OS HERDEIROS DO CLÃ ©

CAPÍTULO 31

POV Manuella

Acordo ainda de madrugada, me levanto da cama e o sol ainda nem nasceu, me espreguiço e sigo até a minha penteadeira. Pego o celular e o carregador do mesmo e trato de escondê-lo novamente minha gaveta, sigo para o banheiro e faço minha higiene matinal, escovo meus dentes e lavo meu rosto. Volto para o meu quarto e me deito na cama novamente, olho para a janela e vejo o sol nascer pouco tempo depois.

— Levante, já está na hora. — Ouço a porta do meu quarto ser aberta e vejo um segurança falar.

Me levanto da cama e ele fecha a porta ao sair do meu quarto, sigo para a minha cômoda e separo um vestido de ficar em casa. Entro no meu banheiro e tomo um banho rápido, lavo meus cabelos e me seco com a toalha. Assim que pego minha roupa suja para colocar junto com as outras no cesto, percebi uma mancha pequena e avermelhada na minha calcinha. Pisco algumas vezes e me lembro que minha menstruação veio, deixo a roupa no cesto e procuro um absorvente no gabinete do banheiro. Assim que acho, coloco e visto minha roupa, saio do banheiro e penteio meus cabelos.

Saio do quarto e sigo até a cozinha onde já se encontram as empregadas se preparando para os afazeres do dia e meu café da manhã já está sobre a mesa. Um pão e um copo de leite com café, como rapidamente e só volto para o quarto apenas para escovar meus dentes. Retorno para a cozinha e sou direcionada para os meus afazeres da manhã, normalmente auxilio na organização e limpeza da mansão. Sou proibida de entrar ou até mesmo passar perto do escritório e no quarto do meu avô. Lembro que uma vez quando criança, fui chamá-lo enquanto ele estava no escritório trabalhando e só queria perguntar se poderia ir para o jardim. Naquele dia, entrei sem autorização no escritório e não sabia que ele estava em uma reunião importante, mas assim que vi seu olhar de bravo quando pedi desculpas, percebi que não me livraria do castigo. Lembro também que assim que saí do escritório, corri para o quarto e tentei me esconder debaixo da cama, a sensação de proteção durou pouco e quando achei que estava tudo bem, fui puxada pelos cabelos para sair de lá. Nesse dia, me recordo que apanhei tanto que meu corpo ficou cheio de hematomas e uma empregada veio cuidar de mim horas depois, ela me avisou que eu estava proibida de ao menos sonhar em entrar no escritório dele novamente.

Balanço minha cabeça na tentativa de afastar essas lembranças e continuo limpando o piso de porcelanato da sala de jantar sabendo que o chão deve estar brilhando assim que ele for almoçar. Vou limpando o piso e ouço passos além de risadas dele, me concentro em continuar fazendo minha tarefa e vejo ele passar pela sala para seguir em direção às escadas, mas assim que ele sente minha presença, o vejo entrar na sala de jantar. Continuo limpando o chão e estou sentada no chão enquanto esfrego o mesmo com um pano. Apenas observo seus sapatos sociais pretos se aproximarem e meu coração acelera de medo. 

— Bom dia senhor. — Digo sem ter coragem de levantar minha cabeça, mas ele não diz nada e permanece em silêncio. Engulo seco com medo dele ter descoberto sobre o celular e tenho vontade de chorar, mas antes que eu faça algo, sinto seu pé direito pisar em minha mão esquerda, sinto vontade de gritar e fico com mais medo ainda.

— Você se acha tão esperta, não é bastarda? — Ele pergunta ríspido enquanto mexe o pé mantendo minha mão no chão e isso faz meus dedos doerem.

— Es-tá me machucando. — Tento falar enquanto seguro minha vontade de chorar.

— Eu deveria ter mandado você para um internato bem longe daqui, deveria ter escolhido o pior e ter garantido que seus dias fossem de puro pesadelo… Mas não, eu não fiz isso, e você ainda é ingrata.

— Não, sou muito grata ao senhor por tudo. — Digo e o seu aperto fica mais forte enquanto sinto meus olhos ficarem marejados pelas lágrimas que insisto em segurar.