Fevereiro 2013
Era o aniversário da Melanie e convidou-me para ir jantar a casa dela. Embora o Fred tenha insistido em me vir buscar, eu disse que não. Ela morava a pouco mais de dez minutos da minha casa e ir a pé não fazia mal nenhum! Decidi então começar a arranjar-me. Tomei um banho e fiz a minha rotina de limpeza de pele. Coloquei um pouco de máscara de pestanas, blush e um gloss. Vesti uma saia de ganga preta, uma camisola de malha cor-de-rosa velho e calcei umas botas estilo militar. Optei por deixar o cabelo solto, ao natural. Faltava meia hora para a hora combinada, quando eu saí de casa. Decidi sair mais cedo, pelo sim pelo não, não fosse eu perder-me ou alguma coisa acontecer. Pus o meu telemóvel no bolso da saia e peguei na minha mala, antes de sair e trancar a porta.
Desci as escadas e pus-me a caminho. Estava bastante frio e estava a começar a escurecer, por isso não se via quase ninguém na rua. Fiquei encantada pelo ambiente e pelas luzes que iluminavam aquela noite fria. Nunca estive tão feliz, mesmo tendo o nariz gelado. Passei por baixo de uma ponte de pedra, estava escuro, por isso liguei a lanterna do telemóvel. Para lá da ponte, havia um jardim, que era o último sítio pelo qual eu tinha de passar para chegar a casa da Melanie.
Estava tão distraída que só desci à terra quando senti alguém vir na minha direção. Comecei a andar mais depressa, mas não foi o suficiente. Ele passou por mim de cabeça baixa e agarrou na minha mala, só não me deu um encontrão porque eu me desviei a tempo. Não olhou para mim, mas eu vi bem a cara dele e tive a sensação de que o conhecia de algum lado.... Já sei! Era o rapaz da roda gigante! Foi ele que me assaltou! Levou tudo menos o telemóvel! Corri atrás dele e ainda tentei apanhá-lo, mas não valeu a pena. Bem me parecia que as coisas já estavam a correr bem demais!
Liguei ao Fred, em pânico, e ele atendeu pouco depois.
- Nádia?
- Fred, já estás em casa da Melanie?
- Sim, estou, porquê? O que se passa? Onde estás? Estiveste a correr?
- Sim, estive a correr! Assaltaram-me! Ainda o tentei apanhar, mas não consegui...
- O quê? Assaltaram-te? Mas onde é que estás?
- No jardim em frente ao prédio da Melanie. Podes vir ter comigo, por favor?
- Sim, claro, vou já! Não saias daí!
Menos de cinco minutos depois, ele chegou ao pé de mim e abraçou-me. Eu estava em pânico, tremia por todos os lados. Tinha ficado sem a minha mala e tudo o que estava lá dentro, incluindo cartões e dinheiro. Se fosse chamada pela polícia, não tinha nada para apresentar, era como se estivesse clandestina! Tentei manter a calma e contei ao Fred tudo o que se passara.
- Mas viste-lhe a cara?
- Não. - Menti. Eu era péssima a mentir, mas acho que ele não desconfiou.
- Bem, isso é que é pior...
- Olha, não me digas! O que é que eu faço agora?
- Agora vens comigo para casa da Melanie...
- Não, esquece, eu vou mas é para minha casa!
- Não vais nada! Ouve, a Melanie está à nossa espera. Ela sabe que eu vim ter contigo e ficou preocupada. Tu vens comigo, ficamos lá um bocadinho e depois vamos embora. Eu durmo em tua casa, se quiseres e se isso te fizer sentir mais segura. E amanhã tentamos resolver esse assunto... Não digas nada à tua madrinha por enquanto... Vamos tentar pedir ajuda ao amigo dela, o do bar, o que achas?
- Sim, pode ser... Obrigada! Não sei o que seria de mim sem ti!
Fevereiro 2013
Mal dormi esta noite. Não parei de pensar no assalto e na cara dele, o rapaz da roda gigante. Não quis dizer ao Fred que sabia quem ele era porque podia provocar mais uma desgraça. Só queria tentar resolver esse problema da forma mais pacífica possível, só tinha de descobrir a identidade do rapaz, sem dar nas vistas e exigir as minhas coisas de volta.
- Bom dia! - disse o Fred.
Ele dormiu na minha casa hoje e acordou mais cedo que eu. Até não encontrar as minhas coisas, não me ia sentir segura sozinha, em lado nenhum. Quando entrei na sala, senti imediatamente o cheiro a panquecas, ovos mexidos, pão quente e café acabado de fazer.
- Quem és tu e o que fizeste ao meu melhor amigo? - disse eu e ele riu-se.
- Bem, decidi aproveitar a ocasião para te mostrar as minhas qualidades. É de comer e chorar por mais, garanto-te!
- Bem, agora deixaste-me com água na boca! - sentei-me à mesa e ele serviu-me um café. Tinha de admitir que estava tudo realmente delicioso!
- Então e o que queres fazer hoje? - perguntou ele, depois de comermos.
- Acho que não vou ao atelier hoje... Não estou com cabeça nem inspiração para pintar...
- Claro, eu compreendo e a Mel também sabe o que se passou. Ela vai compreender!
- E tu? Vais ao atelier hoje ou queres vir comigo ao bar do Xavier? Quero ver se ele me ajuda a tratar das coisas... Porque eu perdi tudo, tenho de fazer todos os cartões de novo!
- Sim, claro que vou lá contigo! Se for ao atelier será só mais tarde.
- Então podemos ir agora ao bar?
- Sim, claro!
- Então importas-te de arrumar a cozinha que eu vou só vestir qualquer coisa?
- Claro!
Depois disso, saímos de casa e fomos a pé até ao bar. Tinha aberto há pouco tempo, por isso o Xavier ainda estava a arrumar as mesas e as cadeiras, que estavam todas umas em cima das outras.
- Nádia! Fred! Bom dia! Que fazem por aqui tão cedo? - disse ele quando entrámos.
- Bom dia! Eu queria falar contigo, se puder ser... aconteceu uma coisa... - disse eu.
- Claro que sim, sentem-se! Posso oferecer-vos alguma coisa?
- Eu queria um café, por favor – respondi.
- Outro? Mas acabaste de beber um ao pequeno-almoço! - interveio o Fred.
- Eu sei, mas preciso de outro.
- E tu, Fred, queres alguma coisa? - perguntou o Xavier.
- Não, eu estou bem, obrigado!
- Muito bem! Ó Marco! Anda cá! Preciso que me tires um café! - gritou o Xavier.
- Já vou! - gritou em resposta o tal Marco. Por algum motivo, o nome dele não me era estranho...
Pouco tempo depois, o rapaz que o Xavier chamou apareceu com o meu café e eu reconheci-o imediatamente! Filho da mãe! Foi ele que me assaltou! O rapaz da roda gigante, que aparentemente me conhecia, chama-se Marco e trabalha aqui! Será que o Xavier sabe que dá trabalho a um ladrão, cretino e cobarde!? Por fora eu estava calma, mas por dentro eu fervia de raiva! Isto não ia ficar assim!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Recomeçar
RomanceNádia tinha treze anos quando viu o seu pai assassinar a sua mãe. A violência doméstica durava há demasiado tempo naquela casa, e a morte de Amélia foi o culminar daquela vida e daquela família. Marco tinha catorze anos quando testemunhou a detenç...