Parte 1 - Marco

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Janeiro 2008

Chegou o dia em que vou conhecer a minha família de acolhimento. Estou bastante ansioso e mal dormi esta noite. Não sei como se chamam, nem onde vivem, nem se vão gostar de mim.... Só espero que não me tratem mal nem me façam perguntas ou falem sobre o meu passado. Mas espero que me ajudem a descobrir o paradeiro do meu irmão, a única coisa que me dá esperança e força para continuar. E é a única pessoa que me resta no mundo... Sei que os meus pais estão presos, mas, para mim, é como se tivessem morrido. Antes de me levarem e de me colocarem à guarda da segurança social, perguntaram se eu tinha alguém com quem ficar e eu respondi que não. E a verdade é essa: não tenho avós porque morreram e os meus tios vivem no estrangeiro, se os vi uma vez na vida foi muito. Então, a melhor opção foi mesmo ficar numa instituição.

Por volta do meio-dia, fui chamado ao gabinete da diretora. Tinha chegado o momento! Ao abrir a porta, encontrei o sorriso satisfeito e entusiasmado da diretora, acompanhado de um casal com ar de rico. Comecei a ficar desconfiado e o entusiasmo que havia dentro de mim foi morrendo aos poucos. A família de acolhimento que me calhou na rifa era claramente rica, e famílias ricas eram sinónimo de regras e controlo, e eu não gostava nada disso.

- Marco, querido! Entra, entra! Estes são o Henrique e a Isabel e vão ser a tua família de acolhimento até teres dezoito anos!

- Já faltou mais... - sussurrei eu.

- Disseste alguma coisa, Miguel? - perguntou a tal de Isabel. Não acredito que ela trocou o meu nome e me chamou pelo nome do meu irmão!

- Isabel, não é? - perguntei eu, ela respondeu que sim com a cabeça. - O meu nome é Marco e, para que saibam, Miguel é o nome do meu irmão.

- E onde está o teu irmão? - atreveu-se a perguntar o Henrique.

- Também gostava de saber, mas a diretora recusa-se a dar-me essa informação.

- Que idade tem ele?

- Faz em fevereiro nove anos.

- Nós gostaríamos muito de o acolher também! Até temos uma filha com a idade dele! É um crime manter irmãos separados! - replicou a Isabel.

- Temo que isso não vá ser possível... - começou a dizer a diretora, mas eu interrompi.

- Sabe que mais? Você é uma incompetente! Com ou sem a sua ajuda, eu vou encontrar o meu irmão! E agora, se não se importa, trate da merda dos papéis e deixe estes senhores levarem-me daqui para fora! Vou para o quarto fazer as malas!

Fiz questão de gritar o meu discurso e bater com a porta ao sair. Tinha atingido o meu limite e não aguentava mais estar naquele lugar. Só queria que me levassem dali para fora e me deixassem recomeçar.  

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