano correndo (assim como tudo o que fizemos, envolvia correr) e se instalou na faixa que a água não passava de nossos calcanhares e olhou para o céu, abriu a boca e esperou as gostas caírem. Logo, fiz o mesmo trajeto que ela. As pegadas de Taylor, agora, não passavam de buracos tortos e alagados, assim como as minhas logo ficariam.

Me aproximei dela, frente a frente, e logo sua mão estava no meu ombro molhado. Ela sorriu e voltou para sua posição. Eu rapidamente me obriguei a fazê-la. Quem nos observasse de longe, não poderia ouvir nada. Taylor tirou a mãos de meu ombro é saiu correndo, saltitando e gritando. Fiz o mesmo, como se precisasse gritar apenas para desabafar e dizer coisas em voz alta.

Taylor chutava a água rasteira sobre mim, fato que não tinha tanta força devido eu já estar molhado. Quando ficamos nesses movimentos, não percebemos que o dia já se pôs e que devemos entrar. A chuva não mudou de intensidade, continuaram chegando nuvens e mais nuvens que choram sobre nós. Taylor me puxou para perto da escadaria. Ela estava completamente molhada e quando a tentei adverter sobre o risco de subirmos, tive que repetir: ela não havia me ouvido e quando terminou sugeriu que devíamos ir por um caminho que daria para atrás da casa - que eu ainda devia não conhecer. Com sua mão segurando a minha, ela me levou até uma gruta com uns três metros de altura, ela estava escura demais. A beleza era incrível, algumas espécies de plantas balançavam e respingavam gotículas de água. Quase perdi o tempo olhando cada detalhe. Mesmo assim, Taylor me desbancou e entrou. Esperando que...

- HARRY! ACORDE! POR QUE VOCÊ ESTÁ EM NICHO? VAMOS, ACORDE!

Abro meus olhos lentamente. Mesmo com eles abertos, a luz parece forte demais. Assim que me levanto, meu pescoço me devolve o que eu fiz com ele: dormi todo torto em um espaço minúsculo e agora, ele dói. Levanto minhas mãos e seguro na parte extrema do nicho para me dar impulso para me levantar. Assim que fico de pé, minha vista fica turva. Taylor aparece no meu campo de visão com um copo cheio de água. Ela fica em frente de mim. Sua mão cobre minha bochecha e me dá vários tapinhas.

- Hey, ACORDE. Vamos, Harry.

Observo seus movimentos com cautela, ainda mais ela repulsa que sinto ao ver seus dedos entrarem no copo e logo caminharem pelos meus olhos. Taylor se afasta, e deixa o copo na mesa de centro.

- Eu deveria te levantar e te mostrar para o reino das pedras lá embaixo.

- "Rei leão"? Jura?

Seu sorriso logo branda e mostra os dentes de uma forma diferente dessa vez.

- Vem, quer assistir tevê'?

Dou uma rápida olhada na sala e percebo que não existe um aparelho televisivo.

- E onde ela estaria?

- No meu quarto. O que acha de me acompanhar, Mr. Styles?

31 de 1989Onde histórias criam vida. Descubra agora