Parte 1 - Nádia

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Dezembro 2011

Chegou o dia. O dia em que sopro as tão esperadas dezoito velas! Só há uma coisa que me deixa triste: o facto de a minha mãe não estar aqui para poder celebrar este dia comigo. Do meu pai prefiro nem falar, para mim é como se estivesse morto. Perdeu todo o meu respeito e consideração no primeiro dia em que bateu na minha mãe. Continuo a acreditar que a violência não é resposta para nada. Mas enfim, não quero pensar mais nisso, não vou deixar que nada estrague o meu dia. Também não pedi presentes. Ter o amor e o apoio da Raquel, do seu marido e da Anita, já é presente suficiente. Nunca lhes conseguirei retribuir tudo o que têm feito por mim.

Depois de acordar, a Anita invade a minha cama e começa a cantar-me os parabéns. Pouco depois, a Raquel aparece e encosta-se à ombreira da porta.

- Anita, não sejas chata, deixa a Nádia acordar. - aproxima-se e beija-me a testa - Parabéns, meu amor, agora já és uma adulta! Vem, filha, vem ajudar-me a preparar o pequeno-almoço e deixa a Nádia arranjar-se.

E saem, então, as duas do quarto. Eu levanto-me e começo a arranjar-me e a tentar prever o que vai acontecer desse dia em diante.

Depois de tomarmos o pequeno-almoço e arrumarmos a cozinha, a Raquel diz que tem uma revelação a fazer.

- Minha querida... Nós os três temos um presente para ti...

- Mas eu disse que não queria presentes!

- Mas nós não fizemos nada de especial.... Apenas, e como sabíamos que o teu sonho é recomeçar fora daqui, te comprámos um apartamento! - diz ela, muito calmamente, como se não tivesse feito nada de especial

- Vocês o quê? Compraram-me um apartamento? Em Londres!? Não acredito!

- Podes acreditar, querida, é verdade. Só que o apartamento não é bem em Londres, é em Birmingham, que é na Inglaterra na mesma.

- Não acredito! - continuava eu a repetir, com lágrimas de felicidade nos olhos.

- Comprei-te um T2 a um velho amigo meu. Ele mora em Birmingham e tem um bar perto do prédio onde é o apartamento. Por isso, quando tiveres a tua vida organizada, faz-lhe uma visita, ele vai gostar de saber que a casa está em boas mãos.

- Sim, sim, sim! Claro que o vou visitar e agradecer pessoalmente! Oh meu Deus! Não acredito! Nunca vos conseguirei agradecer o suficiente! Ganhei uns pais e uma irmã maravilhosa! Obrigada! Terão sempre um lugar muito especial no meu coração!


Agosto 2012

Daqui a umas horas, embarcarei no avião e começarei uma nova etapa da minha vida. Acordei nostálgica e muito ansiosa, porque não sei o que me espera.... Serei uma desconhecida a enfrentar o desconhecido.

- Não queres mesmo que eu vá contigo e te ajude a ambientar durante os primeiros tempos? - perguntou a Raquel, uns dias antes.

- Não é preciso, madrinha, a sério! - garanti eu – Eu preciso de fazer isto sozinha! Eu tenho a morada do apartamento e tenho um mapa da cidade e arredores. Qualquer coisa, se for preciso, pergunto às pessoas e peço indicações, quem tem boca vai a Roma!

- Ou vais ter com o Xavier, ele ajuda-te! - completou ela.

- Sim, ou vou ter com o Xavier e ele ajuda-me, já sei. Não precisas de te preocupar, eu sei tomar conta de mim. - Na verdade, eu não estava muito segura em relação a isso, mas queria fazê-la acreditar que sim.

- Eu sei, querida! Meu Deus! Vou ter tantas saudades tuas! Eu sei que vamos poder falar, mas mesmo assim...

- Também vou ter imensas saudades vossas!

E abraçámo-nos. Passado pouco tempo, ela perguntou:

- Não te vais despedir dos teus pais? - eu fiquei a olhar para ela durante algum tempo, ela reparou e desculpou-se – Desculpa, querida, isto soou muito mal, não era a minha intenção...

- Não! Não tens de pedir desculpa. Até foi uma pergunta bastante pertinente! Quero ir visitar a sepultura da minha mãe, mas não vou visitar o meu pai. Nunca tive intenções de o fazer, não é agora que vai acontecer. Nunca te disse, mas já fui várias vezes contactada pelo estabelecimento prisional onde ele está, ele ligou-me durante muito tempo, mas eu nunca atendi. Não tenho intenções de falar com ele, apenas quero que ele pague pelo que fez.

Era evidente que a Raquel não sabia disto, aliás, ninguém sabia, na verdade. Mas foi bom revelar a verdade, tirar este peso de cima de mim. Não quero ter mais nada a ver com o meu pai.

A verdade é que entrei mesmo no avião sem o ter ido ver e não me arrependo. Fui ao cemitério e chorei junto à sepultura da minha mãe, pedi-lhe perdão e proteção, mas não meti os pés no estabelecimento prisional onde o meu pai se encontra. Estou a horas de aterrar em terras da rainha. Estou prestes a realizar o meu sonho.  

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