Parte 2 - Marco

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Dezembro 2012

Dois meses se passaram desde que comecei a namorar com a Jéssica. Acho que ela anda a perder um pouco a paciência comigo, porque passa a vida a provocar-me e a incentivar-me para termos relações, mas eu ainda não me sinto confortável nem confiante. Até fico com vergonha de dizer isso, mas é a verdade. Afinal não foi ela que disse para eu não ter pressa? É o que estou a fazer. De resto acho que a nossa relação está muito saudável, por isso espero que continue assim por muito mais tempo.

O meu trabalho está a correr muito bem também. O Xavier ofereceu-me um voto de confiança e pôs-me a trabalhar no turno da noite às sextas, sábados e domingos, e está a ser incrível! A agitação é muito maior a partir das nove da noite, mas isso é que tem piada. E agora o bar começou a ter poker e jogos de cartas e apostas nesses dias e a adesão tem sido enorme. Até eu comecei a jogar de vez em quando. A Jéssica não gosta e já me avisou várias vezes que eu ia arranjar lenha para me queimar.

- Marco, tens de parar com as apostas e estou a falar a sério! Tu não sabes, mas eu tenho quase a certeza de que vais sair prejudicado.

- Amor, confia em mim, não vai acontecer nada, eu só me estou a divertir com o resto do pessoal. Qual é o problema?

- O problema é que eu tenho medo que destruas a tua vida e te tornes num viciado em jogo! Não percebes?

- Oh Jéssica, por amor de Deus, consegues ser menos dramática?

- Não estou a ser dramática, estou a ser realista! Eu sei no que as pessoas se tornam! Depois, quando ficares sem nada, não te venhas queixar, porque eu não vou estar lá!

- Não digas essas coisas, tu não consegues viver sem mim!

- Eu consegui viver sem ti há três meses, achas mesmo que depois de acabarmos não vou conseguir também? - por essa é que eu não esperava – Bem me parecia. Marco, fofinho, sabes que eu estou totalmente apaixonada por ti, mas, se não ganhares juízo, não vamos chegar a lado nenhum! - fiquei a pensar nas palavras dela com a sensação de que já era tarde demais.

- Pronto, está bem, eu vou parar de jogar, ou pelo menos tentar. Ficas satisfeita assim?

- Fico muito satisfeita, obrigada. Sabes que eu me preocupo contigo, tu não podes destruir a tua vida! Tu conseguiste reencontrar o teu irmão, conseguiste arranjar uma casa e tens um trabalho estável e de confiança, não deites tudo a perder!

- Tens razão, amor, mas eu vou portar-me bem, não te preocupes. E por falar no Miguel, a que horas é que ele disse que era para estar em casa dele?

- Se não estou enganada, é para estarmos lá às oito.

- E que horas são?

- São sete e meia.

- Nós já estamos despachados, então é melhor ir andando, não é?

- Pois, convém.

O Miguel e a sua família convidaram-nos para jantar em casa deles no dia de Natal. Eu não queria aceitar, mas a Jéssica convenceu-me. Passei a véspera de Natal com a família dela e vou passar a noite do dia de Natal em casa do Miguel. Tive muita pena de não passar esta época festiva com a Íris, mas ir a Portugal não estava nos meus planos e eles também estavam com dificuldades em gerir o dinheiro. Ela ficou muito triste e desanimada porque era o primeiro Natal que nós íamos passar longe um do outro, mas eu ia arranjar forma de compensar. Agora, aquilo que me importava era aproveitar o máximo de tempo com o Miguel para compensar todos os anos em que estivemos separados e sei que a Íris também compreende isso.

O jantar foi muito agradável. Pela primeira vez, comi uma ceia à moda inglesa. A ceia, em Inglaterra, faz-se em família no dia vinte e cinco, ao contrário do que acontece em Portugal. Para eles, o dia vinte e quatro é um dia normal e o dia vinte e cinco é mesmo o epicentro das comemorações natalícias que começam muito cedo e dão muito que falar. Em Inglaterra, eles não comem bacalhau com couves, mas sim peru assado com acompanhamentos típicos. Naquela casa, éramos todos portugueses, por isso houve muita mistura de comida e tradições. Era a primeira vez que passava o Natal com o meu irmão, depois de tanto tempo separados. Estava feliz, mas muito nostálgico. Geralmente, esta era a época em que todas as recordações vêm ao de cima e isso não me faz sentir bem. É por isso que tenho vindo a gostar cada vez menos do Natal, porque me lembro de tudo, até mesmo do que não devo. Prefiro o ano novo. É sinónimo de novas oportunidades, novos dias, novos momentos. É época de recomeços.

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