Desejo Suicida

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Quando a alvorada iluminava o céu de Urano ambos deuses já se encontravam na ala da esposa do deus dos raios, em um quarto aparte.

— Para que tudo ocorra com perfeição, preparei um banho com pétalas de jasmim e sais naturais, isso irá fazer com que relaxe um pouco. -diz Métis.

— Obrigada.

— Após sair use isto, será mais fácil para Morfeu trabalhar. -informa entregando um traje branco para a jovem.

Depois de todas as instruções serem dadas, Perséfone buscou obedecer as orientações de Métis e Afrodite. Queria que tudo ocorresse bem mesmo que no fim não importasse muito. Talvez tivesse chegado ao seu limite não se importando com probabilidades negativas, talvez estivesse buscando um suspiro em meio ao sufoco que vivia, ou talvez só quisesse um motivo para continuar.

Enquanto relaxava pôde sentir algo estranho suas pernas, se tornaram caldas? Tentando fazer elas voltarem ao normal viu que não era a água mas sim a própria deusa que controlava esse novo aspecto. Isso seria um sinal para que desse um basta em sua decisão suicida? Ela não sabia dizer mas o que sim ela tinha convicção, era de que não podia continuar.

— Ficas bem em tua forma nereida. Quem diria, uma bela calda azul com toques em rosa e lilás... teu pai escolheu bem. -diz Afrodite quem adentrou o cômodo onde Perséfone estava submersa em águas claras.

— Obrigada padrinho, e se veio com a intenção de dizer-me que é arriscado prefiro que saia, sei perfeitamente dos riscos aos quais vou me expor e sigo de acordo. -direta ela o responde.

— Não irei atormentar-te, apenas quero que saiba que estarei ao teu lado. -sorri passando tranquilidade a deusa.

— E o agradeço, isso é muito importante para mim. -retribui acariciando suas mãos com anéis em ouro tendo em suas pontas diversas pedras preciosas.

— Se apresse, Morfeu já nos espera. -os tira do transe.

— Esta bem.

Com um belo e decotado vestido branco tendo seus longos cabelos soltos e pés descalços, deitou-se sobre o estofado enquanto Métis e Afrodite estavam um pouco afastados dando espaço ao outro deus que estava à sua esquerda. Perséfone se encontrava ansiosa, mas algo sombrio rondava sua áurea, coisa que espantou ambos padrinhos da jovem.

— Querida afilhada, quando nasceste lhe concedi um desejo que não afetasse os interesses dos divinos. Tu nunca o usaste e depois de anos clama para que realize-o. Só lhe tenho uma pergunta, o que desejas, minha rosa branca?  -silaba Morfeu com seu timbre suave porém altivo.

— Desejo a mortalidade, padrinho. Quero ser mortal. -informa com um olhar ansioso, quase perturbador.

— Tens certeza do que pedes? -questiona Morfeu com a dúvida estampada em sua face.

— Sim, total certeza. -afirma tentando manter o auto-controle.

— Pois que assim seja. -diz severo.

Uma luz forte se fez no lugar fazendo todos de olhos fechados ficar. Uma corrente magnética envolveu Perséfone e a fez arquear as costas em um suspiro, era como se estivessem arrancando algo de dentro da mesma com facas de ferro em brasa ardente. Logo após o clarão sumir tudo voltar ao normal.

Agora a jovem mortal estava a sorrir ofegante para o padrinho, quem correu para ver se estava bem, enquanto Morfeu vendo-a instável e incomodado com a energia negra vindo dela, disse que deveria partir deixando apenas Afrodite e Métis com Perséfone, quem continha gotas de suor pelo corpo como se tivesse fugido do próprio tártaro.

— Estou tão feliz que tudo correu bem, querida. -sorri Afrodite enquanto pega as mãos trêmulas de sua afilhada.

— És forte minha jovem, tens uma vida inteira pela frente. -diz Métis acariciando os cabelos rubros da flor mortal.

— Não, não tenho. -fala em tom baixo.

— Com alguns anos mortais verás, tem tanto por viver... -reafirmou a rainha do Olimpo.

— Mas não será assim que encontrarei a paz que almejo. -suspira resignada.

— Perséfone... -chama Afrodite quem sentiu uma onde mortal passar por suas veias.

— Me desculpe... -sussurra Perséfone com uma lágrima em seus olhos verdes.

A filha do deus dos mares enfia uma adaga de prata pura em seu peito fazendo ambos deuses se assustarem com tal ação. Agora tudo fazia sentido para o deus da beleza, ela não busca paz, buscava libertação, seja de suas dores ou sua culpa.

"Posso ter errado mas ninguém mais morrerá em meu nome, pois eu encontrei a liberdade e com ela estarei longe do alcance de qualquer um que ouse quebrar-me novamente."  -pensa Perséfone.

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