Agosto 2012
Depois de sair da roda gigante, fiquei bastante perturbada e comecei a andar sem destino. Apenas andei, cheguei a uma altura em que me senti perdida, mas não dei a mínima importância. Fui parar a uma loja de roupas em segunda mão e fiquei encantada. Comprei dois lenços em tons pastel com padrões maravilhosos e um vestido de ganga. Perguntei à proprietária se, por acaso, não precisava de ninguém para trabalhar lá. Ela disse-me que não, mas indicou-me outras lojas de confiança onde eu podia procurar e eu agradeci. Não custa nada tentar, mas isso teria de ficar para o dia seguinte.
Estava demasiado cansada e por isso voltei para o meu apartamento. Fiz um esparguete à carbonara rápido e sentei-me no sofá a ver uma série. Não me consegui concentrar porque não parava de pensar no que tinha acontecido na roda gigante. Entretanto recebi também uma chamada da Raquel:
- Olá, boneca! Como estás? - perguntou ela - Olá Nádia! - gritou a Anita do outro lado.
- Olá! Eu estou bem! E vocês?
- Também estamos ótimos! O que fizeste hoje?
- Fui a Londres. Andei no London Eye e estive a passear. Ah, e fui a uma loja de roupa vintage...
- E compraste qualquer coisa, não foi?
- Sim! Mas não me arrependo! Valeu totalmente a pena! Estavam lá coisas tão lindas, que eu tinha vontade de comprar a loja toda! A proprietária foi muito simpática e indicou-me lojas de confiança onde eu podia procurar trabalho. Vou fazer isso amanhã.
- Parece que tiveste um dia em cheio! Precisas de descansar, não precisas?
- Sim...
- É só cansaço ou passa-se mais alguma coisa?
- É cansaço, nostalgia, saudades vossas... E hoje pensei no meu melhor amigo... O Fred...
- Nádia, é normal sentires tudo isso, estás longe de casa, fora da tua zona de conforto.... É normal teres saudades dele também, não o vês há imenso tempo, não é? Vais ver que vão voltar a encontrar-se! - eu sorri ao ouvir as suas palavras, mas não tinha assim tanta certeza sobre voltar a encontrá-lo.
Depois de desligar, comi o resto da massa, lavei a louça e fui deitar-me. No dia seguinte, seria um novo dia!
Agosto 2012
Depois de acordar e me arranjar com calma, decidi começar a odisseia que é procurar trabalho num país desconhecido. Em primeiro lugar, comecei pelas lojas em segunda mão que me foram sugeridas. Fui bem recebida numas, noutras nem tanto. Percebi que a melhor coisa a fazer era desistir desse ramo. Peguei no meu portefólio e procurei a minha sorte entre galerias de arte e ateliers.
Fiquei encantada com a quantidade de artistas que existiam naquele cantinho do mundo! Obras lindas e originais feitas por anónimos, preenchiam a primeira galeria onde entrei. Infelizmente, aquele sítio não aceitava ninguém para trabalhar. Depois, entrei numa galeria que acolhia artistas anónimos e as suas obras e tinha um atelier nas traseiras que estava aberto o dia todo e onde as pessoas podiam dar asas à sua imaginação. Aos fins-de-semana, existiam leilões onde era possível obter lucro pessoal e ajudar a associação. Tinha de tentar a minha sorte! Era o local perfeito para mim!
Depois de dar uma vista de olhos, encontrei um dos responsáveis por aquele espaço e perguntei:
- Olá! Boa tarde! Gostaria de saber se me posso juntar a vocês? Tenho dezoito anos e sou portuguesa. Estudei artes e tenho alguns quadros da minha autoria.
- Olá! Muito bem! Bem-vinda! Em primeiro lugar, preciso de saber o teu nome! - disse uma rapariga um pouco mais baixa que eu, com um estilo muito diferente do meu, mas que era simpática.
- Ah! Claro! Que cabeça a minha! Chamo-me Nádia!
- Nádia! Que nome tão invulgar! Mas eu gosto! E também gosto muito de Portugal! As pessoas são muito simpáticas! - isso encheu-me o coração - O meu nome é Melanie, mas podes tratar-me por Mel! Vem comigo! Vou apresentar-te ao resto do pessoal!
Segui-a até às traseiras do edifício onde estavam três rapazes e duas raparigas a pintar em tela, a conversar e a ouvir música.
- Malta! Tenho uma pessoa para vos apresentar! - das cinco pessoas que estavam lá, apenas três se viraram quando a Melanie falou. As outras duas estavam de costas voltadas para nós, a ouvir música nos fones, a ponto que ela teve de gritar:
- Logan! Fred! Acordem para a vida! - Fred? Estaria eu a ouvir bem? Quando eles se viraram é que eu o reconheci! Era ele! O meu Fred! Batemos com os olhos um no outro e ele perguntou:
- Nádia?
- Fred? - respondi eu, não estava a acreditar!
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Recomeçar
RomanceNádia tinha treze anos quando viu o seu pai assassinar a sua mãe. A violência doméstica durava há demasiado tempo naquela casa, e a morte de Amélia foi o culminar daquela vida e daquela família. Marco tinha catorze anos quando testemunhou a detenç...