Parte 1 - Marco

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Fevereiro 1999

Acordei sobressaltado com a minha mãe aos berros no quarto ao lado. Em pezinhos de lã, fui ao quarto dos meus pais tentar perceber o que se estava a passar.

- O teu irmão vai nascer, Marco! Vai buscar o meu telemóvel e as chaves do carro! Mas despacha-te! - gritou o meu pai.

- O quê!? Mas hoje é o meu aniversário! Não consegues aguentar o mano aí dentro mais um dia!? Ele pode nascer amanhã, mas hoje não! - mal acabei de falar, os meus pais olharam para mim com uma expressão de surpresa misturada com preocupação.

- Filho, as coisas não funcionam assim. É o teu irmão que decide quando está pronto para nascer, não sou eu. - respondeu a minha mãe. - Ele pode nascer hoje ou não, só que as contrações servem para avisar que o dia do parto está a chegar.

- Aff... Mas isto é tão injusto! Não quero passar o meu aniversário num hospital à espera que tenhas o mano! E além do mais, vocês ainda nem escolheram o nome!

- Nós ainda não escolhemos o nome, porque queremos que sejas tu a fazê-lo.

- De verdade!?

- Sim, de verdade, vai ser a tua tarefa especial de aniversário! Vai pensando nisso, mas agora preciso que vás buscar as chaves do carro e o meu telemóvel, pode ser? Temos de ir para o hospital imediatamente!

- Sim, pai!

Ficámos pouco tempo no hospital porque afinal tinha sido um falso alarme. Fiquei bastante aliviado, não iria ter de partilhar o meu aniversário com ninguém! A mãe prometeu que, para compensar a agitação que houve de manhã iria fazer o meu bolo favorito. Prometeu também que encomendaria pizzas para o almoço e que eu podia convidar alguns amigos. Estávamos quase a chegar a casa quando o pai me perguntou:

- Então, já decidiste qual vai ser o nome do mano?

- Mais ou menos... estou indeciso entre dois...

- Talvez nós possamos ajudar - sugeriu a mãe.

- Bem... estou indeciso entre Miguel e Afonso...

- Que ótimas escolhas! - disse a mãe.

- Realmente estou impressionado! A que se deve essa seleção? - perguntou o pai.

- Então, Miguel era o nome do avô, não era? E Afonso é simplesmente porque eu gosto.

- Muito bem, filho! Acho que vamos optar por Miguel, não achas querido? - disse a mãe.

- Sem dúvida! - concordou o meu pai! - Onde quer que esteja, o avô vai gostar muito desta homenagem!


Fevereiro 1999

Cinco dias depois do meu aniversário, o Miguel nasceu e a minha vida mudou para sempre. Deixei de ser filho único e de ter a atenção dos meus pais só para mim e passei a partilhar tudo com um bebé de três quilos e meio que só chora, come e dorme. Os meus pais nunca me perguntaram se eu gostava de ter um irmão, apenas chegaram ao pé de mim um dia e disseram que a mãe tinha um bebé na barriga e que, por isso, eu seria promovido a irmão mais velho. Foi tudo muito rápido, quase nem tive tempo de me mentalizar. Agora havia um bebé para cuidar e amar e eu ia ser um irmão mais velho exemplar.

A minha mãe deu entrada no hospital, em trabalho de parto, na tarde do dia nove, mas o Miguel só nasceu na madrugada do dia a seguir. Esteve horas a tentar que a dilatação fosse suficiente, de modo a conseguir expulsar o bebé da forma mais natural possível, mas no final tiveram de fazer uma cesariana.

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