Capítulo 28

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        Ela gritava.

       O som ecoava pelas paredes do quarto, atravessando a Mansão dos Malfoy e entranhando-se em cada uma das almas que a habitava.

       Como se ela estivesse sob tortura.

       Tom Riddle apenas observava, enquanto a sua Prometida desfazia cada pedacinho da mobília que a circundava. A raiva dela era crua, pura, proveniente de uma parte dela que nem sequer conhecia. A voz soava tão aguda que sentia as suas próprias cordas vocais arranharem, ficando doridas. Não parou. Não queria parar.

          Atirou o último objeto intacto ao chão, um candeeiro que ficara esquecido no canto do quarto, despedaçando-o com o chuveiro que arrancara da banheira. Farpas de madeira espetavam-se-lhe na palma das suas mãos mas ela pouco se importava. O seu sangue fervia, enrubescendo as suas bochechas, intensificando o brilho safira dos seus olhos.

        Laurel fechou os olhos, deixando-se consumir pela emoção forte que ardia dentro de si. O odor a morte penetrou-lhe os sentidos, a sua mente criando uma imagem demasiado realista da figura que a atormentava há séculos.

- Estás a tentar seduzir-me? - questionou Riddle, circundando-a lentamente - Ver-te assim, cega de raiva e ódio... É um sonho realizado.

      A ruiva não respondeu. O seu corpo tremia, o sangue como lava líquida nas suas veias.

     No chão, perdido entre os destroços do seu quarto destruído, jazia o Livro dos Fundadores, aberto na última página. A caligrafia era muito diferente da de Rowena, que não estivera viva para escrever aquela última entrada do seu diário. Era uma letra floreada, como se o objetivo fosse mais a beleza da escrita do que a importância das palavras escritas, muito diferente de Rowena, que escrevia pausadamente, escolhendo as palavras mais sábias e caras, demorando-se no vocabulário. Como a própria Laurel fazia.

- Não gostaste da história? - questionou a memória, tocando-lhe suavemente na bochecha.

        Laurel afastou-se, a raiva presente nos seus olhos. Tom Riddle não estava realmente a tocar-lhe, sequer tinha um odor ou uma verdadeira presença, mas a sua mente tornava-o demasiado real, a sua alma buscando a de Voldemort vezes e vezes sem conta. Ele estava sempre lá, como um parasita, sugando-lhe a magia que estava presa dentro dela e levando consigo a sua própria vida.

- Cala-te. - rosnou a jovem Ravenclaw.

     Tom sorriu.

- Qual foi a parte que mais ódio te provocou?

          Ela cerrou os punhos, girando sobre si própria, numa tentativa vã de se afastar da memória. Algo dentro dela rugia, o leão encarcerado que mataria tudo e todos se tivesse oportunidade. Perdera a noção do tempo mas pelo que percebia, estava há meses ali fechada. Voldemort usava-a todos os dias, enfraquecendo-a cada vez mais e Laurel não sabia o que fazer. As visitas de Narcissa eram cada vez mais escassas, não voltara a receber nenhum bilhete de Draco e a ligação que possuía com Ashley parecia ter sido adormecida eternamente. Nem mesmo Harry ela conseguia sentir. A única presença que sentia era de Voldemort, que a envenenava lentamente.

- Como é que ela pode ser tão burra? - questionou Laurel, olhando para as feições elegantes de Tom Riddle - A forma como ela descreve Salazar... Como um homem em quem ela confiasse, mesmo vendo-o menosprezar os mestiços e os Muggles, maltratando-os, mesmo vendo-o invejar Godric? E a sua visão sobre Magia Negra? Por Merlim, é como se fosse uma criatura viva, algo a temer e ao mesmo tempo respeitar... Rowena fascinou-se por isso! Ela ficou encantada com o poder que a Magia Negra tem, mesmo sabendo o preço, mesmo sabendo que tudo o que este tipo de encantamentos traz é Morte e Caos! Ela era suposto ser o símbolo da inteligência, da virtude, do Bem! Ela era suposto ser um exemplo de Luz, não de Trevas!

RUBY [4]⚡ HP ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora