PRÓLOGO

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Lembro até hoje daquela noite...

À noite em que a pessoa que eu mais amava no mundo inteiro e que me protegeria para sempre foi cruelmente assassinada na minha frente e eu não pude fazer nada para impedir. Lembro-me de mamãe pedindo socorro em meio às risadas deles, eles foram cruéis e mesmo mamãe dizendo que não sabia de nada eles a fizeram sofrer até o seu último suspiro. Tudo ali, bem na minha frente.

Morávamos eu, mamãe e papai em um pequeno vilarejo na floresta. Não entendia muito bem o porquê de não podermos ficar indo frequentemente a cidade, mas aquilo não fazia tanta diferença para uma criança, cuja sua maior preocupação, era estudar e brincar. Tinha vários amigos e todos nós estudávamos na mesma escola que ficava no vilarejo. Porém, tudo isso virou cinzas de uma hora para outra e todos que eu mais amava no mundo se foram rápido, que quando eu percebi era tarde.

Naquela noite mamãe me colocou para dormir como de costume, me deu um beijo na testa e disse que me amava e que era para eu dormir tranquila, pois ela sempre estaria comigo. Durante a madrugada, acordei com gritos e barulhos estranhos, olhei pela janela e vi várias casas em chamas, pessoas correndo e crianças também. Afastei-me da janela e mamãe entrou no quarta rapidamente, ela estava assustada assim como eu, mas ela era forte e nunca demonstraria isso.

— Vem aqui meu amor, rápido. — Ela me chamou e pulei da cama com medo.

— Cadê o papai? — Perguntei sentindo as primeiras lágrimas, estava um barulho horrível lá fora. Uma mistura de gritos de horror, choros desesperados e risadas altas.

— Vamos encontrá-lo filha, agora precisamos sair. — Mamãe disse olhando a porta e me estendeu a mão.

Saímos do meu quarto e estávamos prestes a sair da casa, quando ouvimos vozes e passos. Mamãe resolveu mudar a rota e subimos para o seu quarto e do papai, mamãe trancou a porta e arrastou a sua penteadeira para ficar na porta. Fez-me entrar e me esconder em um pequeno espaço do closet, ele era mais um guarda roupas, pois era pequeno.

— Mamãe fica aqui comigo!

Shhh meu amor, me prometa que não vai sair daí por nada. — Ela disse e vi as primeiras lágrimas caírem de seus olhos.

— Mamãe, o que está acontecendo? — Consegui perguntar sentindo meu rosto já molhado por lágrimas, estava com muito medo.

— Me prometa Victória que você não vai sair daí por nada desse mundo, seu pai vai vir buscar nós duas daqui a pouco, nada de mal vai acontecer meu amor, fica calma não chora. — Pediu ela tentando me tranquilizar e mesmo sentido medo concordei com a cabeça e prometi que não iria sair.

Mamãe fechou a porta do closet, trancou e me passou a chave pelas frestas da porta do mesmo, ela arrastou uma poltrona e colocou na porta do mesmo. Fiquei encolhida na última prateleira do closet e conseguia ter uma visão para o quarto, pois a porta do closet tinha umas aberturas pequenas e por isso mamãe colocou a poltrona. Fechei os olhos assim que ouvi as vozes e passos ficando cada vez mais perto e logo a porta foi arrombada, mamãe se assustou e correu para a janela.

— Ali está ela! — Ouvi a voz de um homem e ele se aproximou junto com outro homem e pegou a mamãe pelo braço.

— Onde está ele? — Perguntou outro homem, acho que são três.

— Eu não sei, não sei de nada, eu juro! — Mamãe disse e pelo tom de sua voz ela estava assustada.

— Vadia mentirosa! — O homem grita e vi ele bater no rosto da mamãe.

— Eu vou perguntar só mais uma vez! Onde o seu marido está? — O homem insistiu.

— Eu não sei, ele saiu mais cedo!

OS HERDEIROS DO CLÃ ©Onde histórias criam vida. Descubra agora