O garoto da porta ao lado - ou o que costumava ser.

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- Ainda voltaremos para minha casa?

Sem largar o volante, ou a visão da estrada, Taylor responde.

- Acho que sim. terminaremos lá de uma forma ou outra.

...

- Vocês não deveriam estar aqui. Tipo, não. De jeito algum.

O guarda diz, vendo nossas míseras faces.

- Temos residência aqui.

- Bom, vocês são de lugares diferentes e, fiquem aqui por alguns instantes, deixa eu ver aqui.

Ele entra em uma cabine. No pequeno vidro sombreado, ainda se pode ver alguns movimentos: como sua sombra buscando o telefone na mesa, ou ela se atrapalhando para discar o número ou talvez apenas deixando sua caneta cair.

- Taylor, tem certeza que é uma boa ideia? Podemos sofrer danos, você pode ser banida do país...

- Que nada! Qualquer coisa, você molha o biscoito dele. Assim, ele fica tranquilinho...

Olho para a cabine. Delicado moço parece normal e ainda nervoso, ao perceber que o observo, ele derruba mais uma caneta.

- Não posso me deitar com ele.

- O quê?

- Ter... relações... tipo, você sabe... não.

- Eu apenas disse para você subornar o cara... deia algum trocado e entramos, simples. Agora sexo? Você passou dos limites.

Taylor ri, debochando minha cara.

A porta da cabine sai para fora, ao tocar do cara.

Ela vem caminhando - todo desengonçado - até chegar perto de nós.

- Estão liberados. Podem ir.

Sorrio para ela e pego os documentos. Taylor logo vira para entrar no carro, mas, o cara me chama.

- Ah, dude. Posso falar com você um minuto?

- Claro. - Me aproximo. - Pode falar.

- Parece que sua companheira tem casas. Casas demais na Grã-Bretanha. Tipo, tem uma aqui e duas em Londres. Uma é bem perto da...

Taylor buzina, e grita, por cabeças a fora da janela.

- Entre antes que eu te extermine.

Olho para o guarda e sorrio - novamente!

- Preciso ir. Te vejo por aí.

Bom, não tenho certeza...

***

- Essa cidade está vazia demais. Vamos fazer o que? Brincar de pique-esconde?

- Basicamente, tem um quintal grande. Pensei em compor um pouco e curtir você.

Suspiramos, em um certo atraso de tempo

- Okay.

- Você está feliz?

...

Abrimos a porta da casa e entramos. Tem uma cesta chora de correspondência. A casa está um brinco: toda arrumada em seus mínimos detalhes.

- Mais uma casa para meu namorado. Finalmente algo interessante para se gastar dinheiro.

Diz Taylor, me roubando um beijo na bochecha.

- Então estamos namorando?

- Se você acha, pode ser.

Concordo, sorrindo fraco.

- Ah, Taylor... Onde fica nosso quarto?

Ela ainda está olhando a sala com seu ar detetivesco como se faltasse algo.

- Taylor?

- Um momento, eu ainda estou perdida.

...

Taylor está no banho há mais de trinta minutos. Tive tempo suficiente para desfazer as malas e olhar as redondezas pelo meu dispositivo. Estamos em um recorte da vegetação nativa, no centro da cidade. No prédio ao lado direito, tem um prédio enorme e super moderno. E a nossa esquerda tem uma casa - mansão diferente. Parece ter acabado de ser construída, e o valor de mercado deve estar alto demais.

- Hey.

Taylor diz, colocando a cabeça molhada para dentro do compartimento. Sua toalha cola em seu corpo, mas não o suficiente para mostrar sua nudez.

- Hey.

- O banheiro está disponível

- Eu já vou.

Ela suspira e vem pisando na ponta dos seus pés, com medo de molhar o piso. Ao se sentar perto de mim, põe a mão em meu joelho, sem medo de molhar.

- Está difícil?

- Mais do que você imagina.

A partir de agora, ponho minha mão sobre sua.

- Eu posso te dar um espaço, se quiser.

Nego, com os lábios reprimidos e ainda com o a vista para nossas mãos - pálidas.

- Parece ter acabado, sabe? Estamos no topo da montanha. E simplesmente me parece que eu apenas estou restrito a duas opções: ou aproveitar a vista, ou reclamar do caminho até lá. Acabou...

Ela, como feito em meu pensamento, não replica minha fala. Detém em seus pensamentos o silêncio, e a paz.

- Nunca acaba, realmente. e bom... você subiu uma montanha. Esperei muito por isso. Posso esperar mais e esperar. Se você gostava da bagunça que éramos, posso tentar te esquecer e vender mais uma casa.

Não respondo. Saio para o banheiro e imagino o shampoo de morango, com a água quente.

...

Sai para uma caminhada em um dos parques mais lindos que já vi - exceto aquele em que dei meu primeiro beijo (aquele sim, ah!, que parque). A cor dessa cidade é verde. Verde para todo o lado. Meu sapato de caminhada está destroçado. Corri um quilômetro e me senti um atleta quebrando a barreira do som. Mesmo ao parar, meu pensamento não fez a mesma razão. Taylor. Eu sai de casa desde o momento que minha roupa - qualquer coisa possível para correr - e sai. Corri sem parar. Sem olhar para trás.

Ao girar a maçaneta sinto o cheiro de comida. Temperos borbulhantes. Vejo o bater de panelas e volto para a realidade.

-Taylor. - Grito. - Chegei.

-Estou na cozinha. Venha cá.

Tiro os fones e jogo nos bolsos e configuro meu celular a parar.

Chego na cozinha e vejo taylor, preparando deliciosos e fartos pedaços de carne, com uma garrafa de vinho ao seu lado, é óbvio.

-Nem percebi que você tinha dado no pé.

-Precisava correr. E você, ficou fazendo o que?

Ela dá um gole – diretamente do gargalo - e suspira, quase que em um soluço.

-Cozinhando, não é óbvio?

Sorrio e coço meu cabelo, molhado pelo o suor, o que me faz quase gorfar.

-Preciso de um banho. Toalhas no quarto?

-Sim. Pode ir lá.

Me solto do balcão e vou para os quartos, que ficam no andar superior.

Ao chegar lá, fecho a porta do nosso quarto fechado.

Tento abrí-la, mas sem sucesso.

E me viro, de modo que minha costa encoste na porta.

Por que minhas malas estão no quarto a frente?

31 de 1989Onde histórias criam vida. Descubra agora