Parte 2 - Nádia

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Março 2013

Para o Fred não desconfiar nem ficar a implicar, tive de dizer que fui à polícia reportar o assalto e que eles me tinham devolvido a mala porque alguém a tinha encontrado. Sei que não foi uma desculpa muito convincente, mas ele não fez mais perguntas. Agora que olho para trás, sinto que fui bastante bruta e fria com o Marco. Embora já tenha passado uma semana, eu gostava de lhe pedir desculpas pela minha atitude, não costumo ser assim. Ele pareceu-me genuinamente arrependido e tinha uns olhos tristes.

Voltei ao bar, decidida a falar com ele. Havia alguma agitação naquele dia, no bar, e por isso demorei um pouco até o ver entre aqueles que estavam do outro lado do balcão. Encontrei os seus tristes olhos azuis a servir cafés a um grupo de amigos. Esperei que eles se afastassem e aproximei-me.

- Se vens à procura do Xavier, ele hoje não está. - disse ele, sem olhar para mim. Notava-se no seu tom de voz que estava magoado.

- Eu não vim à procura dele, vim à tua procura. - Depois de me ouvir, ele olhou para mim – Ouve, desculpa ter sido tão rude contigo, mas, como deves perceber, ninguém fica propriamente feliz quando é assaltado. E fiquei ainda mais irritada quando te reconheci daquele dia na roda gigante.

- Espera... só me conheceste daí?

- Sim...

- Não sabes mesmo quem eu sou?

- Não... porquê? De onde é que tu me conheces, afinal?

- Da escola! Eu sou o Marco, o rapaz que tu observavas e a quem o teu melhor amigo bateu. Não te lembras mesmo?

Fiquei a olhar para ele durante uns segundos até que se fez luz na minha cabeça. Era ele! Agora tudo faz sentido! Que vergonha!

- Ah! Meu Deus! Que vergonha! - tapei a cara com as mãos.

- Ei, ei, olha para mim, não faz mal. A sério. Já passou. - Ele afastou as mãos da minha cara e eu tremi toda quando ele me tocou. - Porque é que estavas sempre a olhar para mim, naquela altura?

- Porque eu não percebia...

- O que é que não percebias?

- Porque é que eras tão frio e tão revoltado com as pessoas... - ele ficou pensativo depois de eu falar, mas acabou por responder.

- Vem jantar comigo hoje - como eu não reagi, ele insistiu – Por favor, é o mínimo que posso fazer por ti. Se aceitares o meu convite, eu conto-te a minha história.

- Combinado - respondi eu, por fim, pois não tinha nada a perder.


Março 2013

Perto das oito na noite, ele veio buscar-me.

- Onde vamos? - perguntei eu.

- Escolhe tu. Eu pago, não pode ser é comida chique porque eu sou pobre.

Não sei porquê, mas isso fez-me rir e ele riu-se comigo. Parecíamos dois malucos a rir no meio da rua.

- Eu não sou muito exigente - respondi – como qualquer coisa, mas neste momento apetece-me um hambúrguer.

- Os teus desejos são ordens.

A hamburgueria mais próxima não ficava muito longe, por isso fizemos o caminho a pé e em silêncio. Quando chegámos, pedimos take away e fomos comer para um jardim, o jardim onde ele me assaltara dois dias antes.

- Não podias ter escolhido outro sítio? - perguntei eu.

- Podia, mas não ia fazer sentido. Não tenhas medo que não há aqui mais ladrões.

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