21 - Quando se reconciliaram

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Mitsuki nunca havia imaginado o quão divertidas cartas podiam ser. Ela passava horas sentada em sua escrivaninha, escrevendo para Kei sobre tudo que tinha feito ou pensado durante o dia. Enquanto redigia páginas com os assuntos mais variados, era como se a amiga estivesse realmente ali em seu quarto escutando tudo que ela tinha para dizer.

Uma das partes favoritas de Mitsuki era como ela faria para que as cartas fossem entregues. Sempre tentava o seu máximo para fazer isso da maneira mais discreta possível, e haviam duas: pedia para que terceiros entregassem a ela ou — e essa era sua opção favorita — sorrateiramente colocava o envelope dentro do armário da amiga durante o intervalo ou em uma rápida saída da sala com a desculpa de precisar ir no banheiro.

Essas pequenas e simples atividades tinham trago ânimo para Mitsuki novamente, mesmo que ela recebesse simples "obrigada" escritos em post-it como resposta. Isso não era um problema, sabia que Kei não podia responder às suas cartas a altura por medo de seu padrasto descobrir, mas os olhares trocados entre elas nos corredores eram provas de que aquela amizade em nada tinha se abalado.

A tarde de sábado em questão estava sendo bastante silenciosa, algo raro naquela casa. Touya tinha ido passar o dia na casa de Toshio pela primeira vez depois de semanas, Bakugou e Todoroki estavam recolhidos no quarto do andar de cima como sempre ficavam nos fins de semana ― Alfred provavelmente estaria com eles, deitado aos pés da cama ―, por fim, Mitsuki se encontrava também em seu quarto escrevendo compulsivamente. Lolla lhe fazia companhia, deitada ao lado da cama.

Horas se passavam sem que Mitsuki notasse, mas seu corpo lhe dava sinais de que isso tinha acontecido. Leves dores nas costas ou no pescoço que a obrigavam a se levantar e dar uma volta ou simplesmente inclinar a cabeça para os lados para aliviar a tensão que se formava em sua nuca.

Em um desses alongamentos, ela desviou o olhar para a janela na intenção de, além de diminuir a dor em seu pescoço, encontrar mais coisas sobre o que escrever, porém acabou se desequilibrando com o latido da cachorra e quase caindo da cadeira ao se deparar com alguém do lado de fora.

Era Kei quem estava lá. Ela usava um boné azul escuro, provavelmente como disfarce, estava meio ofegante e bastante alerta para qualquer veículo, pessoa ou animal que passasse na rua.

― Abre logo ― disse ao virar-se e a amiga ainda estar sentada com a mão no peito, atônita com o susto recente. Lolla rapidamente foi para perto da janela, abanando o rabo alegremente.

A voz de Kei tinha soado abafada por conta da barreira de vidro, no entanto, conseguiu despertar Mitsuki de seu choque e fazê-la ir abrir a janela. A outra menina, mais do que depressa pulou para dentro, Lolla mal esperou ela ficar devidamente de pé para pular nela, demonstrando carinho e também a saudade que sentia.

Depois de diversas lambidas, Kei conseguiu se desvencilhar da cachorra e dar um forte abraço em Mitsuki. Assim que sentiram o corpo de uma contra a outra, naquele aperto tão confortante, perceberam que as singelas trocas de olhares nos corredores não bastavam e nem mesmo um milhão de cartas estritamente detalhadas poderiam se equiparar à sensação de estarem realmente na presença uma da outra.

― Seu padrasto mudou de ideia? ― Mitsuki perguntou, quando se afastaram, esbanjando um sorriso esperançoso.

― Não ― ela respondeu simples, largou a mochila que usava no chão e se deitou de costas na cama com os braços abertos.

Mitsuki permaneceu no mesmo lugar, sem reação, sem saber se tinha realmente escutado o que ela havia dito.

― Como assim "não"?

― Ele não mudou de ideia ― respondeu simplista novamente.

― Então o que você está fazendo aqui? ― Seu tom de preocupação só crescia a cada fala.

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora