Um dia ou outro

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Acordo com o som irritante da campainha.

Tenho que sair e só ao descer as escadas, percebo que a moça que me ajuda a manter essa casa adequada já abriu, e que Michael, a antiga possível ex-visita, está sentando ao sofá.

- Michael? o que está fazendo tão cedo aqui? - Pergunto logo ao descer as escadas, indo para a cozinha procurar algo para comer. Ao abrir a geladeira, pego uma garrafa d'água, abro-a e começo a bebericar.

- Querido Harry - ele se levanta do sofá e anda até a porta da geladeira onde eu estou. - Sua namorada terminou com o querido namoradinho.

Me engasgo com a água e fico sem reação. O seu tom medíocre e de fofoca não ajuda em nada.

- Como é que é? - pergunto alvoraçado.

- Você não viu o que ela publicou?

Fecho a geladeira e caminho até o balcão me sentando em uma cadeira.

- Sim, mas aquilo não significava nada.

Ela solta uma risada de fumante e me irrita, por que nem fumar ele fuma.

- Aviões de papel? Jura, Harry? Achei que a pessoa que pagasse meu salário fosse um pouco mais inteligente ou fizesse uso da cabeça.

- Epa, eu pago seu salário? - pergunto me irritando mais ainda. - Achei que fosse a produtora ou algo assim.

- Parte de tudo que você vende e ganha com isso, vem para mim.

- Idiota - Resmungo revirando os olhos.

- Me respeita, garoto. Eu podia ter sido seu pai! - ele exclama irritado avançando e se apoiando mais para frente no balcão.

- Graças a deus minha mãe não ficou cega - Me levanto e faço o mesmo.

Nos olhamos seriamente, apoiados no balcão. Começamos a rir até perder o fôlego e sentarmos novamente.

- Engraçadinho você, não? Pirralho metido.

- Sou sim, mas me conte, qual foi dessa vez?

- A Taylor terminou com aquele garoto. E meio que anunciou o namoro de vocês.

- Jura, que merda - Me levanto para deixar a garrafa novamente na geladeira e ir para a sala. Novamente, Michael me segue.

- Só faltou o convite do jantar na casa dos pais dela. Mesmo assim, já é a postagem mais curtida e com mais republicações do ano e seu nome está em tudo quanto é lugar.

- Isso pelo menos está fazendo meu álbum vender mais?

Me sento no sofá e ele faz o mesmo.

- Sim.

Dou de ombros e pareço não ligar, mas minha alma pula e grita de felicidade.

A campainha toca me fazendo pular do sofá. Saio para atender, deixando Michael no sofá. Quando a abro, me surpreendo por dois motivos: não é a Taylor que estava esperando abrir, é um carteiro. Me surpreendo mais ainda por pensar que ela estaria aqui, ou o por que, se estivesse, de estar aqui.

- Sr. Styles?- Me pergunta

- Sim, eu.

- Encomenda, apenas assine aqui - ele me entrega uma caixa branca de laço preto e uma prancheta com uma caneta para eu assinar. Depois de assinar e entregar, ele me deseja bom dia e sai.

- Quem era? - pergunta Michael logo atrás de mim, bisbilhotando por cima de meus ombros.

- Carteiro. Encomenda.

- Está esperando o quê? Abra logo- ela exclama, parece que ele já faz ideia do que seja e pelo amor de deus, isso me irrita demais.

- Okay - ando até o sofá e deixo a caixa na mesa de centro. Respiro fundo e observo Michael sentado - agora - na poltrona me olhando. Tiro o laço e a parte superior da caixa. É uma... escultura?

- O que é? Vamos, mostre logo - Michael me pressiona a cada segundo.

É uma escultura dourada de um torso feminino. Ao redor, tem uma carta. Deixo a escultura na mesa e Michael prontamente a ataca com suas mãos nada delicadas para saber o que era enquanto vou para a ela. Abro-a e sinto um aperto no coração.

E aqui está: mais uma Polaroid dela. Sem nada escrito na parte da frente. Viro-a e está escrito.

"Já se considera meu namorado? Ainda não? Considere isso nosso pedido de namoro... "

Começo a rir, fazendo Michael correr até meu lado.

- Ela está apaixonada por você! - Exclama, me fazendo virar para ele.

- Não está, Michael - respondo, perdendo totalmente a minha felicidade. Ela se esvai, e se cobre com o tecido mais grosso e pesado que há e fica quietinha. - E sabe o porquê?

Ele discorda com a cabeça e eu o entrego a foto, me afastando.

-Eu me apaixonei primeiro. - Me reprimo a pensar que na verdade, apenas eu me apaixonei. - E hoje moro sozinho nesta casa enorme que aliás, ela me ajudou a escolher. Na Inglaterra! Enquanto ela fica em Nova York com caras que deveriam ser coroinhas de igrejas em Manhattan e eu? Eu fico aqui. Em Londres.

Michael me olha com tristeza e eu sei o porquê. Eu respiro e saio andando.

Quando vejo estou em um dos quatro quartos de hóspedes. Esse é o meu favorito. Além de ser o segundo maior - atrás apenas do meu -, é bonito e por incrível que pareça, foi ela que escolheu as cores - rosa e preto, a cama, e o armário vintage da parede rosa.

Esse quarto era quando ela morava aqui. Deito na cama e espero o sono vir.

***

- Harry? está acordado? - responde com uma pergunta a voz animada no outro lado.

- Sim, você me acordou... Desculpa, mas quem está falando? - pergunto afastando o celular da orelha e olhando o visor que informa que é Taylor. - Taylor? qual o motivo dessa ligação tão tarde? São quatro da manhã...

Ela ri me fazendo revirar os olhos.

- Bobinho, são sete da noite, não sou uma maníaca por te ligar no meio da madrugada e ir parar no seu jardim e você dormir no sofá e eu na sua cama.

- Mas você...

- Cala a boca. Bom, são quatro da tarde e eu estou entediada, por favor, me convide gentilmente para sua casa antes que eu tente me matar e no lugar de "Ex da Taylor" você vire o "Último Ex Da Taylor". O que acha?

Fico em total silêncio. Pensando, imaginando que se eu aceitar isso, terei no máximo vinte minutos para ficar descente.

- Isso é um sim? Por que eu estou pouco me lixando se você fizer uma música dizendo: Me perdoa por não ter deixado você vir a minha...

- Vem logo, 30 minutos. Vamos pedir pizza. Contate um fotógrafo que faça com que você pareça triste e solitária antes de entrar, e que depois ele registre sua real felicidade ao...

Ela parece que ama me interromper. Penso rapidamente que será para fazer um plano melhor em relação ao contrato ou as fotos que teremos que tirar, mas não.

- Eu estou indo. Me espere. Sabe meu sabor favorito de pizza?

Abaixo a cabeça e sorrio quase tenho a impressão de que ela percebe esse sorriso. Mesmo que seja em pensamento.

- Sei. Agora eu preciso ir, tenho um encontro com alguém especial.

- Essa pessoa começa com "T"? - me pergunta rindo no outro lado.

- Acho que com "L" que não é....

-AH!, eu peguei a referência!

Eu rio de propósito, apenas para ela rir de novo.

- Tchau... - digo quando as risadas param.

- Tchau... - ela responde no mesmo tom.

Assim que desligo o telefone, saio correndo pelo corredor. Por que em menos de trinta minutos , eu terei um encontro.

31 de 1989Onde histórias criam vida. Descubra agora