Capítulo 35 - Duda

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No consultório do Psiquiatra infantil conto sobre o desenvolvimento do Paolo. Ele começa com um questionário. _ Paolo é tímido ou nervoso com estranhos?

_ Ele se irrita fácil.

_ Possui pessoas ou objetos preferidos?

_ Tem um dinossauro que não desgruda dele.

_ Repete sons ou reações para conseguir atenção?

_ Ele faz uns barulhos estranhos quando quer algo, é bem interessante pois costuma olhar para o que quer, olha para mim pra ver se estou olhando pra a mesma coisa.

_ Ele tenta dizer as palavras que você fala?

_ Não

_ Consegue ficar de pé sem apoio.

_ Ele é gêmeos e sua irmãzinha já está andando, ele é bem lento, mas está conseguindo.

Conversamos bastante, a lista de perguntas foi extensa. _ Doutor, depois da nossa conversa com a conclusão que o senhor chegou?

_ A minha suspeita é que ele tenha Síndrome do Espectro Autista, vou encaminhar o Paolo para uma fono e uma T.O. (Terapeuta Ocupacional), precisa colocar ele em um esporte de grupo. Vou indicar grupos de mães para você.

Fico sem chão, sinto sozinha com uma criança que precisa de muitos cuidados, agora mais do nunca meu filho precisa de mim, essa notícia me desestabiliza, olho para ele tão calminho, sentado em meu colo, meu bebê.

Ter a orientação da T.O. foi essencial para nós, deu dicas de como estimular Paolo no seu dia a dia, brincadeiras, interação com outras crianças ou até mesmo com os adultos.

Paolo fez avanços surpreendentes com a fono, não é uma criança falante, mas já se expressa com autonomia.

Quando minhas crianças já estão com quase três anos faço a matrícula da duplinha no maternal, a escolinha fica bem próximo da minha casa, o que facilita levar e buscar, converso bastante com Paolo tentando explicar como será o dia de amanhã.

É o primeiro dia de aula na escolinha da dupla dinâmica, hoje devido a adaptação todos os pais precisam acompanhar seus filhos para conhecer o ambiente escolar. A Diretora explica a importância da fase da acolhida e da adaptação das crianças com a escola, professora e coleguinhas de sala.

Foram feitos grupos e saímos juntamente com os pequeninos para conhecer a escola, passamos pelas salas de aulas, banheiros adaptados, brinquedos Montessorianos e, biblioteca.

Foi nesse momento que percebi que Paolo estava lendo a plaquinha nas portas em que passávamos._ Sala de aula, banheiro, biblioteca. _ quando chegamos no hall da entrada da escola ele fala alto. _ Secretária.

A professora fica olhando para ele quando passamos pela  sala da diretora não fala nada fica observando e mais uma vez ele fala: _ Direção.

A professora olha para mim e interroga. _ Ele já sabe ler? _ Os outros pais que estão acompanhando seus filhos ficam olhando. Estou sem reação e não sei como explicar o que está acontecendo. _ Que belezinha.

Dou uma risadinha sem graça, que meu filho é diferente eu sei, que sabe ler eu não sabia.

Voltamos para a sala e a professora pede para eu esperar para uma reunião.

_ A senhora pode esperar aqui? Já volto?

A professora retorna com a coordenadora da escola e a diretora. Quem começa a conversa é coordenadora. _ A senhora não nos falou que seu filho já sabe ler.

_ Ele tem um jogo de letrinhas que brinca.

_ A senhora sabe que atender uma criança alfabetizada com uma turma que está iniciando a alfabetização é extremamente complicado A nossa preocupação é que ele fique desestimulado.

Respiro fundo, penso comigo mais um problema e agora? Lembro das orientações que o meu filho precisa de atividades em grupo para socializar com outras crianças. _ Ele precisa estudar se envolver com os outros amigos da escola.

_ Sabemos disso, mas não sabemos como será o seu desenvolvimento.

Converso com elas sobre os acompanhamentos do Paolo com a T.O., fono e da suspeita do psiquiatra infantil.

_ Você poderia fazer a matrícula do Paolo em outro lugar.

_ Optei em fazer a matrícula das crianças aqui por ser próximo a minha casa.

_ Então a Ana Paula não vai nos dar problema, mas o Paolo aparentemente será difícil trabalhar com ele.

A diretora entra na conversa e propõe. _ Vamos tentar por enquanto, é importante que você providencie para nós um relatório dos especialistas.

Saio da escola com sentimento de derrota, parece que estou enviando meu filho para o calabouço, não senti segurança na professora, não sei se ela vai cuidar dele ou acolhê-lo como espero.

Mando uma mensagem para o Bruno.

Vem aqui em casa .

Não demora Bruno chega em minha casa como se não tivesse problemas no mundo. _ O que foi amada?

Abraço o Bruno e choro. _ Estou me sentindo uma fracassada.

_ Para com isso, de fracassada você não tem nada. _ Respiro fundo, acalmo os pensamentos e conto como foi na escola. _ Não gostei da atitude da coordenadora e da professora do Paolo, vamos ficar de olho, se ele não se adaptar, transfere para outro lugar. Agora estou achando o máximo, Paolo saber ler.

_Seu bobo.

_ Tenho um aplicativo aqui no tablete interessante sobre construção de palavras, vou chamar o Paolo.

Paolo chega perto de nós e fica ali parado, Bruno se ajoelha e estica o braço, conversa baixinho com ele, as vezes corresponde e abraça rápido o padrinho, hoje só ficou ali com os bracinhos ao lado do corpo.

_ Olha o que o padrinho tem aqui, um jogo de letrinhas para formar palavras. _ Paolo pega o tablet e senta no sofá, começa a formar as palavras, ficamos por ali observando sem dar muita bandeira que estamos atento a ele.

Sento ao lado de Paolo. _ O que você esta escrevendo ai? _ Ele não responde, nem olha para o meu lado, mas as palavras estão corretas.

Bruno chega do outro lado dele, olha e me chama. _ Ele já sabe escrever, que tudo? Será que ele é bom na matemática também?

_ Uma coisa por vez, se não vou ter um ataque cardíaco.

_ Vou comprar alguns jogos mais avançados para ele, meu afilhado é tudo de bom. _ Rimos um pouco.


Espero que gostem, votem, comentem.

Volto no sábado com mais um capítulo.

Bjosss açucarados.


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