Capítulo 21

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        O som do impacto da sua mão contra o tecido rijo ecoou pelo quarto dela, não atravessando as paredes pelo feitiço isolador que ali colocara. O suor que lhe escorria pelas têmporas era agradável de uma forma diferente, o corpo reclamando de exaustão enquanto a sua mente se mantinha o mais ativa que já tivera.

      Fora do seu quarto, os gritos de Bellatrix ecoavam, sem nenhum feitiço que os impedisse. A cada grito da mulher, Meredith socava o saco de boxe, o qual sequer devia estar ali. Um objeto Muggle na mui nobre Mansão dos Malfoy? Sob o mesmo teto que Lord Voldemort, a criatura que queria dizimar os Muggles?

       Meredith gostava de arriscar.

       Não gostava. Todo o seu ser dizia-lhe para não fazer nada estúpido, para seguir o que lhe diziam e tentar ao máximo ajudar a Ordem a evitar mais ataques. O seu espírito de Slytherin induzia-a a preocupar-se com a sua sobrevivências mas o saco de boxe revelara-se bastante útil na tarefa de suprimir as suas emoções. A cada pancada, enterrava mais fundo o medo que sentia, a cada soco enterrava mais fundo a sensação de estar prestes a ser descoberta e morta pela sua traição.

      Meredith não era de ferro. Tivera os seus momentos de heroísmo quando Ashley estava presente, pois a vida da sua companheira era muito mais importante do que a sua. Recusara-se a abandonar Voldemort por Amanda Lovelace, num gesto de compaixão que não sabia sentir pela mãe. Fora corajosa todo aquele tempo mas o cerco apertava. O que acontecera em Gringotts fora uma jogada de mestre da sua parte mas feitiços de memória eram reversíveis, um processo não muito difícil para o Senhor das Trevas.

       Ele estava furioso. O que quer que a taça de Hufflepuff representasse para Voldemort, era suficientemente importante para abandonar a Mansão e regressar horas depois com vontade de torturar Bellatrix, a quem culpava pelo roubo que acontecera. Harry perturbara-o e um homem perturbado era perigoso.

      Muito perigoso.

      A porta do seu quarto abriu-se e Meredith agiu depressa: tinha deixado a varinha presa à cintura, erguendo-a para afastar o saco de boxe e guardá-lo a sete chaves dentro de um dos roupeiros que tinha à disposição. Quando os olhos negros de Amanda faiscaram na sua direção, a mais nova sorriu de forma inocente, ajeitando discretamente os fios de cabelo que escapavam da sua trança e se colavam à testa suada.

- Ninguém te ensinou a bater à porta antes de entrar?

      Amanda não respondeu, sequer pareceu reparar no tom provocatório da filha. Lentamente, fechou a porta do quarto, erguendo a varinha e desfazendo os feitiços que Meredith colocara, não fosse outra pessoa entrar ali e reparar na ousadia da jovem.

     Quando se virou, Meredith não pode deixar de se surpreender com o ar atormentado da Lovelace mais velha. Parecia ter envelhecido subitamente, a sua beleza letal substituída por um ar cansado e abatido. Aquilo era inédito. A expressão de Amanda mantinha-se sempre inalterada, como uma estátua perfeitamente desenhada. Era incapaz de deixar as suas fraquezas e limitações virem ao de cima, agindo como se fosse o único ser humano sem imperfeições. Pelo que Meredith percebera, fazia parte da sua educação.

       Ao falar, a voz saiu-lhe espremida, como se a garganta se tivesse fechado inevitavelmente:

- Cecilia Diggory está morta.

      Por instantes, Meredith pestanejou, sem entender. Lentamente, o nome ressoou-lhe nas entranhas, a mente percebendo a quem Amanda se referia.

- A mãe de Ashley?

      Amanda assentiu, sentando-se vagarosamente na cama de Meredith. Esta não se moveu, os olhos fixos no chão e os lábios prensados.

- Foste tu. Lideraste o ataque à casa dos Diggory para tentar apanhar a Ashley...

RUBY [4]⚡ HP ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora