Capítulo 4

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Íris estava trabalhando em outra arte da tapeçaria, formando desenhos entre as costuras até que se furou com a agulha.

- Aii! Deuses!! – praguejou baixinho enquanto chupava o sangue de seu dedo.

Desde aquela tarde fatídica que encontrou Órion, ela só sabia se furar toda vez que pensava a respeito da pequena discussão deles. Mas Íris tinha que admitir que tanto ela como ele se odiavam desde sempre...Não desde sempre, é claro...

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Foi naquele dia na galeria da Grã-Senhora da Corte Noturna , que Íris tendo esperado Zaniah que estava atrasada como sempre, resolveu percorrer a exposição de artes. Havia algo muito diferente naquelas pinturas... Ela estava fascinada principalmente pelo quadro de um menino, que tendo perdido os pais, retratou a sua dor com uma pintura de um coração que sangrava... Depois foi para outro quadro, e falou em voz alta, sem nem perceber:

- Grotesco... – disse rindo.

- Acha mesmo?!

Ela se virou assuntada, quando olhou para o macho mais lindo que já tinha visto na vida. Ele tinha cabelos pretos como a noite, olhos azuis como a cor do mar, pele parda, queixo demarcado, e havia um colar de safira, pendurado em seu pescoço, tão hipnotizante que estava difícil não olhar para o a abertura da gola de sua camisa. Mas rapidamente se recompôs, e disse:

- Não vejo muita essência.

Ele ergueu a sobrancelha. *Pela mãe! Como ficou quente aqui*, pensou ela , tentando não encará-lo diretamente.

- Sério? Você por acaso é alguma profissional na arte?

- Não, mas sou detalhista, e não há profundidade de sentimentos nesse quadro.

- Considera que quem o pintou não tem sentimentos?!

- Não foi isso que eu quis dizer – Íris hesitou – Mas faltou originalidade.

- Me diga então... – ele se aproximou ainda mais dela – O que você considera original?

Íris sentiu um leve desconforto, mas conseguiu dizer:

- Tudo que seja distinto disso – e apontou para o quadro que tinha bolo cheio de estrelas.

Ele franziu o cenho. *Pela Mãe! *, pensou ela.

- Ah! Finalmente te encontrei! – disse Zaniah, chegando perto dos dois – Pelo visto já conheceu meu irmão, Órion.

Íris ficou perplexa... *Como não tinha notado tamanha semelhança entre ele e a sua amiga?! *

Órion riu maliciosamente.

- Então você é a Íris.

- Sim.

- Hummm... – ele a encarou novamente.

Zaniah interrompeu os dois dizendo:

- Não sabia que seu quadro estava aqui ainda.

- Eu o refiz Zaniah – e olhou para Íris – Embora talvez a sua querida amiga ache pouco original.

Íris não sabia o que dizer, era preferível ter sido queimada pelo fogo do caldeirão. Só que ela não poderia refazer o que tinha dito, então apenas falou:

- Hum... então é seu?

- Sim, mas agora não sei se tenho sentimentos, sua opinião ao meu respeito foi bem categórica – disse Órion com ironia.

- E não mudou – rebateu Íris irritada.

Zaniah vendo o clima tenso, os interrompeu:

- Vamos Íris, deixa eu te apresentar a minha mãe.

- Tudo bem.

Órion apenas a encarou, e Íris não conseguiu sustentar o seu olhar, porque parecia que ele seria capaz de saber todos os segredos... Então resolveu ir depressa acompanhando Zaniah pela galeria.

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O jeito como Órion a tratou falando que ela não era da família, embora merecesse isso, doeu. Mas pior mesmo foi ele a encarando, tentando entrar na sua mente a qualquer custo. Foi tão perturbador, que Íris só não se desestabilizou porque se lembrou que se ela deixasse ele entrar em suas barreiras, seu fim seria pior do que a morte.

Houve um ressoar de sino, despertando dos seus desvaneios, e quando ela chegou na frente no balcão, viu Zaniah um pouco ansiosa.

- Oi Zaniah... O que foi?!

- Que animação em me ver! Está explicado o porquê tem me evitado desde a semana passada.

- Me desculpe... Eu ando muito ocupada...

- Sei que foi por causa do meu irmão... Já conversamos, e ele me prometeu que não irá mais de portar assim.

- Devo admitir que não me portei muito bem também.

- Acredite em mim... Você foi até educada.

Elas riram. Zaniah prosseguiu:

- Se organize nesses dias, porque vamos partir para a Corte Invernal semana que vem.

- O que?!!

- Infelizmente não dará essa semana, tenho muitas pendências. Mas já avisei a Viviane sobre a nossa visita.

- Zaniah...

- Não se preocupe com suas roupas ou com dinheiro, porque .... – Íris interviu:

- Pelos Deuses! Calma! – Zaniah riu – Eu não posso deixar a loja aqui sem ninguém.

- Mas eu já contratei uma ajudante de alta confiança pra te substituir. Não se preocupe com isso... Então vai aceitar ir junto comigo?

Íris a olhou como um quebra-cabeça.

- E por acaso, em algum momento, eu tive escolha?!

- Isso é um sim! Ótimo! Vou deixar você trabalhando, até porque também tenho muitas coisas pra fazer.

Zaniah se despediu, e Íris se sentou perto do balcão pensado consigo mesma: Isso será a minha ruína.

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