Parte 1 - Nádia

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Março 2008

Viver com a minha madrinha é uma experiência absolutamente incrível! Ela é superorganizada, supercompreensiva e atenciosa. Viver nesta casa é uma animação! O seu marido e a Anita acolheram-me desde o primeiro instante e tratam-me como família. Tenho um quarto só para mim, o que é bastante agradável. É uma réplica exata do quarto que eu tinha na minha antiga casa. Por um lado, faz-me lembrar a minha antiga vida, mas por outro, transmite-me segurança porque é um lugar só meu. Para além dos móveis e da decoração, a Raquel também me comprou telas, tintas e pincéis.


Março 2010

Passaram-se dois anos. Sinto-me feliz, mas exausta. Comecei há pouco tempo a conciliar os estudos com o trabalho e a minha madrinha tinha razão quando disse que eu ia ficar muito cansada. Eu não tinha noção de onde me estava a meter... A minha rotina mudou drasticamente! De manhã, acordo por volta das sete e preparo-me com calma para o dia de aulas que começa às oito e meia. As aulas terminam quase todos os dias por volta das quatro e meia da tarde. Como moro perto da escola, vou a pé. Nas horas que se seguem, aproveito para estudar, rever a matéria que dei durante o dia e descansar também um pouco. À noite, das nove e meia à meia-noite, vou trabalhar. Às segundas, quartas e sextas, sirvo jantares num restaurante ao fundo da minha rua. É um espaço de confiança, acolhedor e familiar. Não recebo muito por noite, mas quando conto o dinheiro todo que acumulei no final do mês, vejo que o esforço valeu a pena. Esse dinheiro é depositado pela Raquel numa das minhas contas-poupança. Só tocarei nele no dia antes de partir para Inglaterra. Espero mesmo que as coisas corram como planeado. Cada dia que passa é menos um dia, cada dia que passa estou mais grata à Raquel por me ter acolhido, compreender e ajudar na construção do meu futuro.

Dentro de meses acabarei o décimo ano. Estou a frequentar o curso de artes, como é óbvio. Estudar algo de que realmente gosto e acho interessante torna-se muito mais satisfatório. Permite-me dar asas à minha imaginação, improvisar e criar obras únicas. Algumas delas, as mais especiais e complexas, vou guardar. Ficarão aqui em casa da Raquel, se não as conseguir levar para Inglaterra logo no início. Outras tenciono vender, pode ser que dessa forma consiga mais dinheiro e ganhe algum reconhecimento.

Os meus colegas de turma são bastante simpáticos e ofereceram-se imediatamente para me mostrar a escola. Mudar de escola e transitar para o ensino secundário não foi fácil, precisei de um tempo até me adaptar completamente. Mas, no final, correu tudo bem e até consegui fazer amigos. No entanto, havia uma pessoa que mexia comigo naquela escola.

Um rapaz. Não o conheço de lado nenhum, nem sei qual é o nome dele, mas ele mexe comigo. Também nunca falei com ele, mas há algo nele que me desperta a atenção. Anda sempre sozinho pelos cantos, é repetidamente repreendido pelas auxiliares e dizem que já foi chamado ao diretor várias vezes.... Sei que não me devia meter nesses assuntos e ficar no meu canto, mas é mais forte do que eu... Talvez um dia tente falar com ele... Talvez um dia consiga perceber o que o leva a comportar-se de uma forma tão revoltada... 

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