"Bem-vindo a Nova York"

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- Eu me sentia bem sair de casa, viajar e todas essas coisas. Ficar preso em casa é uma merda. O medo de ser pego de surpresa por algo tão pequeno é enorme. Então, após fazer testes, baterias de exames, alguns telefonemas, finalmente podemos viajar e puta merda, nunca achei que seria tão difícil sair de Londres, atravessar o Atlântico e parar em Nova York. Mesmo com tantas restrições, precisaria de mais sete dias e tudo mais. Ser monitorado ainda levava mais uns dois dias. Então, de Londres até aqui, ficamos uns quinze dias parado. Michael queria me matar, mas, depois desse tempo, seria questões de segundos para voltar ao normal. E realmente foi, nada de testes, mesmo com regras mais rígidas aqui do que na Europa. Então, eu avisei Michael que iria até o endereço de Taylor. Ele se irritou e me xingou de coisas terríveis, mesmo após termos passados por coisas piores até chegar aqui. Tive que correr e chegar com um livro para o filho dele. Que me puxou para o quarto, onde pude relaxar na cama pequena. O mais importante, é que em 20 minutos, um pedaço rasgado de uma folha de papel passou por debaixo da porta me autorizando a ir. Eu sai correndo, parei na rua e entrei no primeiro carro que eu vi. E cheguei até aqui. O que você acha?

- Uma porcaria, sinceramente, eu achei horrível, até eu sei falar coisas melhores.

O garoto além de ser inteligente para caramba, é um saco.

- E você quer que eu faça o que, querido Lawrence?

- Me tira dessa casa, troca de roupa, pegue um táxi, e compre um livro para mim. Soube que as edições americanas são mais bonitas, tem algumas com capas super "edições-limitadas". Sem falar que, nossa, fiquei muito feliz quando a aeromoça me perguntou algo e eu respondi com o sotaque daqui.

- Como assim? Trocar de roupa? Qual o problema? Você tem grana, por que não pede para o Michael? Até parece que você nunca veio aqui.

Olho para mim e estou de calças velhas, uma pantufa que a princípio era branca - agora cinza - e uma camisa suja. É, preciso trocar.

- Okay Nikola Tesla, eu troco.

Saio do quarto e grito.

- Nada de livros americanos. Temos Harry Potter!

- É tudo, ou nada! Não gosto dessa droga!

- Vamos pelo nada. E sou o Harry. - Suspiro e rio.

Depois de pedir gentilmente para Betty o pequeno cupido emprestado e para o casca grossa do Michael, saímos. São quatro da tarde. Graças a deus ainda não está frio ou algo tipo. Apenas o frio em que estou acostumado.

- Você sabe o endereço dela aqui? - Me pergunta o pequeno gênio quando entramos no carro alugado.

- Sim, acho que deve ser o mesmo de...

- Tantos anos? Que vacilo hein, Styles? Coloca o cinto e me mostra essa cidade perdida.

Obedeço como alguém da idade dele. E antes que percebo, estou sendo enganado.

- Para de mandar em mim.

- Não até você me dar o livro.

- Não vou dar.

- Eu saio do carro agora.

Ele faz o movimento de sair e me deixa assustado. Em um movimento sem pensar, aperto a buzina espantando os pombos que estavam ali, saindo voando acima dos prédios.

- Para de gritar!

Ele grita e faz eu virar na sua direção e gritar mais alto ainda.

- Para você! Você tem idade para ser meu filho! Se enxerga!

31 de 1989Onde histórias criam vida. Descubra agora