1 - Quando nasceram

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- Como você está? - Todoroki perguntou calmamente.

Katsuki, que estava deitado na maca olhando o teto, virou-se para o parceiro sentado em uma poltrona ao seu lado com a expressão carregada de tédio.

- Com dor, Shoto! Como mais poderia estar?! - Vociferou, como se não fosse mais óbvio e depois voltou a encarar o teto.

Todoroki riu.

Estavam sozinhos em um dos quartos do hospital, esperando que as contrações de Bakugo viessem até que fosse a hora certa para irem para a sala de parto.

- Eu vou socar a tua cara se você não parar de soltar a porcaria desses feromônios pelo quarto! - Ameaçou Bakugou, apertando a mão do marido. - Essa merda não tá me deixando calmo, só me estressa ainda mais!

- Ok, ok, desculpa. Eu não tinha percebido. - Ele tentava desesperadamente se soltar do aperto do outro. - Ai! - sussurrou quando conseguiu se soltar.

Eles ficaram em silêncio por um tempo. Katsuki ainda encarando o teto branco e Shoto observando o cansaço do amado.

Era tarde da noite já, provavelmente duas da manhã. As contrações de Bakugo tinham começado às sete da noite enquanto assistiam a um filme em casa, mas desde o começo do dia ele já sentia algumas dores. No começo elas eram fracas, agora eram quase insuportáveis.

Os devaneios dos dois foram interrompidos quando Katsuki começou a respirar fundo várias vezes seguidas. Inconscientemente ele procurava pela mão do parceiro que a ofereceu rapidamente ficando de pé. O outro sentia tanta dor que chegou a ficar sentado na maca e apoiar-se no marido que tentava acalmá-lo com um cafuné.

- Por que eles estão fazendo isso comigo? - Questionou entre soluços. - Só quero que isso acabe logo.

- Aguenta só mais um pouco, você consegue, eu sei que sim. - O tom de Shoto era confiante e calmo, o que só deixava Bakugo mais irritado.

- Você não tem noção do quanto eu quero socar essa sua cara de sonso.

- Esse é o meu Katsuki. - Ele riu.

- Olha só - começou com o tom mais autoritário que conseguia - , essa é a primeira e última vez que eu vou fazer isso, entendeu?!

- Ah, mas eu queria um time de futebol inteiro, até os reservas. - Todoroki brincou.

Os nervosos de Bakugo estavam à flor da pele, aquele era o pior momento para fazer brincadeiras. Ele apertou a mão do outro com toda a fúria que estava sentindo.

- Tudo bem, a gente adota - choramingou o alfa. Agora tinha certeza que também precisaria ser atendido.

Para a alegria e alívio de ambos, ouviram algumas batidas à porta e logo depois a médica entrou. O enorme sorriso branco que ela estampava no rosto conseguiu deixar Bakugo com ainda mais ódio.

- Olá! Como estão os papais? - Ela perguntou com um tom gentil, aproximando-se dos dois.

- Um pouco exaltados, e talvez uma mão quebrada, mas bem. - Shoto deu um sorriso amarelo.

- Fale por você! Eu tô praticamente morrendo aqui! - O ômega começou a respirar fundo novamente, conforme a dor crescia, mais ele apertava as barras nas laterais da maca.

Todoroki afagava as costas de seu amado, tentando de alguma forma confortá-lo.

- Por favor, tira eles logo de mim - ele implorou para a enfermeira, tinha a visão toda embaçada por conta das lágrimas. - Eu não tô aguentando mais.

A médica olhava as fichas de Bakugo e também os aparelhos em volta, depois da análise disse:

- Parece que já está mesmo na hora.

- Finalmente! - O ômega soltou um suspiro pesado e cansado, mas também aliviado.

- O senhor fez um ótimo trabalho até agora - ela continuou - , só vai precisar aguentar mais um pouco.

A mulher foi na direção da porta e chamou alguns enfermeiros para levarem a maca até a sala de parto. Katsuki agradecia por sua via sacra estar chegando ao fim.

*

O pior finalmente tinha passado. Os gêmeos estavam ali dormindo serenos e saudáveis nos braços dos mais novos papais.

A menina aparentemente teria os cabelos dividos iguais aos de Shoto, já os do menino eram loiros como os de Katsuki. As cores dos olhos ainda eram um mistério, mas isso não importava no momento.

Escutaram a gravidez inteira que quando nascessem, as crianças teriam cara de joelho, mas eles achavam os filhos as criaturas mais lindas e encantadoras do mundo. Era impossível tirar os olhos delas.

Bakugo, exausto, cochilava com a pequena no colo, quase caiu para frente várias vezes. Acordava assustado sempre que percebia isso.

- Admita! - Shoto dirigiu os olhos cansados para o marido sentado ao seu lado na maca. - Valeu a pena.

- Porque não foi com você, né?! - O ômega, mesmo morrendo de sono, nunca perdia a oportunidade de ser sarcástico.

Todoroki riu, um riso fraco.

- Eu te amo. Obrigado por ter aguentado.

- Eu também te amo. Achava mesmo que isso ia me derrubar?

Eles sorriram e juntaram os lábios em um beijo suave, mas que transmitia todo o companheirismo de anos.

Escutaram batidas à porta e então três pessoas se esgueiraram para dentro do quarto. Eram Masaru, Rei e Fuyumi.

- Olá, jovens papais! - Disse Fuyumi quase em um sussurro. - Como estão meus sobrinhos?

Os três se aproximaram do leito onde os outros quatro estavam.

- Dormindo como os anjinhos que são - Todoroki respondeu.

- Agora eles são anjos, há alguns minutos pareciam mais...

- Katsuki! - Shoto repreendeu o marido.
O ômega só respirou fundo.

- Podemos segurar? - Fuyumi quase não conseguia conter sua empolgação.

- Claro.

Shoto entregou o pequeno para sua irmã e sua mãe chegou mais perto para apreciá-lo melhor. Já a pequena foi para os braços de Masaru.

- Vocês fizeram um ótimo trabalho, meninos - Rei elogiou. Bakugo lhe lançou um olhar meio indignado. - Principalmente você, Katsuki.

Shoto passou o braço pelas costas do outro ao seu lado puxando-o mais para perto. O ômega deitou a cabeça em seu ombro, agradecendo mentalmente pelo encosto. Às vezes, palavras não eram necessárias, eles simplesmente sabiam o que o outro precisava.

- Ela é linda! - Disse Masaru pela primeira vez desde que entrara no quarto. - Como vão chamá-la?

- O que acha de "Mitsuki"? - Falou Katsuki.

Masaru levantou os olhos da pequena para encarar o filho, estava atônito.

- Está falando sério? - Quis confirmar. Bakugo assentiu com a cabeça. Então, depois de um sorriso, completou: - Ela ficaria honrada.

Mitsuki, a mãe de Katsuki, dois anos antes tinha sido diagnosticada com um um câncer. Ela lutou bravamente por meses, mas acabou morrendo pouco depois de descobrir que seria avó.

- E este menino aqui? - Perguntou Fuyumi.

- Pensamos em "Touya" - disse Todoroki.

Elas tiveram a mesma reação de Masaru. Os olhos de Rei brilharam e se encheram de lágrimas. Ela sorriu para o filho e desviou os olhos para o neto e depois voltou a Shoto.

- São lindas homenagens, meninos.

Touya, o primeiro filho de Rei, irmão mais velho de Fuyumi e Shoto, sofreu um grave acidente quando voltava de uma viagem com os amigos um ano depois do casamento de Todoroki e Bakugo. Infelizmente, acabou não resistindo e falecendo.

Assim, o silêncio reinou naquele quarto. Rei, Fuyumi e Masaru admiravam as crianças, enquanto Shoto e Katsuki acabaram rendendo-se ao cansaço e pegaram no sono.

Aquele dia tão exaustivo, e que seria lembrado para sempre, finalmente tinha acabado.

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora