Capítulo 22

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      Aquela era uma noite muito escura.

     No céu, nuvens grossas cobriam as estrelas; não havia vestígios de uma Lua que iluminasse as ruas e o silêncio pesado foi apenas cortado pelo som da última janela a fechar-se. Hogsmeade jazia mergulhada na escuridão e no silêncio, os seus moradores fechados em casa, como se uma mera porta os protegesse do que quer que fosse.

      O bater dos seus saltos altos sobre a calçada ecoou no silêncio. A cada passo, respirava fundo, apreciando o ar frio nos seus pulmões. Era uma criatura do gelo e do escuro, pensou. Nem mesmo o vento cortante a arrepiava.

      Meredith Lovelace sentia-se aterrorizada.

       Não tinha vergonha disso. Se lhe perguntassem a sua opinião, era mais ridículo alguém entrar numa batalha sem medo algum do que lutar com o medo bem implantado no coração. O seu Medo não apagava a sua Coragem. Quem no seu perfeito juízo não sentia medo quando estava prestes a ter a sua vida em risco?

        Ergueu os olhos para o céu. Não sabia exatamente porquê; se fosse uma Muggle, estaria naquele momento a rezar para sair viva. Prezava a sua vida mas no sentido lato da palavra. Quando pensava na sua vida, pensava em Ashley, no seu pai, em Laurel. Eles eram a sua vida; sem eles, não faria sentido viver.

      Não fazia ideia do que estava a acontecer em Hogwarts mas a sua mente vagueou pelas pessoas que conhecia, de quem gostava e até de quem não gostava: a prática Astoria Greengrass; a sonhadora Luna Lovegood; a corajosa Ginny Weasley; a estúpida da Pansy Parkinson; o enervante Blaise Zabini; a crescida Daphne Greengrass; a extraordinária Professora McGonagall, que acreditara nela e lhe ensinara o valor da disciplina e do respeito; a paciente Madame Pomfrey, que tantas vezes a enxotara da enfermaria quando Laurel lá se encontrava internada.

       De uma maneira ou de outra, aquelas pessoas tinham marcado a sua vida. Quantos rostos iria ver em Hogwarts que não conhecia? Quantos inocentes iriam perecer naquela noite?

       Abanou a cabeça, enterrando as emoções, como aprendera a fazer melhor do que ninguém. Não havia tempo para pensamentos negativos; precisava manter-se firme, fiel a si e aos seus princípios.

        A tableta do pub que procurava chamou-a à atenção. O Cabeça de Javali saudou-a como as restantes casas: tudo fechado, silencioso e assustador. De sobrolho franzido, Meredith bateu à porta, sendo surpreendida quando esta se abriu e revelou um par de olhos azuis que nunca esperara voltar a ver.

- Dumbledore?

- Aberforth Dumbledore, não Albus. - retorquiu o homem alto e entroncado de forma impaciente, como se tivesse ouvido aquilo muitas vezes - Quem és tu e o que queres?

- Eu...

- Tapa isso. - ordenou o mais velho, bruscamente - A menos que a uses com orgulho.

      Meredith baixou os olhos, praguejando baixinho ao ver a Marca Negra exposta. A manga da sua camisola subira com o movimento, revelando a maldita tatuagem ao mundo.

- Preferia cortar o braço a usá-la com orgulho. - replicou Meredith, puxando a manga para baixo com irritação - Chamo-me Meredith Lovelace e...

- A namorada de Ashley? Ela tinha razão, és muito bonita. O que queres?

- O senhor conhece a Ashley?

- Tive de partilhar o meu sumo de morango com ela, senão o Whisky de Fogo queimava-lhe os neurônios.

- Ashley não bebe.

- Miúda, eu tenho mais que fazer. O bar está fechado, se quiseres beber alguma coisa volta amanhã.

RUBY [4]⚡ HP ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora