Junho 2013
- Há quanto tempo estás com a Nádia? - perguntou o Miguel.
- Faz um mês daqui a uns dias, porquê?
- Por nada de especial, é só porque vejo que estás muito feliz e com os pés assentes na terra, finalmente.
- E isso é bom ou mau?
- É bom, é muito bom!
- É, eu estou mesmo feliz! Ter conhecido a Nádia foi a melhor coisa que me aconteceu na vida! Ela dá-me esperança, transmite-me tranquilidade... é tanta coisa que eu não sei explicar! Acho que o facto de ela se ter declarado a mim em frente ao Fred, ainda me fez sentir mais seguro.
- Ela declarou-se a ti? Bem, estou impressionado!
- E podes ficar! Isso aconteceu porque o Fred disse que gostava dela, mas ela escolheu ficar comigo.
- És um sortudo, maninho! - disse o Miguel.
- E sou, sinto-me mesmo o homem mais sortudo do mundo!
- Então e em que ponto estão agora?
- Sinceramente, não sei... mas ainda não aconteceu nada do que estás a pensar. Eu ainda não a sinto segura nem quero pressionar nada. Ela ainda treme toda quando eu lhe toco... acho que ainda nos estamos a conhecer, a ir com calma. Mas eu estou todo babado por ela... quero mesmo que isto resulte... aqueles olhos, aquela boca...
- Ai, o amor! Vê lá se não te babas ainda mais, maninho!
- É quase impossível não me babar, já olhaste bem para ela? Ela é linda!
- Pois, não olhei bem para ela, mas acredito em ti. Olha que quero ser o padrinho do casamento!
O Miguel tinha saído mais cedo da escola e veio ter comigo ao bar. Apesar de ele ser menor de idade, era meu irmão, por isso o Xavier deixou-o entrar. Comprei-lhe uma Coca-Cola e ficámos a conversar enquanto eu limpava o balcão. Eu conseguia sentir que o Miguel estava feliz por mim. Ele não gostava muito de expressar os seus sentimentos, mas eu conseguia perceber nos pequenos detalhes que ele se importava com as coisas. Os pais adotivos dele eram pessoas muito reservadas e isso também teve influência no desenvolvimento da sua personalidade. O nosso passado nunca mais voltou a ser tema de conversa e isso deixava-me muito aliviado. Ter decidido começar de novo a minha vida foi a melhor decisão que tomei até hoje. Para além de que, se não o tivesse feito, nunca teria encontrado o coração da Nádia como refúgio.
- Sabes... eu também estou... a gostar de alguém... - disse ele com uma cara muito envergonhada e culpada, como se gostar de alguém fosse um crime que cometera.
- Muito bem, maninho! Estás na idade disso, não tens de ter vergonha de dizer que gostas de alguém! Mas vá lá, diz lá como é que ela se chama?
Respondeu sem olhar para mim.
- James, ele chama-se James... eu... eu sou bi, Marco...
Tenho de admitir que fiquei surpreendido, mas não desfiz a minha postura. Ele precisava de sentir que podia confiar em mim porque eu não o ia julgar.
- Isso quer dizer que já gostaste de raparigas também? - perguntei-lhe, não sabia muito como é que isso funcionava.
- Sim.
- O James sabe que gostas dele?
- Não.
- Não lhe vais contar?
- Não sei... achas que deva?
- Eu não acho nada, Miguel, tu é que tens de achar e saber o que queres. Eu sei que é mais fácil falar do que pôr em prática, sendo que eu nunca passei por isso porque eu gosto de raparigas, mas... tu não tens de ter medo nem vergonha. Apesar de tudo, das opiniões, dos julgamentos, dos olhares... tu mereces lutar pela tua felicidade. O amor não devia ser motivo de condenação.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Recomeçar
RomanceNádia tinha treze anos quando viu o seu pai assassinar a sua mãe. A violência doméstica durava há demasiado tempo naquela casa, e a morte de Amélia foi o culminar daquela vida e daquela família. Marco tinha catorze anos quando testemunhou a detenç...