Parte 2 - Nádia

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Setembro 2012

Reencontrar o Fred foi uma lufada de ar fresco. Ter o meu melhor amigo a trabalhar no mesmo sítio que eu, era maravilhoso! No dia em que nos reencontrámos, ele levou-me a almoçar a um restaurante de comida japonesa, onde nos empanturrámos de sushi. Fiquei a sentir-me mal porque ele pagou uma pequena fortuna pelo almoço, mas disse que foi um dia sem exceção para compensar todo o tempo que passámos sem nos ver. Ele contou-me que já morava em Birmimgham há dois anos e que tinha ficado os primeiros tempos em casa de familiares, que o ajudaram na adaptação. Depois, frequentou alguns workshops e cursos de pintura e encontrou a sua sorte naquele atelier. A Mel foi um grande apoio para ele e até chegaram a ter um caso que não correu bem porque ela o traiu, mas isso aparentemente são águas passadas e eles agora não passam de bons amigos.

No dia a seguir, fui de manhã ao atelier, como a Mel pediu. Começou por dizer que ficou muito impressionada com o meu talento, mas que as minhas obras tinham algumas falhas. Garantiu que me ia ajudar a corrigi-las e a melhorar o que houvesse para melhorar. Fui muito bem recebida pelo resto da equipa! Percebi também que não havia um horário fixo de trabalho e que aos sábados havia exposições e aos domingos leilões, onde as pessoas podiam comprar os nossos quadros.

Tudo isto era um sonho tornado realidade! Estava tudo a correr bem demais! Quando contei à Raquel, ela ficou radiante! Estava a planear vir visitar-me em breve e eu já mal podia esperar! Nunca estive tanto tempo longe dos meus e longe de casa, por isso vai saber muito bem matar saudades. Gostava muito de voltar a Portugal daqui a uns anos, quando tiver estabilidade financeira e emocional. Daqui a uns anos, o meu pai vai sair em liberdade e eu não sei como vou conseguir lidar com isso. Se dependesse de mim, nunca mais olhava para a cara dele, mas sei que isso vai acabar por acontecer, inevitavelmente.

Para já, quero focar-me no presente, no hoje. Quero conseguir afastar os demónios do meu passado e lutar para construir a vida que eu mereço, o resto são detalhes que vêm por acrescento.

Setembro 2012

Já tinha mais ou menos a minha vida orientada, por isso decidi que era altura de ir visitar o homem que tornou o meu sonho de ter uma casa aqui em Birmimgham realidade. Depois de sair do atelier, por volta das seis da tarde, fui ao bar que a Raquel me indicou. Como podia ser um sítio onde não me sentisse confortável, pedi ao Fred que fosse comigo.

Quando entrámos, fiquei impressionada! O espaço era bastante acolhedor, tinha um balcão e as mesas em madeira, o que dava um ar vintage, e uma jukebox que complementava mais ainda a energia daquele lugar. Aproximei-me do balcão e perguntei a quem estava lá onde podia encontrar o Xavier:

- Ele está lá atrás, mas eu vou chamá-lo, não demoro.

- Obrigada!

- Que lugar tão giro! - comentou o Fred enquanto esperávamos - Temos de passar a vir cá mais vezes, o que te parece?

- Sem dúvida! - concordei.

Uns minutos depois, um homem bastante charmoso aproximou-se de nós.

- Olá! Em que posso ajudar? - perguntou ele.

- O senhor é o Xavier? - eu quis ter a certeza.

- Sou sim, porquê?

- O meu nome é Nádia, eu sou afilhada...

- Da Raquel! - completou.

- Sim. Estou a morar na sua casa...

- Na minha casa, não, agora a casa é tua, querida!

- Ah.... Pois.... Ainda me estou a habituar a essa ideia!

- É normal. Então e estás a gostar da vizinhança? Já arranjaste trabalho?

- Sim, a vizinhança é simpática. Arranjei trabalho num atelier de pintura.

- Vejo que temos aqui uma artista em ascensão! Se não te importares, gostaria muito de ter aqui no bar algum quadro teu!

- Seria um prazer!

- Muito bem, fico à espera! Posso oferecer-vos alguma bebida?

- Eu aceito uma cerveja, e já agora o meu nome é Fred. Sou o melhor amigo da Nádia.

- Muito prazer, Fred! Trago já a cerveja. E para ti, Nádia, o que vai ser?

- Aceito uma sidra, se for possível.

- Ora essa! Volto já! É por conta da casa!

- Muito obrigada!

Depois de ele trazer as bebidas, ainda estivemos um bom tempo a conversar os três. Fiquei a gostar muito do Xavier e a admirá-lo pela sua determinação, coragem e amor pelo que faz. Gostaria de perceber como é que ele conheceu a minha madrinha, mas isso teria de ficar para outra altura porque estava a ficar tarde e eu queria ir para casa, pois ainda não me arrisquei a andar na rua de noite.

- Bem, está a fazer-se tarde, eu não gosto muito de andar na rua de noite, por isso acho que vou andando para casa...

- Fazes muito bem - disse o Xavier – De noite todos os gatos são pardos, nunca ouviste dizer?

- Ouvi sim, a minha mãe costumava dizer isso muitas vezes.

- E já não diz, porquê?

- Porque...

- Morreu - completou o Fred e eu fiz-lhe sinal a agradecer. A palavra morte ainda mexe muito comigo.

- Oh valha-me Deus! Desculpa, querida! Lamento imenso! Só tenho ouvido tragédias nos últimos tempos! Até tenho aqui um rapaz a trabalhar cujos pais estão presos! É muito triste!

- Pois é... - concordou o Fred.

- Mas bem.... Não vos quero roubar mais tempo, gostei muito de vos conhecer! Espero que apareçam mais vezes!

- Nós é que agradecemos! Vamos voltar aqui com certeza! 

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