20 - Quando se entenderam

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Quando Touya se dava conta, já estava há horas rolando por suas conversas com Toshio, mas não conseguia responder ao simples "oii" que o amigo tinha mandado há uma semana como uma última tentativa de contato.

A princípio, ele não respondia às mensagens pelo medo de acabar destruindo ainda mais a amizade que tinham, mas quando percebeu que o fato de não responder era justamente o que desmoronaria tudo, já fazia muito tempo desde a última mensagem para ele responder como se nada tivesse acontecido.

Essas semanas na escolas estavam sendo as piores, quase tão horríveis quanto a época em que era o aluno novo. Chegava e permanecia com a cabeça baixa o tempo todo, para evitar ao extremo que acidentalmente seu olhar se encontrasse com o de Masaichi durante a aula. Já no intervalo, corria para o banheiro e ficava trancado em uma das cabines durante a meia hora mais longa de sua vida.

A situação não melhorava muito quando chegava em casa. Ao entrar em seu quarto, Alfred prontamente saía do amontoado de cobertas para recebê-lo esfregando-se em suas pernas e depois olhava para a porta como se estivesse procurando por mais alguém.

O gato sempre foi uma ótima companhia, mas ultimamente tinha se transformado em um lembrete físico do que ele precisava fazer.

Touya sabia que desta vez ele teria de dar o primeiro passo, até mesmo o animalzinho parecia saber disso, e apenas com um olhar ele cobrava uma atitude do menino a todo momento.

— O que eu faço, Alfred? — Perguntou encostando sua testa na cabeça do bichinho e acariciando suas orelhas.

Como se tivesse entendido o pedido de ajuda de Touya, o felino se desvencilhou de seus afagos e caminhou graciosamente até um canto do quarto. Touya também foi até o local e lá encontrou Alfred aninhando-se sob uma jaqueta preta.

Ela era de Toshio. Touya sempre achou aquele tipo de roupa cafona, mas quando o amigo apareceu usando aqueles trajes pela primeira vez, Touya não ficou incomodado, ao contrário, ele chegava a achar estranho o quanto o estilo combinava perfeitamente com ele.

Touya apanhou a jaqueta do chão, ganhando um miado de reprovação de Alfred. Masaichi provavelmente a teria esquecido enquanto se arrumavam para a festa de algumas semanas atrás. O cheiro do perfume de Toshio emanava fracamente do tecido, aumentando ainda mais a saudade que Touya tinha dele.

Masaichi com certeza estaria sentindo falta de sua jaqueta e isso dava a Touya a desculpa perfeita que procurava.

Agora estava ali, encarando do outro lado da rua a porta da frente da casa do amigo. Tentava ficar repassando o discurso em sua cabeça do que diria, mas então se lembrava de que não tinha um, sempre foi péssimo com discursos. Pensou em desistir diversas vezes, até começava a refazer o caminho para casa, porém acabava voltando a ficar parado no mesmo lugar de antes. Quanto mais o tempo passava, mais ele pensava que os outros moradores da rua pudessem pensar que ele era algum tipo de stalker.

É só o Toshio, Touya, seu melhor amigo... que você beijou... e acabou gostando... e talvez queira beijar de novo...

Seus pensamentos não eram o melhor lugar para habitar no momento. Então, ele sacudiu a cabeça e respirou fundo, encarou a porta de madeira escura e caminhou até lá com toda a determinação que havia juntado. Não podia ficar enrolando por muito mais tempo, pois tudo indicava que a qualquer momento poderia começar a chover.

Parou em frente a entrada e deu três toques na porta, sentiu-se aliviado quando a mãe de Toshio atendeu, pois segundos antes dela abrir a porta, ele percebeu que não estava pronto para encarar o amigo ainda.

— Olá, querido, que bom ver você — o sorriso dela era amigável, mas o nervosismo dele o impedia de pensar em uma resposta rápida. — Como posso te ajudar?

Ao longo dos anos - TodoBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora